sábado, 20 de novembro de 2010

CIMEIRA NATO - LISBOA 2010 (M438-42PM/2010)


Apesar do aparato mediático, de segurança e alarido geral criado no país pelo advento da cimeira NATO a realizar no fim-de-semana corrente em Lisboa, na prática as perspectivas dessa cimeira estavam um pouco à imagem da meteorologia quando começaram a chegar os aviões com os líderes dos países participantes: cinzenta.
A NATO enfrenta, desde o fim da Guerra Fria, uma crise de identidade por falta de um inimigo sólido e definido que justifique a sua existência e marque a sua estratégia.
O mundo mudou muito desde 1949 e mudou especialmente rápido nos últimos 20 anos em termos geopolíticos, de mentalidades e das ameaças que podem por em perigo as democracias ocidentais.
A redefinição e nomeação dessas ameaças foi por isso um dos pontos da cimeira: estados com capacidade para criar mísseis balísticos, ameaças terroristas, estados que possam representar perigos ambientais, ameaças informáticas. Destas, apenas a primeira parece ser vencível pela lei das armas a que estávamos (e a NATO também) habituados.

Curiosamente, acabou por falar-se mais do que também noutros tempos, de economia, dando a ideia que mais do que uma aliança militar, a NATO é, agora, o braço armado de países com os mesmos interesses económicos.
É também difícil de contornar a ideia de que a NATO, que foi criada como uma aliança defensiva, se tornou agora numa aliança ofensiva, ideia veiculada principalmente por forças políticas de esquerda, tradicionalmente antagonistas da Aliança Atlântica, mas que ganha cada vez mais força, face à evidência das últimas actuações, nomeadamente na antiga Jugoslávia e Afeganistão.
Pode a mentalidade ocidental e principalmente a europeia coexistir com este conceito? A Cimeira de Lisboa infelizmente parece não ter aclarado estes pontos, apesar dos muitos esforços feitos pelos participantes e pelo seu presidente.
Salvaguardando a NATO, e mais do que todas as redefinições de conceito, está principalmente o espectro do vazio de poder que a sua ausência causaria, embora não capitalizado nas palavras do texto que resume a nova estratégia para a Aliança.

Como consequência das indefinições actuais em termos de segurança, está em curso a reestruturação organizacional e financeira da NATO, que é o espelho dos cortes orçamentais perpetrados em cada um dos países integrantes, cujos governos vêem a Defesa como "fácil" e apetecível fonte de receitas em tempos de crise económica (e cá estamos outra vez a falar de economia) e cujos povos atribuem cada vez menos importância. Curiosamente, os mesmos povos ocidentais que actualmente acham politicamente incorrecto falar de Defesa e de guerra, são os mesmos que criticam e depõem os seus governos se os seus interesses e comodidades não forem defendidos, numa hipocrisia à qual nenhuma força política parece ser imune.

De relevo para a história, parece apenas ficar o gigante "piscar de olho" à Rússia, através da sua inclusão no programa de escudo anti-míssil e haverá que aguardar para perceber ao certo como isso vai acontecer, uma vez que os EUA não são propriamente conhecidos por ceder tecnologia de ponta a aliados, quanto mais a velhos inimigos. Há que ver para crer.

Independentemente de todas as indefinições existentes, o mundo continua a não ser um lugar seguro e as sociedades democráticas têm o direito a preservar o seu estilo de vida e respectivas liberdades. A linha onde o poder bélico deixa de servir bens imateriais e começa a servir os bens materiais é ,no entanto, muito difusa e sujeita a atropelos mascarados de boas intenções. Sempre assim foi e sempre há-de ser.

Apesar da meteorologia ter melhorado ao longo do fim-de-semana, a NATO continua num lugar cinzento.



NOTA: Agradecimento especial ao Álvaro Gonçalves pela cedência das fotos publicadas e que terá novo destaque no blogue Porta de Embarque 04 com várias outras fotos de aviação captadas durante a cimeira.

5 Comentários:

António Luís disse...

Uma muito lúcida reflexão!

Anónimo disse...

Apenas um complemento. A NATO é uma aliança Política e Militar e não apenas Militar como muitas vezes se transmite.

Anónimo disse...

Gostei do artigo de opinião.
Lúcido e bem escrito.
J.Marques

Pedro M. S. disse...

Concordo com os comentários anteriores!
Um excelente texto que retrata de forma clara o que é a NATO hoje em dia, melhor do que alguns textos escritos por ditos especialistas.
Parabéns ao Pássaro de Ferro!

Paulo Mata disse...

Muito obrigado pela adenda e comentários.
Cumprimentos a todos.

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