sábado, 10 de dezembro de 2022

VIAGENS, MUSEUS, AVIÕES e BEAUFIGHTERS INTERDICTUS… [Parte 2] [M2365 - 81/2022]




Na sequência do meu escrito anterior, e mais perto do final do ano, visitei pela primeira vez a secção do Museu da Royal Air Force que fica nos arredores de Londres, em Hendon, local onde me desloquei, também aqui, na busca de outro dos nossos Beaufighter.
Instalado em parte das antigas estruturas da base RAF Hendon, mantém um conjunto de estruturas históricas, algumas que remontam ainda ao primeiro aeródromo da cidade, o Hendon Aerodrome, edifício e hangar onde se localiza uma parte da exposição [1].
Todo o conjunto, resultante de fases diferentes do crescimento deste espaço museológico, pretende transmitir a quem visita, não só o testemunho histórico daquele que foi o papel da RAF ao longo da história, desde a Grande Guerra de 1914-1918, cobrindo todas as subsequentes décadas do século XX, rumo a um presente e futuro em que a arma aérea é forçada a estar em contante alteração, reagindo e antecipando até se possível todos vectores que a influenciam sejam eles, políticos, económicos, tecnológicos, ambientais.

Da visita que fiz, aqui também, destaco fotograficamente algumas das aeronaves que me por diversas razões me chamaram à atenção.

“Conhecer a RAF”, é o objectivo desta exposição que versa sobre os últimos 100 anos da Royal Air Force, onde o passado e o presente se misturam.
O primeiro hangar do Museu inclui um conjunto muito vasto de equipamentos interactivos destinado a levar as camadas mais jovens, através de um conjunto de experiências, a despertar interesse nas diferentes áreas de influência da RAF, desde o voo às áreas técnicas da guerra moderna.
O avião de maior dimensão da exposição, um Shorts Sunderland MR.5 que ocupa uma parte muito significativa do hangar. Podendo aceder ao seu interior, pareceu, por breves instantes, que tinha mingado e estava no Portugal dos Pequenitos!
Este exemplar do Sopwith Triplane, o primeiro triplano a ser utilizado operacionalmente na Grande Guerra, foi construído em 1917, mas este que aqui está não voou em combate. É o único original ainda em existência em Inglaterra.
Uma magnífica réplica voável de um Albatros D.Va construída na Nova Zelândia em 2011, utilizando um motor original Mercedes D.III. Representa um dos aparelhos da Jasta 61, operados na frente Oeste em 1918. Voou por diversas vezes na Nova Zelândia e em Inglaterra durante 2012.
Um Royal Aircraft Factory R.E.8 nas cores do 9th Squadron, também ele é uma réplica voável deste avião de reconhecimento e guiamento de peças de artilharia, foi igualmente construído na Nova Zelândia, utilizando algumas peças originais existentes na colecção do museu.
Um Caudron G.3 originalmente da Força Aérea Belga, em tudo semelhante aos que aqui mesmo, em Hendon, voaram Óscar Monteiro Torres, António Sousa Maia e Alberto Lello Portela [1].
O hangar 6 do museu, tem por tema a “RAF na Era da Incerteza”, e cobre os últimos conflitos armados, como a Guerra Fria (1946 - 1991), Falklands (1982), Guerra do Golfo (1990-1991), Balcãs (1991-1999), Afeganistão (2001 – 2014), Iraque (2003-2011), Líbia (2011).
Um Hawker Siddeley Bucanner S.2B da RAF, nas cores da Guerra do Golfo (1990-91), onde participaram integrados na Operation ‘Granby’. Distintivo pela sua camuflagem “desert pink” mas também pelas suas mission markings e “pin up” …
Não sei bem como legendar esta foto … gosto muito de cerveja Guiness?
Este Hawker Siddeley Harrier GR.9A, participou em alguns desses conflitos, como a Guerra do Golfo, e no Afeganistão, para nomear alguns.
No hangar 3, 4 e 5 está uma das partes da coleção que mais gosto, e que integra muitos aparelhos do acervo do período da Segunda Grande Guerra, como este Curtiss Kitty Hawk IV.
Com um restauro ainda longe da conclusão, este Supermarine Southampton I, é já um aparelho impressionante de ver.
O “nosso” Bristol Beaufighter TF.X (reg. RD253; Aeronáutica Naval BF-13), é um de dois com uma história no mínimo curiosa [2], e que era o objectivo, se assim se pode dizer, da minha vinda aqui. No total recebemos 17, operados por um período curto pela nossa Aeronáutica Naval.
O Supermarine Stranraer da colecção do museu, um belíssimo representante de uma época em que os hidroaviões ou os aviões-barco eram muito comuns. Trata-se este de um de 40 aparelhos construídos no Canadá pela Canadian Vickers, e que serviu na Royal Canadian Air Force.


O Sikorsky R -4B / Hoverfly MK.1 foi o primeiro tipo de helicóptero operado pela RAF em meados dos anos 40, até ao início dos anos 50.
Um Westland Belvedere HC.1 foi o único helicóptero de rotor em tandem de construção inglesa, viu serviço operacional entre os finais dos anos 50 e finais dos anos 60.

Um de dois Westland Wessex HCC.4, a versão VIP do HC.2 desenvolvida para o Queen’s Flight. Este [XV732] voou pela primeira vez a 17 de Março de 1969, sendo a sua primeira missão oficial a 1 de Julho de 1969 em apoio à cerimónia de investidura do Principe de Gales, actual Rei Carlos III. Foi retirado de serviço em 1998.

Com mais de 30.000 unidades produzidas, o Messerschmitt Bf109 E-3 foi o caça por excelência da Luftwaffe na Segunda Grande Guerra. Este aparelho [WNr4101/2./JG 51, Schwarze 12] aterrou de emergência na base de RAF Manson a 27 de Novembro de 1940. Foi um dos (muitos) que participou no filme a Batalha de Inglaterra (1969).
O FIAT CR.42 Falco, foi um dos últimos biplanos de caça a ser construído durante a Segunda Grande Guerra. Este aparelho da Regia Aeronautica Italiana integrou o conjunto de forças que a partir da Bélgica efectuaram operações de escolta aos bombardeiros italianos sobre Inglaterra. Este em particular, durante uma operação em Novembro de 1940, efectuou uma aterragem de emergência, por avaria, na praia de Orfordness, em Suffolk. 
Lindíssimo este Messerschmitt Bf-110 G-4 (caça nocturno), com as suas estranhas antenas de radar, foi capturado em 1945 na Dinamarca.
Um dos tipos de aviões que equiparam a Arma de Aeronáutica do Exército Português, este Westland Lysander III, com um esquema de pintura empregue em operações de reconhecimento nocturno ou as “missões especiais”, por detrás do território inimigo.
Pormenor da secção de cabine de um Handley Page Victor K.2, que participou na Guerra do Golfo, ostentando diversas mission markings, e uma pin-up … (suspiro)
Um outro avião que gostei muito de ver ao vivo e a cores foi este De Havilland DH.98 Mosquito B.35, o “Wood Wonder”, fez de tudo um pouco na Segunda Grande Guerra, como caça/bombardeiro nocturno e diurno, avião de ataque em ambiente marítimo, reconhecimento aéreo, entre outras missões.
Surpreendente ver, por todos os espaços do museu, foi não só o movimento de aviões, desmontados aqui e ali, a partir ou a chegar para/de outros lugares, assim como vemos aparelhos, ou partes, da forma como os encontraram algures no tempo e, em restauro, a ser feito no lugar, ou … não.  É o caso deste um Handley Page Halifax B.Mk.II [W1048], que “desapareceu” a 27 de Abril de 1942, durante uma missão de bombardeamento ao couraçado alemão Tirpitz, ancorado na Noruega. Durante a missão é atingido pelo fogo antiaéreo e o piloto consegue efectuar uma aterragem de emergência num lago gelado, salvando-se toda a tripulação. O avião afunda e “desaparece” até que no início dos anos 70 é resgatado do fundo do lago. Está exposto intencionalmente desta forma, desde os finais da mesma década, como tributo às tripulações de bombardeiros da Segunda Grande Guerra.

Quem se lembra do kit da Airfix, o RAF Recovery Set? Também fiz um! Aqui está um à escala 1:1, com um Avro Anson.
Outro peso-pesado da exposição, um Consolidated B-24L Liberator, que ainda viu serviço operacional durante os últimos anos da Segunda Grande Guerra, integrou a Força Aérea da India. Curiosamente, tivesse passado por aqui na semana seguinte, tinha visto um Yokosuka Ohka, um Kawasaki Ki-100, e até um Mitsubishi Ki-46 'Dinah' … ...lá vou eu ter de aqui voltar!
Por fim, deixo-vos com este impressionante Avro Lancaster Mk.I, contou com um registo de 137 missões de bombardeamento! Mas não só, já que depois do conflito participou ainda no repatriamento de prisioneiros de guerra e no apoio com bens alimentares. 



Rui “A-7” Ferreira
Entusiasta de aviação
  

Notas:
[1] – Hendon é um espaço que, também faz parte da história da Aviação Militar Portuguesa, recentemente muito bem escrita pela pena de Augusto Moura, no livro A Aviação Militar Portuguesa durante a 1ª Grande Guerra, da Fronteira do Caos Editores. Nele é referida a ida no início de 1916 para o Reino Unido de alguns militares Lusos para aí frequentarem os seus cursos de pilotagem, elementar e de combate, nas escolas do Royal Flying Corps (RFC). Curiosamente, a primeira fase do curso, elementar, por força da reduzida capacidade de treinar tantos pilotos pelo RFC, tal era o esforço de guerra, foram treinados em Hendon, na Ruffy-Baumann School of Flying onde obtiveram os seus certificados do Royal Aero Club os pilotos: Óscar Monteiro Torres, António Sousa Maia e Alberto Lelo Portela. A fase militar do curso foi ministrada na Escola Militar da RFC no aeródromo de Northolt.

[2] – Este Beaufighter é um de dois que tem uma história muito curiosa, já que tiveram uma permanência de alguns anos no Instituto Superior Técnico em Lisboa e os motores trabalhavam e tudo! Consultar a página dedicada em: 






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