segunda-feira, 12 de maio de 2014

SOBRE A NOBRE MISSÃO DE BUSCA E SALVAMENTO NA FAP (M1580 - 159PM/2014)

AgustaWestland EH101 Merlin da Esquadra 751 em treino de Busca e Salvamento


“Porra pah!” dizia eu, depois de ler alguns comentários às notícias publicadas online sobre a perda de pilotos comandantes na Força Aérea.
“Que ódio visceral é este, que a malta tem pelos militares?...”
Lá no fundo é kafkiano. E algo típico do português (mea culpa): dizer mal de outras classes, grupos, ajuntamentos, clubes, etc,  muitas vezes sem perceber nada daquilo que se fala. Os militares, os chulos da sociedade. Os médicos, os privilegiados. Os polícias, que passam o dia sem fazer nada. Os professores, que não querem trabalhar... caramba, até outro dia ouvi falar mal dos bombeiros (voluntários) que quase nenhum tostão levam para casa, por troca do risco da própria vida.

E sim. Esta notícia toca-me pessoalmente. Por ter feito parte desse tão honroso bando de malta que é a Esquadra 751. Interrogo-me se a grande fatia da população que chama a esta rapaziada “chulos”, sabe que estes menos de 100 homens e mulheres são responsáveis pela maior área de Busca e Salvamento da Europa. Que passam por ano, meses fora de casa em missão (caramba, cheguei a passar 6 meses fora num ano. Os outros 6 foram de folga? Não, dia normal de trabalho, na unidade base). Que operam uma máquina de extrema complexidade, no seu limite, nas piores condições atmosféricas imagináveis e tudo arriscando o seu “coiro” pessoal. É um tipo de voo onde não existem contemplações: às 350 milhas das Lajes não existem alternantes. Não existe plano B. Não existe apoio. Ou é, ou não é. Ou se tira aquele homem que precisa de ajuda em 15 minutos, ou já não será possível. E isso vem com treino. Esse, que dizem que sai caro.

E é sobre estes Homens (com H grande) que vos cai a raiva em cima? Sobre recuperadores que se penduram em cabos de aço, com vagas de 10 metros, para ir buscar alguém que não conhecem das garras da morte? Sobre o mecânico que fica três madrugadas seguidas a trabalhar porque a máquina tem de estar pronta? Sobre operadores de guincho e pilotos que têm a vida do camarada e amigo nas mãos?
Sobre estes 100 magníficos, que mesmo tendo no civil um ordenado 4 a 6 vezes superior (sim multiplique o seu ordenado por 5 ou 6) ficam muitas vezes para além do dever. Anos e décadas, nas fileiras?
Suspiro.
Para mim foi a maior honra servir ao lado desta gente.

“Porra pah” penso de novo, “não precisam de os elogiar, mas não lhes façam a vida pior do que ela já é”!

Para mim vós não sois grandes Esquadra751. Sois ENORMES.


Texto: Ricardo Nunes

5 Comentários:

Anónimo disse...

CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP

Anónimo disse...

Obrigado

Paulo Fernandes disse...

Grande obra de arte.

pakan disse...

Basta mesmo ...

Calsiro disse...

Pela minha parte, o meu grande obrigado pelo texto magnifico.
Fui OPG na 751 - Pumas Montijo.
Excelente texto carregadíssimo de razão!
Por vezes é necessário gritar de revolta pelos “maus tratos verbais” e não só de que somos alvos.

Carlos Rosendo

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