segunda-feira, 21 de outubro de 2024

AVENTURAS E DESVENTURAS DE UM INSTRUTOR DA RAF - Episódio II [M2561 - 85/2024]

RAF Valley proporciona espaço aéreo relativamente desimpedido, fácil acesso a zonas marítimas e vários locais para treinar o voo a baixa altitude.  

Ver Episódio 1

 RAF Valley, Anglesey, País de Gales, Outono de 1973 (Episódio 2)

“Após voar no Folland Gnat durante 3 meses transitei para o Hawker Hunter durante o Outono.  Nessa altura tínhamos no esquadrão 20 aviões e 12 instrutores.  Apesar de ter, em termos gerais, o mesmo desempenho que o Gnat, o Hunter era 50% maior e pesava o dobro, por volta de 9500kg.  O Gnat tinha sido desenhado como avião de treino avançado com (para o seu tempo) instrumentação moderna.  Tinha um sistema de controlo complexo, não perdoava erros e o instrutor, no assento traseiro, não tinha praticamente nenhuma visibilidade.  O Hunter, por outro lado, era um avião muito mais dócil e honesto de pilotar.  Em Valley dispúnhamos de cerca de doze T.7 (bilugar) e oito F.6.  O Hunter era a plataforma ideal para treinar pilotos estrangeiros; a configuração “lado-a-lado” dos assentos era ideal para lidar com dificuldades de comunicação e, além disso, muitas Forças Aéreas operavam-no como avião de primeira linha.  Um grande número de pilotos da RAF também treinava no Hunter, eventualmente chegaram a representar 40% das horas de voo do nosso esquadrão.”

“Circulava uma história, provavelmente apócrifa, sobre um instrutor veterano (e já com pouca paciência).  Supostamente, um dia, um dos seus alunos fez uma aproximação para aterrar completamente falhada.  Na sua inocência o aluno sugeriu;

- Se calhar é melhor dar a volta e tentar de novo, sir?

Do alto de toda a sua diplomacia, o instrutor respondeu;

- Não, que se fo**!  Vai em frente e espeta com o avião!

Bem, num dos meus primeiros voos de instrução no Hunter aconteceu-me algo similar.  O meu aluno fez-se á pista completamente torto, desnivelado e com demasiada velocidade.  Ele virou-se para mim e perguntou;

- Dou a volta, sir?

Simplesmente não resisti...  Ele ficou silencioso durante um minuto e quando olhei de lado para a cara dele notei que ainda estava chateado.  Tentei encorajá-lo durante o resto do voo e até pedi-lhe desculpa directamente.  Continuamos a voar juntos mas a nossa relação manteve-se sempre tensa.”

O Hawker Hunter T.7 é relembrado como um verdadeiro deleite de pilotagem – algumas más línguas até dirão que era um pouco dócil “demais” para ser um eficaz instrumento de treino.  O esquema de cor em branco e vermelho era especialmente atraente.

“Quando se aproximou a época dos shows aéreos e acrobacias de 1974 foram pedidos “voluntários” para representar a nossa base, RAF Valley.  Quatro pilotos dos Gnat chagaram-se á frente e, para o Hunter, foram nomeados o Tenente Ron Pattinson e… eu.  O Ron já tinha experiência nestas andanças – aliás, já tinha liderado uma equipa acrobática nos Jet Provost.  Para mim seria a primeira vez neste “mundo acrobático” mas pensei que não deveria ser muito complicado.  Depois de pensar numa sequência de manobras, que durariam entre 5 a 6 minutos, o próximo passo foi demonstrá-las com o Comandante do Esquadrão sentado ao meu lado.  O meu “número” começava com uma entrada ultra-baixa a alta velocidade, a cerca de 1100km/h, coisa que o Gnat não conseguia fazer.  A esta velocidade o Hunter era silencioso para os espectadores no solo até ao preciso momento que surgia sobre as suas cabeças, e a seguir, claro, fazia um terrível estrondo.  Depois executava uma manobra externa; começava invertido e empurrava o nariz para cima num ângulo de 60º até atingir 900 metros, nivelava, e a seguir mergulhava na direcção oposta – uma espécie de “oito” horizontal.  Depois dos treinos foi-me dito que o Ron seria provavelmente o escolhido, as manobras dele eram mais suaves e encadeadas enquanto as minhas eram um pouco… brutais.  De facto, no final dos treinos, os meus olhos ficavam completamente vermelhos e o médico da base avisou-me sobre os efeitos dos intensos “G”s negativos;

- Olha, sabes que deves ter um número similar de vasos sanguíneos arrebentados nessa coisa aí em cima que tu chamas de cérebro?…

Se calhar até foi pelo melhor o Ron ter sido escolhido para representar o Hunter nas acrobacias.” 

Belíssima foto de uma linha perfeita de Hunters T.7 e F.6 em Valley (curiosamente, o T.7 da foto anterior (nº 84 no nariz) é o quarto avião a contar de cima) a serem preparados para mais uma jornada de instrução.   

“Outro episódio “excitante” ocorreu quando, uma vez, pedi a um aluno que me mostrasse as suas habilidades acrobáticas.  Ele disse que ia começar com uma rotação vertical.  Assim, a cerca de 3000m acelerou e puxou o Hunter numa subida pronunciada e com uso adequado do aileron fez uma elegante rotação (roll).  Tudo porreiro.  Quando chegamos ao topo da manobra ele anunciou que ia repetir o mesmo movimento mas no sentido descendente – talvez por uma questão de simetria, digo eu.  Claro que a descer o avião ganha velocidade de forma alarmante e, se fosse eu a fazer a manobra, cortava de imediato a potência e accionava o travão aerodinâmico mas o rapazola ao meu lado simplesmente mergulhou com o acelerador totalmente aberto e com o indicador de velocidade a rodar furiosamente.  Só então começou a executar a sua rotação com toda a calma.  Em poucos segundos estávamos a mergulhar na vertical a mais de 900km/h e a perder altitude ao mesmo ritmo – ainda com a potência no máximo.  Ele estava determinado em fazer a rotação e cheguei á conclusão que, se eu nada fizesse, íamos deixar uma cratera nova algures nos campos do País de Gales.  Disse-lhe bruscamente que ia assumir o controlo, parei a rotação, cortei o motor, accionei o travão e saí do mergulho com toda a força.  Durante uns instantes o Hunter estrebuchou e pensei que “já ia tarde” mas o travão começou a morder e consegui nivelar por volta dos 300 metros de altitude.  Foi por pouco.  Fiquei surpreendido pela falta de percepção deste aluno, era a primeira vez que voávamos juntos, e quando falamos sobre o que aconteceu explicou que só tinha experiência em helicópteros.  Disse-me também que nunca tinha feito aquela manobra “a descer” mas assumiu que seria igual á manobra no sentido ascendente…  Hummmm….

Claro que nem todos os alunos estavam decididos em espalhar restos de aviões pelas belas paisagens Galesas e, em meados de 1974, eu estava bem acomodado, e a gostar bastante, do meu trabalho como instrutor.  Mas, passados uns meses, fui convidado para comandar a secção de navegação e depois de me certificar como PNI (Pilot Nav Instructor) comecei a treinar alunos em navegação a baixa altitude – mas isso é história para outro dia…” 

Texto e seleção de imagens: Icterio
Edição: Pássaro de Ferro


sábado, 19 de outubro de 2024

Fundación Aeronáutica António Quintana [M2560 - 84/2024]


Tenho para mim que, de que há poucos anos para cá, talvez desde o Caretos Air Show de 2018, temos assistido a diversos eventos aeronáuticos que tem contado com a participação da Fundación Aeronáutica António Quintana (FAAQ), que se tem exibido com alguns aparelhos do seu acervo, nomeadamente os Bird Dog e o FTB-337G, em especial este último, que é muito querido ao autor pelo facto de o seu baptismo de voo ter sido num dos “Puxa-Empurra” da Esquadra 702, os “Indomáveis do Norte”, no recuado ano de 1989!
Em oportunidade de uma ida com um grupo de amigos a Espanha para comprar caramelos “el Avión” (what else?), tece o autor algumas linhas polvilhadas de umas quantas imagens, acerca desta instituição, sendo as últimas resultado de uma visita às suas instalações.

 

Fundación Aeronáutica António Quintana

A Fundación Aeronáutica António Quintana, é constituída a 16 de Março de 2010, tendo por objectivos a salvaguarda e expansão do património aeronáutico, difundindo a cultura, a ciência, a tecnologia e a história da aeronáutica. A preservação e a manutenção de todo o seu acervo aeronáutico, permitindo o acesso ao mesmo quer o acervo estático quer o acervo em voo.  Colaborar com todas as entidades, públicas ou privadas, criando sinergias na recuperação e manutenção do património aeronáutico histórico, nomeadamente as suas aeronaves. 
Neste sentido a FAAQ promove, não só a conservação, manutenção e restauro de todo o acervo, seja ele aviões, objectos aeronáuticos históricos, objectos técnico-científicos, que lhe seja cedido,  ou esteja em processo de cedência à Fundação.
A FAAQ desenvolve também diversas actividades culturais ou pedagógicas, como a divulgação da história, da ciência e das técnicas aeronáuticas, através de seminários, cursos, conferências, exposições, publicações, revistas, etc.



António Quintana

Nascido em Vigo, a 16 de Janeiro de 1955, António Quintana Pereira, desenvolveu a sua carreira como como piloto profissional, contando com inúmeras valências, piloto comercial, instructor de voo, piloto de acrobacia e de voo à vela, bem como de parapente e paramotor.
Faleceu precocemente com apenas 53 anos, a 31 de Março de 2008, deixando para trás um legado muito significativo na aviação desportiva espanhola, distinguindo-se por ter sido o delegado espanhol na Comissão do Voo Acrobático da Federação Aeronáutica Internacional (FAI) que levou a cabo o complexo processo de transformação e melhoria dos desportos aéreos em Espanha, fazendo com que Espanha participasse nas várias modalidades desportivas no plano internacional, trazendo com isso o seu reconhecimento e prestígio.
Destacou-se também na organização de diversos eventos internacionais que se realizaram em Espanha, como conferências e campeonatos do mundo, como o de paraquedismo, voo acrobático, voo de ultraligeiros.
Era amigo pessoal de muitos dos membros originais da FAAQ, que entenderam desta forma perpectuar o seu nome.

Um dos elementos mais importantes da FAAQ, a sua mascote "Moth", parece guardar a porta do hangar, que está aberta,
em dia de exibição aérea da FIO, para receber os sócios para assistir. 


A frota

A frota actual é composta por doze aparelhos, estando dois em restauro, acrescendo a estes a recepção recente de quatro helicópteros, dos mais se pretende colocar dois em estado de voo. Todos os aparelhos da colecção tem histórias para contar e são alguns deles únicos em estado de voo no mundo. 
A sua base de operações é o aeroporto de Cuatro Vientos, na periferia de Madrid, e compreende um hangar onde são recolhidos os aparelhos e efectuadas as suas manutenções, num hangar que quase passa despercebido mas que encerra uma colecção ímpar. Como museu vivo que é, o trabalho não pára, não se ficando por operar os aparelhos que já conhecemos e fazer a sua manutenção, há projectos de aquisição de outros aparelhos para aumentar à colecção que irá, num tempo que se deseja próximo ver alargada a colecção mas também as suas instalações.
Ainda que não seja para já um museu de porta aberta, a Fundação não fecha a porta a ninguém que os queira visitar, como aliás aconteceu com a visita efectuada a 5 de Outubro, visita que foi guiada pelo José Olias, Presidente da FAAQ, que nos orientou por aquele mundo mágico, contando-nos as histórias de cada avião, a sua valia histórica, bem como todo o trabalho desenvolvido e a desenvolver.

Por cá os veremos por certo, durante o ano que vem, num dos muitos festivais aéreos!


Rui “A-7” Ferreira
Entusiasta de Aviação
Fotos: Rui Ferreira e Pedro "Puga" Oliveira

Nota: Por opção própria, o autor não escreve sob o actual acordo ortográfico.

Agradecimentos: José Rocha, Carlos Tomás, e em especial ao José Olias, Presidente da FAAQ, por toda a disponibilidade. 

Fontes - www.faaq.es


Algumas fotos de um dos FTB-337G (exFAP) durante a exibição a 
solo no Dunas Air Show, em Agosto de 2022,
 

Aspecto da zona menos informal do hangar, com um néon 
alusivo à "Tokio Rose", por baixo da "bandeira proibida".

AISA I-11B "Peque" de registo EC-BUR (exEdA HE.78-18)

Piper L-14 de registo EC-AAP (exUSAAF 45-55531)

Fairchild W-24 de registo EC-AJZ

CASA 1.131E (Bücker Jungmann) de registo EC-FSG (exEdA E.3B-534)

Reims-Cessna FTB-337G de registo EC-MYM (exFAP 13723)

Piper PA-32-300 Cherokee Six de registo EC-BMO, e em fundo o 
Reims-Cessna FTB-337G de registo EC-IPL (exFAP 13719)

Beech F.33A de registo EC-FZS (exEdA E.24B-33)

Cessna O-1E Birdog de registo EC-MAB (exExército Italiano MM61-2992)

Bell OH-13H de registo EC-DZJ (s/n 65-13009, exFAMET HE.7B-29)







quinta-feira, 17 de outubro de 2024

MINISTÉRIO DA DEFESA AUTORIZA COMPRA DE HELICÓPTEROS PARA O EXÉRCITO [M2559– 83/2024]

Não se sabe para já se o modelo a adquirir já está escolhido, ou se a aquisição será por concurso aberto
 

O Ministério da Defesa publicou hoje, 17 de outubro de 2024, um Despacho que autoriza o Exército Português a realizar "despesa com a aquisição de meios de asa rotativa, formação, componentes e sustentação".

Esta parece ser finalmente a execução do programa «Helicópteros de Apoio, Proteção e Evacuação (HAPE)", e que conta com uma dotação orçamental de cerca de 40,9M EUR, faseada entre 2024 e 2029, proveniente da Lei de Programação Militar.

O documento define que as aeronaves que venham a dotar o Sistema de Forças "deverão ser médias e de natureza multitarefa (multirole), com capacidade de serem armadas para operações de apoio, proteção e evacuação de Forças Terrestres, mas igualmente aptas para emprego em missões de Apoio Militar a Emergências Civis (AMEC), numa perspetiva de duplo uso". Do documento não consta contudo, o número de aeronaves a adquirir nem os moldes da aquisição.

Aguardemos mais desenvolvimentos.






sexta-feira, 11 de outubro de 2024

CONCURSO PARA SUBSTITUTO DO CHIPMUNK NA FAP JÁ A DECORRER [M2558– 82/2024]

Chipmunk Mk.20 com a pintura azul comemorativa dos 70 anos de serviço, em formação com outro na última versão da pintura standard da frota, após a modernização na década de 1990
 

Pouco tempo depois de ter sido publicado em Diário da República a autorização para realizar a despesa com a aquisição de aeronaves novas para instrução elementar, por parte da Força Aérea Portuguesa (FAP), o concurso foi já lançado na plataforma eletrónica acinGov no dia 4 do corrente mês de outubro, com prazo de 30 dias para entrega das propostas, a um preço base de cerca de 7,32M EUR.

No caderno de encargos pode por isso ler-se que o objeto da aquisição serão "sete Aeronaves de Instrução Elementar, de asa fixa, na condição “Novo de Fábrica”, incluindo sistemas de treino sintéticos e demais bens e serviços", com um prazo de execução do contrato de 70 meses.

Na prática, os sistemas de treino sintéticos e demais bens e serviços traduzem-se em dois simuladores de voo, um sistema de treino por computador, seis dispositivos de treino por realidade virtual e seis sistemas de planeamento de missão e debriefing. Está ainda contemplada a formação inicial de seis instrutores e até 21 mecânicos e pessoal de terra e provisões de material durante cinco anos, documentação e apoio técnico.

A adjudicação será feita à proposta que tiver o melhor resultado na fórmula que valora o preço total a 90% e vinte requisitos técnicos e logísticos, com diferentes graus de ponderação para os restantes 10%.

Depois de 4 de novembro de 2024 será por isso conhecido o sucessor do Chipmunk, depois de mais de sete décadas a servir nas cores portuguesas.




domingo, 6 de outubro de 2024

UE E DE HAVILLAND CANADA FECHAM ACORDO DOS NOVOS CANADAIR [M2557– 81/2024]

Ilustração: DHC

A De Havilland Canada anunciou  a conclusão das negociações contratuais com os líderes da Comissão Europeia, do Governo do Canadá e de Estados-Membros da UE, para a produção de 22 novos aviões bombardeiros de combate a incêndios anfíbios.

Na sexta-feira 4 de outubro em Bruxelas, a De Havilland Canada apresentou simbolicamente ao Comissário da União EEuropeia, Janez Lenarčič, uma miniatura da aeronave nas cores do programa RescEU, bem como aos representantes dos Estados-Membros da UE, reunidos para assinalar a ocasião e assinalar o encerramento do processo de negociação do contrato.

Apresentação da De Havilland Canada em Bruxelas     Foto: DHC

Como parte do evento, a De Havilland Canada anunciou também que o nome do DHC-515 será alterado para refletir a história e o sentimento incontornável em relação nome “Canadair” na Europa.

“Quando as pessoas estão perto de um incêndio florestal na Europa, perguntam quando é que os Canadairs vêm ajudar a proteger a sua comunidade”, disse o CEO da De Havilland Canadá, Brian Chafe. “Hoje, estamos a reconhecer o historial de serviço da frota Canadair ao renomear a aeronave como ‘De Havilland Canadair 515’.”

Na verdade, o programa Canadair, passou de mãos por várias vezes nas últimas décadas, primeiro com a aquisição pela Bombardier, depois pela Viking Air, até ser finalmente incorporado na De Havilland Canada, que optou agora por valorizar, desta forma, a designação inicial e mais popular "Canadair".

A De Havilland Canada lançou ainda um vídeo que descreve o estado atual de produção da aeronave, bem como uma imagem do novo modelo nas cores do Programa RescEU da União Europeia.

“Para a nossa empresa, hoje é um grande dia, pois marca o fim da discussão e o início da produção a alta velocidade”, disse Chafe. “Mas o verdadeiro trabalho está apenas a começar. Os países europeus depositaram a sua confiança na De Havilland Canada e cabe-nos a todos entregar-lhes as aeronaves a tempo.”

Dos Canadair 515 objeto do presente contrato, dois serão fornecidos à Força Aérea Portuguesa, que os irá receber durante o biénio 2029/30, através de acordo assinado a 18 de julho pretérito, que incluirá formação, infraestruturação e equipamentos, no âmbito do programa de edificação da capacitação própria do Estado Português, no combate aos incêndios florestais. A UE comparticipará a aquisição das duas aeronaves portuguesas com 100M EUR, sendo os restantes 11,8M EUR provenientes de verbas do orçamento próprio da Força Aérea.




quinta-feira, 3 de outubro de 2024

PARELHA DE HELICÓPTEROS LYNX DA MARINHA, NO OEIRAS AIR SHOW [M2556– 80/2024]


Decorreu no passado fim de semana - 28 e 29 de setembro - o "Oeiras Air Show", anunciado com um dos maiores eventos aeronáuticos da Europa.
O Pássaro de Ferro apresenta um breve resumo fotográfico que incide na exibição da dupla de helicópteros Lynx da Marinha Portuguesa.






Fotografia: Paulo Fernandes/One Shoot Land



segunda-feira, 30 de setembro de 2024

F-16 PORTUGUESES NA GRÉCIA NO NOVO EXERCÍCIO NATO - Ramstein Flag 24 [M2535 – 79/2024]

Destacamento de cinco F-16AM das Esquadras 201 e 301 da Força Aérea Portuguesa   Foto: FAP

Tal como o Pássaro de Ferro oportunamente noticiou, a Força Aérea Portuguesa (FAP) participa no primeiro exercício  Ramstein Flag, da responsabilidade do Comando Aéreo Aliado, que irá desenrolar-se na Grécia, entre 30 de setembro e 10 de outubro de 2024.

Ramstein Flag é o mais recente exercício da NATO construído com base na teoria e na doutrina, para proporcionar um exercício sofisticado com operações ao vivo de nível tático multidomínio, incluindo uma série de problemas realistas, integrados num ambiente operacional complexo.

O principal objetivo do Ramstein Flag 24 é fortalecer a cooperação, interoperabilidade e integração e demonstrar a determinação, compromisso e capacidade da NATO para dissuadir potenciais adversários e defender a Aliança Atlântica, no ano em que se celebra o seu 75º aniversário.

A FAP destacou por isso na base aérea de Andravida, cinco F-16AM (15103, 07, 08, 12 e 42 ) das Esquadras 201 e 301 que, conjuntamente com mais de 140 aeronaves aliadas de combate e de apoio, com forças Marítimas, Terrestres e de Operações Especiais, executarão componentes integrais do Poder Aéreo Conjunto. Combinando o ambiente de treino sintético, no Ramstein Flag a Aliança Atlântica irá exercitar táticas, técnicas e procedimentos de Negação de Acesso/Negação de Área (C-A2/AD) e Defesa Aérea e de Mísseis Integrada (IAMD). As medidas de C-A2/AD para neutralizar a arquitetura militar adversária para dissuadir enquanto degradam a capacidade do adversário, terão especial foco, durante o  Ramstein Flag 24.

"À medida que as tensões geopolíticas continuam a evoluir, também deve evoluir o planeamento dos exercícios da NATO. O Ramstein Flag significa o futuro dos exercícios da NATO, focando-se nas ameaças atuais e futuras," disse o General James B. Hecker, comandante do Comando Aéreo Aliado.

O planeamento do RAFL24 também permitirá que as nações da NATO executem estratégias IAMD e Defesa contra Mísseis Balísticos (BMD). Uma capacidade altamente responsiva, robusta e crítica em termos de tempo e persistente, que garante que a NATO protege populações, territórios e forças contra quaisquer ameaças de mísseis balísticos.

"O exercício Ramstein Flag significa o futuro dos exercícios da NATO, focando-se nas ameaças atuais e futuras," disse o General James B. Hecker, Comandante do Comando Aéreo Aliado. "Executaremos táticas ainda mais aprimoradas, com uma integração mais robusta, levando a uma dissuasão mais forte," acrescentou.

O destacamento português teve o apoio de um KC-390 da Esquadra 506 - Rinocerontes, na projeção de pessoal e equipamento para território grego, no decorrer da semana passada.

Voo do KC-390 n/c 26902 no passado dia 24 de setembro até a base aérea de Andravida  Imagem: ADSB











domingo, 29 de setembro de 2024

HELICÓPTEROS BLACK HAWK DA FAP - Entrevista com CEO da ACE Aeronautics [M2534 – 78/2024]

UH-60A Black Hawk da Esquadra 551 da Força Aérea Portuguesa

A ACE Aeronautics venceu recentemente o concurso para o fornecimento de três helicópteros médios, adicionais aos seis adquiridos pelo Estado Português à Arista, que terão como missão primária o combate a incêndios florestais.

A ACE esteve contudo já envolvida no processo de modernização das seis células UH-60A Black Hawk adquiridas em 2022, nomeadamente nos trabalhos de modernização das células e instalação do moderno flight deck integrado Ace Deck G5000H.

As três células objeto deste segundo contrato são originalmente do modelo UH-60L, o que significa que a Força Aérea Portuguesa (FAP) irá operar estes dois modelos inicialmente diferentes. Motivo por isso para uma conversa com Rich Enderle (RE), presidente da ACE Aeronautics, com a revista online The Way of the Warrior (W), e que aqui hoje transcrevemos:

W: Sabemos que estes três helicópteros Black Hawk têm algumas diferenças em relação aos seis anteriores que a Força Aérea Portuguesa comprou à Arista Aviation. Pode explicar-nos as principais diferenças?

RE: "Os helicópteros anteriores eram aeronaves UH-60A, que possuem motores T700-GE-700 e uma caixa de transmissão padrão, o que lhes dá um limite de carga de gancho externo de 8000 libras [cerca de 3600 kg]. As novas aeronaves serão UH-60L, que passaram por uma remodelação completa no Depósito do Exército [dos EUA] em Corpus Christi, possuem motores T700-GE-701C/D e uma caixa de transmissão com durabilidade melhorada, que aumenta o peso bruto total da aeronave e o limite de carga do gancho para 9000 libras [cerca de 4000 kg]. Também estarão equipados com um radar meteorológico e provisão para um guincho externo."

W: O que significa este contrato para a Ace Aeronautics?

RE: "A Ace Aeronautics tem orgulho de ter vencido este concurso da FAP para fornecer as próximas três aeronaves para expandir a sua frota. Esta seleção prova que a nossa disponibilidade para ir mais além e tornar-se um parceiro de longo prazo da FAP, é o que torna a Ace Aeronautics especial."

W: O ACE Deck Garmin 5000 é uma grande atualização para estes helicópteros. Há até quem o considere muito superior ao cockpit digital atual do Exército dos EUA. Quais são as principais vantagens de usar este cockpit? E como vê a evolução deste cockpit num futuro próximo?

RE: "As principais vantagens do ACE DECK estão na área das aproximações IFR-certificadas GPS ILS-equivalentes, que o cockpit do Exército dos EUA não pode fazer; segurança, facilidade de uso, arquitetura aberta para adicionar novas capacidades e suporte a longo prazo. A Ace continuará a evoluir o núcleo do ACE DECK, tendo em mente que nem todos os clientes querem os recursos mais premium que poderíamos oferecer. Esta abordagem de 'ACE DECK base certificado + opções personalizadas' permite-nos oferecer uma resposta com melhor valor a todos os clientes, com soluções para clientes que têm requisitos únicos."


W: O número de países da NATO e aliados que usam o UH-60 está a aumentar todos os anos, e no lado civil vemos a mesma coisa. Gostaríamos de saber a sua opinião sobre o ponto logístico do UH-60. Quão vantajosas serão as aquisições passadas de seis e estes três novos UH-60 para a FAP?

RE: "O UH-60 Black Hawk é uma plataforma multifunções comprovada, que está a demonstrar as suas capacidades tanto no lado governamental como no civil. Com a alienação pelo Exército dos EUA, há uma grande quantidade de aeronaves que foram ou serão vendidas e colocadas em operação e também haverá aeronaves que serão desmanteladas para peças, para sustentar a frota operacional. As peças de ambos os modelos são na sua maioria intercambiáveis, exceto os motores atualizados e a transmissão melhorada no 60L."


Stock de células UH-60 Black Hawk da ACE Aeronautics    Fotos: ACE Aeronautics

W: Pelo que entendemos, tem uma vasta experiência a voar esta aeronave. Pode contar-nos um pouco sobre a sua carreira no Exército dos EUA e a sua experiência pessoal com o UH-60?

RE: "Depois de me formar no Curso de Aviador de Asas Rotativas do Exército dos EUA em 1980, frequentei o curso de transição UH-60 em 1982. Fui então selecionado para frequentar o Curso de Piloto de Testes da Manutenção do Exército mais tarde, nesse mesmo ano. Voei vários modelos do UH-60 (UH-60A, UH-60A+, UH-60L e MH-60L) durante os 27 anos seguintes, até à minha reforma em 2007. Operei a aeronave em numerosas operações de combate, enquanto membro do 160º Regimento de Aviação de Operações Especiais. Na minha última missão como Comandante da Brigada de Logística do Centro de Aviação, fui responsável por uma frota de 85 aeronaves UH-60A/L que lançávamos três vezes por dia, para apoiar o treino diurno e noturno, dos futuros aviadores do Exército."

W: Este é um helicóptero muito conhecido pelo seu uso em Operações Especiais. Por que é que é o favorito destas unidades?

RE: "É uma aeronave multifunções testada em combate, que tem a redundância necessária para suportar uma gama completa de operações de combate, incluindo operações armadas, de assalto e a bordo de navios."

W: Estes helicópteros foram comprados principalmente para situações de combate a incêndios e emergências nacionais, em que os militares estarão envolvidos. Mas quão rapidamente poderiam ser equipados para operações de combate completas?

RE: "A aeronave pode ser rapidamente adaptada para operações de combate. Existem inúmeros kits disponíveis hoje em dia, que fornecem armamento, bem como proteção balística."


Kit de armamento aplicado num UH-60A da Ace Aeronautics       Fotos: Ken-Swartz/ACE

W: Uma situação que ocorreu este ano foram incêndios florestais na ilha da Madeira, com alguma dificuldade em mobilizar helicópteros adicionais. Sabendo que estes não são helicópteros totalmente marítimos, mas também que o Exército dos EUA os usa muito em operações a bordo de navios, poderia a FAP destacá-los em navios portugueses ou aliados, em caso de necessidade, sem danificar as aeronaves?

RE: "Absolutamente, esta aeronave é extremamente capaz de realizar operações sobre a água e existem procedimentos de manutenção em vigor para garantir a continuidade da aeronavegabilidade, com a exposição às operações em água salgada."

UH-60 dos Exército dos EUA a operar no navio da US Navy USS Billings   Foto: Justin Hovarter/US Navy

W: Temos visto grandes programas futuristas com o UH-60, incluindo até aeronaves não tripuladas. Quais são as suas expectativas em relação às atualizações do Black Hawk nos EUA nos próximos anos?

RE: "A aeronave continuará a ser um sistema de armas importante por muitos anos. O Exército dos EUA está a assinar um novo contrato plurianual com a Sikorsky Aircraft Company, para aeronaves UH-60M adicionais. O S-70M está a ser usado por bombeiros em todo o mundo, e a alienação do Exército [dos EUA] disponibilizará mais de 400 aeronaves para todo o mundo. Existem também múltiplos movimentos para desenvolver um UH-60 não tripulado, com Fly-By-Wire, mas ainda está em desenvolvimento. A Ace continuará a participar no desenvolvimento de novas formas de sustentar e apoiar a aeronave, independentemente da operação. O futuro é brilhante para esta aeronave."

W: Como é que a Ace Aeronautics vê o seu papel nestas futuras atualizações?

RE: "Estamos focados em apoiar a frota atual e melhorar a aeronave para o futuro, eliminando a obsolescência. Também estamos a focar-nos noutras plataformas e a expandir a nossa presença no mercado de asas rotativas."


Configuração final dos três UH-60L do contrato com a ACE Aeronautics LLC

- UH-60L Black Hawk, remodelados com Inspeção Fase 1 e 2 recentes, inspeção/remodelação de motores pela Mint Turbines, revisão do rotor principal e de cauda com colocação em estado "como novo" pela Aviation Blade Services; pintura customizada

-  Ace Deck G5000H Integrated Flight Deck.

 - Aviónicos de topo  RNAV/RNP(LPV), IFR approach charts georreferenciadas, controlos touch-screen, para consciência situacional  e facilidade de uso aumentadas

 - Comunicações satélite Iridium CONNEXT (voz, email, texto) e dados digitais em voo

 - Radar meteorológico a cores

 - Segurança acrescida com Synthetic Vision Technology™ e HTAWS.

 - Sustentação COTS com o apoio da rede mundial Garmin para sustentabilidade a longo termo e baixo custo do ciclo de vida.





ARTIGOS MAIS VISUALIZADOS

CRÉDITOS

Os textos publicados no Pássaro de Ferro são da autoria e responsabilidade dos seus autores/colaboradores, salvo indicação em contrário.
Só poderão ser usados mediante autorização expressa dos autores e/ou dos administradores.

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | Laundry Detergent Coupons
>