sábado, 20 de dezembro de 2025

NOVA ERA NA FORÇA AÉREA PORTUGUESA - Do Espaço à 6ª Geração

A substituição do F-16 MLU da Força Aérea Portuguesa é um dos temas centrais da modernização da FAP

Em entrevista ao Diário de Notícias publicada na sexta-feira, 19 de dezembro de 2025, o Chefe do Estado-Maior da Força Aérea (CEMFA), General Cartaxo Alves faz um retrato do momento de profunda transformação que se vive no ramo aéreo das Forças Armadas Portuguesa. Ao mesmo tempo, a diretiva de planeamento estratégico para o horizonte 2024-2034 estabelece um roteiro ambicioso que visa elevar Portugal a um novo patamar de autonomia. Este plano integra capacidades espaciais sem precedentes, drones de alta performance e a preparação crítica para a sucessão da frota F-16, consolidando o conceito de poder aeroespacial português.

O Fim da Era F-16 e o Horizonte da 6.ª Geração

Um dos anúncios mais aguardados foi a confirmação de que a decisão sobre a substituição dos F-16M deverá ocorrer durante o ano de 2026. Após mais de 30 anos de serviço, o General alerta que o processo começou tarde, mas que o foco agora é a conectividade total. Para a transição, a FAP planeia uma abordagem em duas fases. Embora o F-35 surja como a escolha natural de 5.ª geração pela sua interoperabilidade na NATO, o General já olha para a 6.ª geração, que introduzirá tecnologias disruptivas como armas de energia dirigida. O Investimento estima-se entre 3000M e 4800M EUR, para a aquisição de 14 a 28 novas aeronaves, a ser enquadrado na Lei de Programação Militar. A quantidade de aeronaves de 5ª geração a adquirir dependerá da participação num programa de 6ª geração. Abre a porta a ter dois caças de gerações diferentes em operação simultaneamente.

Portugal como Potência Espacial: A Constelação do Atlântico

Pela primeira vez, a Força Aérea assume o Espaço como um domínio operacional crítico. O programa espacial, sediado no novo Space Technological Hub em Alverca, prevê lançamentos imediatos, com dois satélites em fevereiro e abril de 2026, totalizando quatro até ao final do ano, para uma capacidade final de oito satélites até 2028 (em parceria com a Finlândia e o programa SAFE da UE). Estes satélites terão por missão a observação da Terra, com radares de abertura sintética (resolução de 25cm) para vigilância militar, controlo de pescas e monitorização ambiental, com capacidade de revisita de apenas 30 minutos.

Drones e a Modernização da Vigilância (ISR)

A experiência colhida nos conflitos internacionais (Ucrânia e Médio Oriente) recentes acelerou a integração de sistemas aéreos não tripulados na estrutura da Força Aérea. Através de parcerias com a indústria nacional, a instituição irá receber dois novos sistemas de vigilância e reconhecimento AR5 da Tekever ainda este ano, de um total de oito, estando paralelamente a decorrer o desenvolvimento de um drone de maior dimensão, com cerca de 20 metros de envergadura, capaz de permanecer em operação por períodos de 12 a 16 horas, com capacidades de conectividade superiores. Aquisição de sistemas anti-drone para todas as bases.

Este reforço tecnológico é acompanhado pela modernização da rede de radares terrestres, datados atualmente da década de 80, que serão substituídos por sistemas de última geração capazes de detetar ameaças complexas como mísseis de cruzeiro e drones com reduzida assinatura radar.

Reforço de Meios e Recuperação de Frotas

O cumprimento da meta de 2% do PIB para a Defesa permitiu uma "lufada de ar fresco" financeira. À FAP coube um aumento de cerca de 170M EUR no orçamento, dos quais 60M EUR aplicados na opção de aquisição do sexto KC-390 e os restantes 110M EUR na recuperação de sistemas, aquisição de sistemas de radar, drones e capacidade espacial.

O programa KC-390 está já consolidado com três aeronaves operacionais e a aquisição de uma sexta célula, com o intuito de aumentar a capacidade de transporte no âmbito da NATO. 

A frota de helicópteros Black Hawk conta cinco aeronaves integradas, com o objetivo de nove até ao final de 2026. Estes helicópteros já estão a ser certificados para operar em 24 heliportos hospitalares. 

A frota P-3C CUP de patrulhamento marítimo será aumentada de 5 para 11 aeronaves (via protocolo com a Alemanha), com modernização focada na conectividade em tempo real. Início da segunda fase de modernização da frota.

Programa de investimento na Defesa SAFE europeu

O programa prevê um investimento de aproximadamente 180M EUR para a Força Aérea. Este valor não se destina à compra de aeronaves, mas sim ao reforço da infraestrutura de defesa e vigilância, focando-se em quatro eixos:

Radares de última geração: Substituição dos sistemas da década de 1980 por tecnologia capaz de detetar mísseis de cruzeiro e drones.

Sistemas de Defesa Aérea: Aquisição de mísseis terra-ar de médio alcance.

Drones: Reforço das capacidades de vigilância e reconhecimento.

Capacidade Espacial: Aquisição de quatro satélites.


O Pilar Humano: Recorde de Formação

Apesar dos desafios de retenção no passado, o General Cartaxo Alves destaca uma inversão de tendência em 2025, com saldo positivo pela primeira vez em anos. Entram mais militares do que saem (saldo de +240 em 2025). Em instrução atingiu-se uma marca histórica com 1300 militares em formação atualmente, o dobro da média da última década. Maior estabilidade com 67% do efetivo (cerca de 6300 militares) pertence agora ao Quadro Permanente, garantindo a especialização necessária para operar sistemas de alta tecnologia. No entanto, o General admite que ainda existe um défice de aproximadamente mil militares em relação ao quadro previsto, um caminho que continuará a ser percorrido através da valorização da carreira e do reconhecimento do trabalho militar.


Incentivos e Apoio à Família Militar

A inversão da tendência de queda nos efetivos é atribuída a um conjunto integrado de medidas que vão além dos ajustes salariais. O General destaca que o nível tecnológico da FAP é um forte atrativo para jovens engenheiros que procuram trabalhar com sistemas de complexidade inigualável no mundo civil. Somam-se a isto melhorias nas infraestruturas e condições de trabalho, bem como um reforço no apoio social. A assistência médica nas bases aéreas foi alargada às famílias e filhos dos militares, e a questão da habitação junto às unidades tem sido fundamental para garantir estabilidade. O próximo passo deste processo de valorização será a revisão do regime de reformas, tema que está a ser articulado com a tutela.


Visão Estratégica para 2035 e o Futuro do Combate em Rede

Projetando a Força Aérea para a próxima década, o General Cartaxo Alves antevê uma instituição de elite, reconhecida internacionalmente pelo seu sucesso na integração entre o ecossistema militar e o civil, especialmente na área espacial. O futuro do combate aéreo será definido pela cooperação entre meios tripulados e não tripulados. O CEMFA explica que a sexta geração de caças operará em "enxames", onde uma aeronave tripulada será escoltada por vários sistemas não tripulados coordenados, capazes de proteção e ataque de precisão. Esta visão sublinha que, embora a tecnologia seja o garante da sobrevivência no campo de batalha, ela serve o propósito último de defender a paz e a soberania nacional através de militares altamente preparados e motivados.




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