terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Os cromos

Sou de um tempo em que as pastilhas elásticas eram sempre as mesmas. Pouco escolha havia. Lembro-me bem das Pirata e das Gorila. Eram baratas e vendiam bem, mas os tipos lá da fábrica metiam uns cromos à mistura. Lembro-me dos comboios nas Pirata e dos aviões. E dos sinais de trânsito nas Gorila e outra vez os aviões.

E lembro-me de fazermos colecção e da colecção andar à volta dos 809 aviões. Como é que um miúdo ia agora comer 809 pastilhas para ter uma colecção de aviões em cromos? Mas os aviões eram excelentes e quem comprava trocava e havia mesmo alguns que andavam sempre a olhar para o chão a ver se apanhavam algum cromo.

Certo dia, um vizinho meu, lá fez a colecção (não dos 809 aviões, mas da 2ª Guerra Mundial) e lá mandou a colecção para os tipos da Gorila e recebeu em casa uma caderneta colorida com os aviões da Grande Guerra. E eu não fiz mais nada senão pedir-lhe emprestado a dita e fotocopiá-la. A preto e branco porque naquele tempo não havia fotocópias a cores.

sábado, 27 de dezembro de 2008

DE DIA, NO CÉU DO OESTE

Foto: Luigino Caliaro

Os 10 anos que passei em Caldas da Rainha, no que toca à relação com os aviões foram, de longe, os mais "produtivos".
aqui relatei as inúmeras vezes a que assisti a missões nocturnas nos céus do Oeste; foi a partir de lá que vezes sem conta fui a Monte Real para elaborar primeiro o trabalho sobre a operação do A-7P na FAP, entre 1997 e 1999 e que pode ser visto e lido aqui; foi também a partir de lá que foi escrito e fotografado o trabalho sobre os "10 anos da operação do F-16 em Portugal", elaborado entre 2000 e 2004.
Foi também à varanda do meu quarto de Caldas da Rainha, do alto do seu sobranceiro 4º andar, que assisti pela primeira vez ao lançamento de flare por parte de um F-16.
Lá estava eu, de binóculos em punho, quando de repente, de um dos 3 aviões que andavam "engalfinahdos" num dogfight, sai "uma coisa brilhante" cor de fogo. A primeira reação que tive, para além de um incontido susto, foi a de que algo teria corrido mal e que um piloto se tinha ejectado (atenção que mesmo com binóculos, tudo se passava bem longe, seguramente na zona de S. Martinho do Porto - a umas 6 ou 7 milhas pelo menos...) pelo que todas as hipoteses, em poucos segundos se colocaram no meu assustado espírito.
Depois percebi que não, pois os 3 aviões continuavam a voar normalmente. Equacionei depois que tivessem a fazer largada/disparo de Sidewinder reais, facto que não sendo diário, ocorre pontualmente no treino das esquadras (na altura ainda era apenas a 201 - este episódio terá ocorrido em 98, se não me engano), mas pela trajectória breve e errática do ponto luminoso face a um eventual "alvo", percebi que também não podia ser.
Posto isto e ao fim de 3 ou 4 segundos, lá concluí que deveria ser lançamento de flare, já que, pouco depois de ter chegado a esta conclusão, mais um flare saiu de um dos 3 F-16 que estavam, como já escrevi, embrulhados
Foi mais um pequeno pedaço de tarde com adrenalina e aviões quanto baste.
Ainda que tudo se tenha passado a várias milhas de mim, o tradicional vento Norte encarregava-se de trazer até à cidade, o forte rugido dos P&W F100 e pela aproximação dos binóculos, a emoção de assistir "mais perto" a tudo isto.
Como costumo dizer, gostar de aviões é uma religião!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

O PRESENTE DE BOAS-VINDAS



Mudei recentemente de casa, para uma zona onde há já quase um ano procurava apartamento para me instalar. A zona, essa, era pouco questionável, a dúvida estava apenas em se era mais abaixo ou mais acima, mas sempre dentro do bairro onde residi por largos anos (mais precisamente dezassete) e para onde estava decidido a voltar.

Das últimas vezes que por lá tinha passado, observei no relvado contíguo ao prédio onde acabei por encontrar finalmente guarida, uma barraca com cara de vir a albergar uma qualquer feira ou exposição temporária. A Feira do Livro teve até há já alguns anos localização perto do mesmo local, pelo que não me levou a desconfiar de nada, nem tampouco aguçou a minha curiosidade.

Quiseram os astros ou essas forças que não controlamos e a que também chamamos de destino ou fado, para ser mais lusitano, que no dia em que me mudo de armas e bagagens, tivesse a tenda revelado o seu segredo, estando um L-39 Albatros estacionado na frente do prédio onde me instalava, qual presente de boas-vindas.

Mesmo para quem está habituado a ver aviões de perto, a visão encerrava tanto de inaudito como de extemporâneo, ao ir a conduzir e dar com um avião de frente em plena cidade.

Para rematar a história fica o comentário que me escapou, uma vez que vinha de conversa ao telemóvel com um amigo (com auricular, que sem ele dá multa e é perigoso), o qual interrompi para proferir um sonoro: “F*d@-se, ‘tá um avião à beira da estrada!”

O meu amigo aconselhou-me a deixar a droga…


sábado, 20 de dezembro de 2008

DE NOITE, NO CÉU DO OESTE


Quando na segunda metade da década de 90 fui viver para Caldas da Rainha, o prédio onde vivia era o mais alto de um bairro de casas baixas e um ou dois prédios de 2 ou 3 pisos. O meu quarto de estudante estava virado a Norte, no alto do seu 4º andar, com vistas largas, desde a Foz do Arelho até S. Martinho do Porto.
Muitas vezes, sobretudo no Inverno, os céus daquela zona eram rasgados por F-16 da 201, em plena noite.
Mesmo rapando um frio descomunal, agarrava num par de binóculos, seguia as manobras dos aviões, (desde que não houvesse nuvens, claro...) sobretudo quando faziam "dog fight" e deliciava-me ouvindo o forte troar dos motores, o rasto do afterburner (quando nalgumas manobras era usado), as luzes de navegação do avião, sobretudo o "farolim" da cauda - o que mais se notava no breu nocturno - e o traçado detectável das manobras aéreas.
Eram 10 minutos ou mais de pura abstração do real. Limitava-me a assistir, quase em êxtase, ao que estava a ver e sentia-me obviamente previligiado por poder assistir "de bancada" a semelhante espectáculo.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

UMA VIAGEM DE C-130 HÉRCULES



Foto: Rui Sousa -Madeira Spotters - Airliners.net

Algures em Dezembro de 1991, a poucos dias do Natal, efectuei uma viagem entre Funchal e Lisboa, a bordo do C-130H, na altura o 6805, hoje 16805, que as duas fotos do Rui Sousa, esse muito competente Madeira Spotter ilustram.
Foi o meu primeiro voo num avião militar, justamente porque eu próprio era militar, ironicamente na Marinha de Guerra...
A condição militar obrigava a que tivéssemos de fazer a viagem fardados, pelo que na hora marcada, lá estava eu e várias dezenas de militares, de "fato de marinheiro" vestido, eu já na altura "maluco" pelos aviões, a cumprir serviço militar no então "Comando Naval da Madeira".
Julgo que na noite anterior não dormi. A ansiedade era tanta que não preguei olho... Misturava-se a emoção de vir passar o Natal ao continente, junto da família, com a não menos intensa emoção de viajar a bordo de um avião militar com a carga simbólica que o C-130 Hércules teve na minha infância e juventude, a que já aludi no Pássaro de Ferro, nomeadamente aqui.
Lembro-me que o tempo estava mau. Chovia bastante e o aeroporto da Madeira estava a ser fustigado por forte vento de sudoeste. Na altura, a pista ainda era aquele "pedaço de estrada larga", com pouco mais de 1800 metros, que fazia de cada descolagem e aterragem um verdadeiro acontecimento, nada parecido com a excelente e "normal" (em termos de dimensão) pista de hoje.
Quando cheguei perto dele e entrei, não contive um "frémito" de alegria e emoção.
O conforto a bordo era nenhum. Viajávamos "enterrados" longe das janelas, já de si poucas e numa cabine barulhenta quanto baste, com o cheiro característico aos gases dos motores à mistura, tudo muito longe do conforto de um Boeing da TAP onde habitualmente se viajava.
Mas nada disso me importava.
Lembro-me bem de reparar nos assentos de metal e lona e nas estruturas preparadas para os paraquedistas; lembro-me de viajar com a minha bagagem debaixo dos pés e recordo, sobretudo, os fortes safanões do voo, o ronco das hélices e algumas caras de militares do Exército e da Marinha a denotar enjoos e algum temor pelo desconforto do avião e do voo.
Viajámos de noite e "batemos" (literalmente) na pista da Portela, duas horas depois de descolar da Madeira.
Uma semana depois, fez-se a viagem de regresso, mais calma, com bom tempo e com uma notável aterragem no então "Aeroporto de Santa Catarina"...
Tão notável que praticamente não sentimos o pesado Hércules a tocar o asfalto.


Foto:
Rui Sousa -Madeira Spotters - Airliners.net

sábado, 13 de dezembro de 2008

Guerra Fria

No meu tempo de escola falava-se da guerra fria (persumo que agora também). Porque a guerra fria existia para nos lembrar que o mundo era bipolar e que de um lado estavam os bons e do outro lado estavam os maus. Lembro-me de ler artigos sobre a invasão da Europa pelas tropas do Pacto de Varsóvia e de como tudo fazia sentido perante a ameaça soviética. E eu que lia revistas soviéticas em casa achava que os soviéticos não eram assim tão maus, mas conhecia a quantidade de armamento que tinham na fronteira europeia. Sabia da quantidade impressionante de aviões, carros de combate e tropas que estavam do outro lado à espera. E não era agradável saber que um dia os céus da Europa podiam estar cheios de aviões soviéticos.

Não era brincadeira e em caso de invasão vinham por aí fora. Por isso acho graça pegar num livro como “A Guerra Fria” do John Lewis Gaddis e relembrar o que foi esse período histórico. Porque eu vivi naquela Europa dividida.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

INCIDENTES E ACIDENTES


15133 acidentado em Florennes


15133 em Monte Real

O recente incidente com um F-16AM da Força Aérea (s/n 15133), ocorrido durante o TLP em Florennes - Bélgica, somado ao acidente ocorrido em Janeiro passado com o F-16BM s/n15140, alertam os "amantes da causa do ar" e dão-se, por isso e pelo seus graus de "gravidade", às mais diversas interpretações.
A primeira tentação é a de colar estes acontecimentos a uma espécie de "síndrome A-7P", facto tornado corpóreo pelo facto das aeronaves em causa pertencerem ao segundo lote de "usados" fornecidos ao abrigo do "Peace Atlantis II", um pouco à semelhança do que ocorreu como os "usados" A-7P.
Ora se esta associação é legítima se levado em conta o facto de se tratarem de aeronaves , de facto, usadas, já com cerca 3 mil horas de voo, ela deixa de o ser a partir do momento em que se fazem ligações mais ou menos apriorísticas sobre os incidentes e acidentes ocorridos.
A operação de um meio aéreo sofisticado como são os caças F-16, sejam estes MLU, sejam os já "desactualizados" OCU, é complexa e obedece a parâmetros rigorosos no que toca à segurança de voo.Um aparelho não vai para o ar por que tem de ir... Em tempo de paz, ele vai para o ar se as condições de segurança básicas (e até mais do que básicas) forem cumpridas, sendo que não se está em condições de fazer perigar uma aeronave que custa muitos milhões de euros e que não se adquire ou repõe porque sim, nem tão pouco o homem ou homens que a(s) tripulam, todos eles "espécies raras" neste contexto de falta de pilotos.
Posto isto e relativamente ao incidente da semana passada com o 15133, apenas se me oferece estabelecer o seguinte paralelo: o comum mortal tem um bom carro, tecnicamente evoluido, cheio de "extras", etc. Mas isso não o impede de ter um furo, ou mesmo, ter uma falha de travões.
A reacção ao facto é proporcional à complexidade do objecto envolvido, sendo que no caso do carro, não há um suporte mediático que anuncie a falha do objecto técnico, propriedade particular, igual a centenas ou milhares de outros.
Já o mesmo não se pode dizer do F-16, uma máquina de 20 milhões de euros, retirados "com sacrifício" ao erário público e que, quer se queira quer não, quer se concorde ou não, vende papel e consubstancia mais e melhor, as necessidades do statos quo mediático vigente, demasiado rendido ao sensacionalismo de manual, que quase sempre não é bom conselheiro.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Mirage 5

Um dia vi este Mirage 5 da Força Aérea Francesa num livro de história do meu tempo de escola. Naquele tempo falava-se da guerra-fria e o avião lá estava a lembrar a guerra latente. Estava longe de ser um avião representante da guerra-fria, mas penso que o autor do livro ou o ilustrador o tinham metido lá para enfeitar a página.


Mas nunca mais esqueci a foto por causa da panóplia de armamento. O armamento não estava ali todo, mas o que estava impressionava. Na altura não fazia a mínima ideia do que estava a ver. Era apenas um avião com armamento diversificado. Só mais tarde é que descobri que era um Mirage 5. E penso agora no tempo que já lá vai e na guerra-fria que já acabou. E como tudo isso está morto e enterrado no passado.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

QUEBRAR BARREIRAS


Não é a barreira do som, mas foram ultrapassadas as 25 mil visitas ao Pássaro de Ferro e mais de 51 mil páginas consultadas em pouco mais de 2 anos!
Obrigado!
Com o "pessoal navegante" em regime de destacamento, para breve a história de um voo em C-130 Hércules, entre Funchal e Lisboa, algures em Dezembro de 1991, com o vosso "comandante" a bordo!
Há coisas e factos que a memória nunca se cansará de carregar!

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