terça-feira, 8 de novembro de 2011

EPISÓDIOS DE UMA TRAGÉDIA GREGA (M553 - 32PM/2011)

F-16C grego em Monte Real

Nos dias que correm não é fácil ser-se grego.
Das razões económicas já há muitos meses se sabia. Recentemente, e apesar de não admitido oficialmente, sabe-se também que a Grécia esteve à beira de um golpe militar.
Habituados que estávamos a pensar que ditaduras, guerras e instabilidade social eram coisa do passado ou de países menos civilizados, as fundações da orgulhosa Europa tremeram mais uma vez, de tal modo que de repente o espectro de outra grande guerra no Velho Continente apareceu do armário, onde esteve 66 anos.
Curiosamente (ou não), a Alemanha está mais uma vez ligada a essa instabilidade. A Alemanha que foi desmembrada e limitada no armamento que podia possuir depois da II Guerra Mundial, reagrupou-se e cerrou fileiras na única guerra que podia travar: a económica. E foi paulatinamente (como antes) reconquistando a importância que outrora teve pelas armas. Uma guerra calculista, surda, quase invisível, e o que é pior, lícita! O resto da Europa (como antes) ficou a ver, quando se alargou a União Europeia de 12 países para 15, para 19, para vinte e não-sei-quantos, no espaço de poucos anos. Ficou a ver quando foi retirado o direito de veto a um país isolado da União Europeia. Ficou a ver quando se assinaram acordos de comércio com a China, que acabaram com o pouco que sobrou das economias mais frágeis no alargamento a Leste da UE. De todos estes acontecimentos, o único denominador (vencedor) comum foi a Alemanha. Pode dizer-se que a Alemanha aplicou uma variação de "se não os consegues vencer junta-te a eles", trocando a última parte por um "compra-os". E nós deixámo-nos comprar. E até gostámos. É por isso que quando vou ouvindo que "os nossos políticos são os culpados", não posso deixar de dizer que sim, são. Mas nós também. Os políticos são o espelho do país que somos. Por acção ou omissão. Mas como sempre, é mais fácil dizer que a culpa é dos outros. É "da Alemanha", é "dos políticos". Nossa? Não!
Mas o quadro, ou the big picture como dizem os ingleses, é de facto ainda maior. E a Alemanha que parecia (e pensou) ter ganho esta guerra, só tarde se apercebeu que também podia implodir com o desmoronar das economias periféricas. Talvez por ingenuidade de uma líder, que só já bem tarde na vida aprendeu a viver no sistema capitalista (Merkel cresceu e viveu na antiga RDA), ou talvez por puro orgulho germânico (o mesmo pecado que lhes custou a última Grande Guerra).
Toda esta instabilidade, serviu no entanto para colocar bem visível que na verdade todos os países actualmente estão reféns dos grandes grupos económicos e do grande capital (acho que já ouvi isto nalgum discurso de esquerda...). Uma "teoria da conspiração" que foi repetida anos a fio, mas à qual pouca gente prestava realmente atenção, desde que houvesse dinheiro na conta no fim do mês e a vida fosse boa.
A grande ironia é que vinte anos depois do comunismo, parece o capitalismo sucumbir também, sob o peso próprio.
O sistema está viciado e tem vindo a definhar já há décadas, com políticas de planeamento que não vão além do curto prazo (há que ganhar as próximas eleições, depois logo se vê), que se movem ao sabor de interesses duvidosos (como dizia o outro, duvidosos porque ninguém duvida das intenções) e uma classe dirigente de um modo geral medíocre a nível nacional e internacional. Políticas feitas para agradar " Gregos e Troianos" (e aqui está outra vez a Grécia metida...), políticas sociais muitas vezes super-protectoras, políticas energéticas dependentes do petróleo e manutenção da especulação financeira. E o sistema não reagiu. Os sinais eram evidentes para quem se atrevesse a pensar um pouco além de amanhã. Para quem estivesse interessado em pensar além de amanhã. 
O sistema Ocidental faliu, tal como as suas economias. Num estranho fechar de ciclo, a Grécia, berço da civilização moderna e da democracia, parece ser o símbolo do esgotamento do seu antigo arquétipo.


A nós, enquanto portugueses, resta-nos à semelhança de um programa de recuperação de dependências, assumir que a razão de estarmos onde estamos hoje, é nossa culpa. A culpa não é do pai que nos batia, nem do árbitro que não marcou penalty. E começar a trabalhar num novo futuro para o país, que não envolva subsídios para tudo, nem desculpas para tudo.
E o mundo, esse precisa de forjar um novo arquétipo, porque não somos só nós que necessitamos de uma reestruturação profunda.

As minhas desculpas a todos, porque hoje aqui de aviação, apenas a foto.


4 Comentários:

Nuno Martins disse...

Excelente crónica. Sem pretenciosismos assino por baixo.

António Luís disse...

Cá está uma opinião sem assombros e amarras.
Quando e Grécia é todo um mundo!
Parabéns à lucidez do Paulo Mata!

Paulo disse...

Magnifico texto, claro sem grandes voltas, só não o entende quem não quiser, parabéns pela vontade de mostrar o que muito poucos se atrevem a ver.
Obrigado
Paulo Costa

Anónimo disse...

Assino por baixo. Um dos deveres da Constituição não me permite dizê-lo em público.
Este video explica muita coisa:
http://www.youtube.com/watch?v=07w9K2XR3f0

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