sábado, 1 de novembro de 2025

RAF Harrier GR.7, o guerreiro da guerra fria

 Kosovo, o regresso da limpeza étnica ao coração da Europa 

(Episódio 3 - Último)

Com o pod TIALD (Thermal Imaging Airborne Laser Designator) os pilotos dos Harrier viram facilitada a tarefa de identificar e atacar com elevada precisão alvos pequenos e camuflados mas, por vezes, esse sistema revelou um comportamento algo… temperamental.  O Tenente Zanker descobriu essa faceta da tecnologia num ataque a 19 de Abril.  O alvo era um depósito de munições e de mísseis SAM SA-6 no aeroporto de Pristina – alvo que já tinha surgido na lista no dia 29 de Março mas, nessa ocasião, as fracas condições meteorológicas “riscaram” a missão.  Três semanas depois, e com o clima mais favorável, Zanker liderou uma formação de quatro Harrier rumo a Pristina;…

 

 “Quando nos aproximamos da área notei algumas nuvens baixas, mas nada que impedisse o ataque.  Liguei o pod TIALD e orientei a mira na direcção do alvo – conseguia ver claramente o edifício no pequeno ecrã no cockpit.  Como a mira não estava exactamente centrada usei o comando direccional na manete de aceleração com o polegar esquerdo e pressionei o botão “lock”.  A partir daqui o sensor deveria bloquear e seguir automaticamente o alvo.  Como tudo parecia porreiro, pressionei o botão de disparo do laser.  Com o sistema em modo “auto” agora era só esperar que o computador largasse as bombas no momento adequado.  Passados alguns momentos senti um ligeiro duplo tremelique no Harrier seguido do característico sinal sonoro agudo  – as duas bombas Paveway de 500kg estavam a caminho! 

 

“Passados uns 5 segundos, começo a notar uma nuvem no topo do ecrã e a mover-se lentamente em direcção á mira…  Nesta altura o software do pod TIALD deveria entrar no modo “memória” e manter o laser minimamente apontado no alvo, mas…não.  Em vez disso, a mira ganhou vida própria e começou aos saltos a perseguir a nuvem para fora do ecrã!  Perdi completamente de vista a mira e sabe-se lá para onde estaria a orientar as bombas!  Reiniciei o pod e, o mais rapidamente possível, voltei a orientar a mira para o telhado do alvo e, não me perguntem como, as bombas Paveway ainda arranjaram energia suficiente para se orientarem até ao centro do edifício que, literalmente, desapareceu num imenso “flash”.”  

 


Especialistas de armamento inspeccionam bombas Paveway II, prontas a ser carregadas no Harrier logo atrás.  Nesta foto é possível apreciar o verdadeiro volume desta potente arma de 454kg de peso e quase 4 metros de comprimento.

 

As realidades da guerra, e o sempre presente perigo de provocar baixas civis, ficou novamente espelhado na missão de 30 de Abril – uma ataque que envolveu seis Harrier a uma ponte sobre o rio Uvac em Kokin Brod, na Sérvia Ocidental.  Novamente, o Tenente Zanker recorda o incidente;…  

 

“Perto do ponto de largada das bombas notamos novamente algumas nuvens soltas mas, ao pesquisar mais adiante com a ajuda do sensor infravermelho do TIALD, confirmei que as condições pareciam melhores.  Ainda não conseguia ver a ponte mas estava confiante que teria tempo suficiente para a encontrar e atacar com precisão.  O par de Harrier á minha frente largou as bombas conforme planeado e passados alguns segundos avistei a estrutura da ponte – era agora a minha vez de lançar.  Dispensei a função “auto-track” e fiz “zoom” sobre a ponte.  Via perfeitamente os arcos metálicos e apontei manualmente o laser para o centro do tabuleiro.  Disparei o laser e, de quando em vez, ajustava ligeiramente a mira para manter o alvo bem centrado.  As bombas demoraram o que pareceu uma eternidade até chegar ao solo, mas acabaram por acertar no tabuleiro com uma tremenda explosão.”

 


“Slides” tirados de um pod TIALD de um ataque a um depósito de munições Sérvio.  Nesta ocasião as condições climatéricas eram bastante favoráveis mas num dia de nebulosidade ou com mais humidade no ar, a aquisição de alvos seria muito mais complicada.

 

 

 “Mal regressamos a Gioia del Colle todos os pilotos reuniram-se na sala de operações para visualizar em detalhe o ataque.  O software do pod TIALD permitia rever toda a gravação sobreposta com as conversações rádio e uma série de dados de voo.  Além disso, ao vermos o vídeo na tela gigante conseguíamos visualizar de forma mais ampla, e com muito mais detalhe, comparado com o minúsculo ecrã de 10cm no cockpit do Harrier.  Com uma cerveja na mão e bem sentados iniciamos a projecção do “filme” e vimos de imediato a estrutura da ponte, a estrada, as rampas de acesso, as bermas, tudo.  Mas também vimos no topo da tela outra coisa… um carro civil a dirigir-se lentamente para a entrada da ponte.  Ninguém viu aquele carro durante o ataque mas agora na enorme tela vimo-lo imediatamente.

 

“Oh não”, alguém exclamou atrás de mim, “quando tempo é que ele tem?”

 

O carro entra devagarinho na rampa da ponte e segue tranquilamente.

 

“Menos de 40 segundos…”, responde o líder ´Benny` Ball.

 

Ouvimos o som agudo do laser activo e sabíamos que as bombas já estavam no ar.

 

“Porque que é que ele vai tão devagar?!  Acelera!!  C’mom mate!!”

 

Gritávamos para a tela como se estivéssemos a ver um jogo de futebol em directo quando, na realidade, o destino daquele desgraçado já tinha sido traçado há um par de horas.  Quando faltavam 20 segundos para o impacto o carro passou directamente sobre a mira laser no centro da ponte!

 

“Go, go, go!!”, gritávamos a plenos pulmões.  A sala começou a encher-se de gente atraída por toda aquela comoção e gritaria.  Muitos deles, ao verem as imagens, rapidamente se juntavam ao coro colectivo.  No  momento em que o carro pareceu sair do tabuleiro a tela tornou-se totalmente branca – o flash da explosão “cegou” momentaneamente o sensor IR do pod TIALD e deixou todos na assistência em total “suspense”…  Quando o ecrã recuperou a definição, vimos o carro parado na berma da ponte.  Todos ficamos em silêncio e temíamos o pior.  De repente, o carro arranca a grande velocidade e desaparece de vista!  Um dia de sorte para ele….e para nós!”

 


Sempre que possível, os pilotos dos Harrier em Gioia del Colle usavam a técnica STOVL (Short Take-Off and Vertical Landing) – não só permitia descolar com cargas mais pesadas como aumentava os limites de segurança. 

 

 

O destacamento de Harrier GR.7 da RAF voou 870 missões operacionais durante a Operação Engadine.  Toda essa experiência foi muito útil para identificar as limitações do pod TIALD e das bombas guiadas por laser Paveway, especialmente em condições meteorológicas adversas, típicas do centro da Europa.  Estas lições levaram directamente à adopção da bomba Enhanced Paveway II que acrescentava GPS ao sensor laser.  Assim, quando os Harrier voltaram ao combate, no Iraque em 2003, trouxeram novas armas, novos sensores e novas tácticas.

 

Mas isso será história para outro dia.


Texto e seleção de imagens: Icterio
Edição: Pássaro de Ferro


sábado, 18 de outubro de 2025

PRIMEIRO HELICÓPTERO DO EXÉRCITO CHEGA EM 2026

 

O Chefe do Estado-Maior do Exército, General Eduardo Mendes Ferrão, afirmou em entrevista à agência Lusa que as obras de modernização do Aeródromo Militar de Tancos decorrem a bom ritmo, prevendo-se a conclusão da reabilitação do Hangar Norte no início de 2026, para poder albergar a nova Unidade de Helicópteros de Apoio, Proteção e Evacuação do Exército (UHAPE).  Intervenções na infraestrutura do aeródromo, pista, torre de controlo, áreas de manutenção e depósitos gerais, têm igualmente conclusão prevista para março de 2026. 

As referidas obras inserem-se no âmbito do Projeto dos Helicópteros de Apoio, Proteção e Evacuação (HAPE), que visa dotar o Exército Português de meios próprios de asa rotativa, com capacidade para missões militares, nomeadamente missões de apoio aéreo próximo às forças terrestres, reconhecimento e proteção armada, transporte de pessoal e material, projeção e extração de forças. E ainda apoio à proteção civil em catástrofes naturais.

A UHAPE será equipada com três helicópteros médios, com opção por uma quarta aeronave, esperando-se a chegada do primeiro aparelho até ao final de 2026, com mais um por ano até 2028. Já a formação de pilotos e técnicos terá início antes da primeira entrega, cumprindo os requisitos europeus de aeronavegabilidade militar. 

Apesar de não ter ainda sido oficialmente revelado o modelo que irá equipar a UHAPE, crê-se que o eleito seja o UH-60 Black Hawk, a adquirir em moldes semelhantes ao mesmo modelo da Força Aérea.

O projeto de edificação da UHAPE está inscrito na Lei de Programação Militar, com um investimento inicial de 50M EUR, contempla ainda formação complementar em exércitos aliados e articulação com entidades civis no âmbito do Plano de Apoio Militar de Emergência (PAMEEX). O Exército admite mesmo a utilização dual do aeródromo de Tancos, reconhecendo o impacto estratégico e económico para a região do Médio Tejo.



sexta-feira, 17 de outubro de 2025

EXERCÍCIO ETAP-C 25-4 EM BEJA

KC-390 da Esquadra 506 - Rinocerontes da Força Aérea Portuguesa à descolagem em Beja

Escassas duas semanas após a conclusão do exercício NATO Tiger Meet 25, a Base Aérea nº11 vai receber em Beja um novo exercício internacional, no caso o ETAP-C, ou Programa Europeu de Transporte Aéreo Tático – Curso.

Este exercício, direcionado especificamente para as aeronaves de transporte militar, está integrado no Programa de Transporte Aéreo Tático Europeu (ETAP), que foi desenvolvido com o objetivo de melhorar a capacidade operacional de transporte aéreo dos países europeus, promovendo uma maior interoperabilidade entre as nações cooperantes.

C-130H Hercules da Esquadra 501 - Bisontes da Força Aérea Portuguesa

Na quarta edição de 2025 do ETAP-C, a decorrer entre 19 e 31 de outubro, participam aeronaves e tripulações de sete forças europeias, nomeadamente Portugal (C-130 da Esq. 501 e KC-390 da Esq. 506), Bélgica, Luxemburgo e Alemanha (A400M), França (CN235), Itália e Polónia (C-130).

O curso visa fornecer às tripulações participantes, um curso abrangente de táticas de transporte aéreo, ampliar a capacidade de atuação em cenários complexos e aumentar a sobrevivência em ambiente operacional hostil.


Desde 2015 que Portugal, e Beja em particular, vem acolhendo exercícios promovidos pelo European Air Transport Fleet (EATF), que foram evoluindo ao longo dos anos, nomeadamente o EATT, ETAP-T e agora ETAP-C.

O ETAP-C 25-4 marca também a estreia da Esquadra 506 com o KC-390, em exercícios direcionado especificamente para táticas de aeronaves de transporte.






domingo, 12 de outubro de 2025

RAF Harrier GR.7, o guerreiro da guerra fria - [M2657 - 80/2025 ]

Kosovo, o regresso da limpeza étnica ao coração da Europa 

(Episódio 2)

O Tenente Martin Ball relembra os preparativos para a missão de 28 de Março;

“A primeira decisão para o ataque dessa noite seria sobre o método de designar alvos; iria cada Harrier transportar um pod TIALD e uma bomba Paveway guiada por laser ou ficaria um Harrier (em cada par) responsável pela operação do pod e o seu asa (ou nº 2) transportaria a bomba (“buddy spiking”)?  Havia bons argumentos a favor de cada opção mas, para este ataque, optamos pelo método de “buddy spiking”, principalmente pela pressão acrescida de sucesso.  Notar também que o alvo estaria bastante mais longe do que anteriormente, o que aumentava o risco de exposição ás defesas anti-aéreas.  Mas, pelo menos, esta noite não teríamos de nos preocupar com os F-16s!”

“Esta seria a nossa primeira missão contra um inimigo preparado e furioso.  Tornava o planeamento complicado.  As simples rotas de entrada e saída do território, e até ao alvo, eram intensificadas por muitos “ses”, tais como; ameaças, evasão, cronometragem e possíveis “abates”.  Depois de horas de muito coçar a cabeça foi quase um alívio entrar no meu Harrier, devidamente preparado pelos excelentes técnicos e engenheiros de terra.  Senti a tensão no ar enquanto subia as escadas para o cockpit mas depois de me sentar na apertada cadeira, e só com os meus pensamentos como companhia, finalmente relaxei.  Carreguei os dados do meu “tijolo” no computador do Harrier – estava tudo aqui; cada “waypoint”, timings, frequências de rádio, etc.  Tudo corria perfeitamente, excepto uma coisa.  Enquanto manobrava o avião até ao início da pista, senti um enorme desconforto e muito calor.  Abri ligeiramente a canópia para deixar entrar algum ar mas não era suficiente - decidi retirar os óculos de protecção laser, já me estavam a irritar!  Preferia correr o risco de sofrer algum dano laser nos olhos.  Além disso, era muito escuro e ainda tinha que usar NVGs por cima.  Descolámos á hora prevista e seguimos para o Adriático.  Com o alvo a cerca de 370km de distância, tínhamos um longo caminho a percorrer – e boa parte em território inimigo.”

Excelente foto das operações em Gioia del Colle durante a operação Allied Force.  O Harrier GR.7 mais próximo transporta mísseis AAM Sidewinder e contentores de submunições RBL755.

“O voo decorreu sem surpresas, tudo dentro do normal – demais, até.   Tudo muito silencioso e estranhamente tranquilo nos céus da ex-Jugoslávia.  O RWR também não se queixou mas ao aproximarmo-nos do IP (Initial Point) as coisas começaram a acelerar.  Era altura de accionar o pod TIALD e encontrar o alvo.  A minha responsabilidade era encontrar e designar o alvo com o laser (“spiker”) enquanto o meu asa lançava a bomba Paveway.  Primeiro uso a menor magnificação para pesquisar a zona e depois faço “zoom” no alvo específico.  Não é tão fácil fazer isto no cockpit como na tela da sala de operações ou num simulador…  Os segundos passavam e eu não encontrava o raio do alvo!  Ali está!  Agora é só apontar o laser.  È preciso cuidado para não usar demasiado “zoom”, senão a imagem surge muito “pixelada” no meu pequeno visor a preto-e-branco.  Comunico com o meu asa e ele confirma o sinal laser e o alvo.  Agora é só aguardar pelo lançamento das Paveway.  Nada!  Que se passa?!  A bomba ficou presa!  Isto não fazia parte do plano! “

“Iniciamos a rota de fuga da zona alvo – duas curvas para a direita e invertemos a direcção de voo.  Restava-mos aguardar pelos próximos Harrier que voavam um minuto atrás de nós.  Esperávamos que tivessem mais sorte.  Ouvimos pelo rádio o sinal sonoro do lançamento da Paveway e aguardamos ansiosamente 30 segundos – o tempo de voo da bomba de 454kg.  Um flash enorme, seguido de outro flash ainda maior passado outro minuto – sucesso!  Por momentos esqueci-me que ainda estava em território inimigo por isso, sem demora, ganhamos altitude e rumamos á base.  Quando aterramos fomos recebidos com inúmeros apertos de mão e igual número de cervejas e assim que despachamos os F700s (formulários) seguimos para a sala de operações para rever as imagens do ataque.  Os resultados foram prontamente enviados para o MoD (Ministério de Defesa) – finalmente a nossa primeira história de sucesso para os jornais!”

O pod TIALD (Thermal Imaging Airborne Laser Designator) foi uma ferramenta essencial para aumentar a precisão dos ataques aéreos da RAF – não só da frota de Harrier mas também dos Jaguar e Tornado.  Teve o seu “baptismo de fogo” na Guerra do Golfo em 1991.

A partir de Abril a missão CAS (Close Air Support – Apoio Aéreo Próximo) começou a ocupar cada vez mais os pilotos dos Harrier.  Em vez de bombardeamentos pré-programados com rotas e alvos, relativamente, bem definidos, nas missões CAS a identificação do inimigo era fluida e imprevisível.  O terreno acidentado, um inimigo experiente e bem camuflado e a reduzida visibilidade própria das condições climatéricas nos Balcãs, conspiravam para tornar estas missões extremamente intensas, exigentes e perigosas.  Em cima de tudo isso, a possibilidade de danos colaterais ou baixas civis assombrava a todo o momento os pilotos da NATO.  Isto ficou bem demonstrada no dia 14, quando dois pares de Harrier (liderados pelo Capitão Cockrell e Tenente Zanker) foram requisitados por um F-16 AFAC (Airborne Forward Air Control) para atacar uma coluna de veículos perto de Dakovica.  O Tenente Zanker relembra;

“O pedido pareceu-me de imediato estranho, porque os Sérvios não tinham o hábito de estacionar colunas de veículos nas estradas em plena luz do dia.  Chegamos á área e vimos uma vila e uma longa estrada em direcção a um rio.  E, de facto, entre a vila e o rio era discernível uma extensa coluna de veículos parados na berma.  Com os meus binóculos consegui detectar alguns blindados de transporte de tropas no fim e início da coluna mas a maior parte dos veículos eram tractores agrícolas com atrelado.  Alguns dos tractores eram vermelhos e os campos adjacentes estavam cheios de civis.  Discutimos a situação – nós, os quatro pilotos de Harrier da formação – numa frequência de rádio fechada e rapidamente concordamos que se tratava de uma coluna de refugiados escoltada por militares Sérvios.”

“Conseguimos convencer um piloto de A-10, que voava na zona, para executar uma passagem a baixa altitude, e ele confirmou que a coluna era, de facto, civil.  Abortamos a missão e regressamos a Gioia del Colle.  Mais tarde fomos informados que uma outra coluna de veículos, repleta de civis, naquela mesma área, tinha sido bombardeada por F-16s umas horas antes, o que causou na altura um enorme embaraço para a NATO.”  

https://en.wikipedia.org/wiki/NATO_bombing_of_Albanian_refugees_near_Gjakova

 

A intervenção da NATO no Kosovo relembrou a extrema dificuldade na detecção, identificação e designação de alvos em cenários intensos de CAS.  A restrição de bombardear apenas de média altitude, fora do alcance das armas anti-aéreas ligeiras, contribuiu para aumentar as dificuldades e a probabilidade de erro. 


Texto e seleção de imagens: Icterio
Edição: Pássaro de Ferro


sábado, 4 de outubro de 2025

NATO TIGER MEET 25 - Epílogo

O F-16AM n/c 15107 da anfitriã Esquadra 301 - Jaguares a descolar da BA11 com Beja em fundo

A Esquadra 11 em F-18, da Força Aérea Suiça, foi a vencedora do mais cobiçado troféu, o Silver Tiger

Ao fim de nove intensos dias de operações na Base Aérea nº11 em Beja, caiu o pano sobre a edição de 2025 do exercício NATO Tiger Meet (NTM). Ao todo, participaram 59 caças (F-16, F-18, Typhoon, Tornado e Gripen) 16 helicópteros (Merlin, Caeser, Sea Lynx, EC665, NH90, Koala, Gazelle) e ainda aeronaves de reabastecimento aéreo, transporte, patrulhamento, vigilância, coordenação e guerra eletrónica (A400, C-130, KC-390, A330 MRTT, E-3 Sentry, P-3 Orion, Falcon DA20, Leajet, E-2 Hawkeye) pertencentes às 14 Esquadras Tiger de pleno direito participantes, bem como várias unidades externas.



KC-390 da Esquadra 506 - Rinocerontes da FAP
Um P-3C CUP+ dos Lobos - Esquadra 601 da FAP
Uma das famosas descolagens dos C-130 Hercules da Esquadra 501 - Bisontes da FAP

O A400M Atlas da Luftwaffe, que foi um dos reabastecedores presentes no ÑTM25

E-2C Hawkeye da Marinha Francesa

A330 MRTT da MMF e F-16 da FAP
Helicópteros Tigre e Gazelle da Esquadrilha 3 do Exército Francês
Sea Lynx das Marinhas alemã e portuguesa

Estiveram envolvidos em missões de defesa aérea integrada, luta aérea ofensiva, ataque e de apoio às componentes terrestre e marítima, assentes num cenário realista, idealizado para proporcionar  treino de operações conjuntas e combinadas de elevada qualidade.

F-16C nas cores polacas

OS EF-2000 italianos

JAS39 Gripen com pintura comemorativa dos 20 anos da frota checa

Há poucas coisas melhor em aviação militar, do que um Tornado com as asas em enflechamento máximo

Se houvesse um prémio para pintura mais garrida, este F-16 turco venceria naturalmente

Apesar dos esforços, a Esquadra 142 espanhola, não venceu o prémio de melhor uniforme 

À semelhança da última edição do Tiger Meet realizada em Portugal em 2021, quando foram pela primeira vez introduzidas as operações noturnas no NTM, em 2025 a organização da Força Aérea Portuguesa instalou uma célula de Inteligência, Vigilância e Reconhecimento (IVR) espacial - cerca de um ano após a criação do Cetro de Operações Espaciais do Comando Aéreo - de forma a fornecer um informação mais atual, precisa e relevante do "campo de batalha", proporcionando uma perceção quase imediata da situação no terreno, o que permite decisões mais informadas e proativas, aumentar a eficácia das operações e reduzir a incerteza, em cenários complexos e dinâmicos.


Durante o evento, decorrem ainda dois outros exercícios integrados no NTM25, nomeadamente o Ramstein Guard - do programa de treino de Guerra Eletrónica da NATO, e o FAST EAGLE 25 - um exercício coordenado pela Célula de Planeamento Conjunta e com foco em Operações Especiais. O NTM25 foi assim uma oportunidade única para os participantes testarem técnicas, táticas e procedimentos em cenários contestados, que exigem soluções em cinco domínios com a participação de meios aéreos, terrestres, navais, de ciberdefesa e do espaço.

Falcon DA20 de guerra eletrónica
E-3 Sentry da NATO para deteção, comando e controlo

Para a estatística, ficou o registo de mais 800 saídas, de aeronaves provenientes 12 nações diferentes, envolvendo cerca de 1700 militares, naquele que é considerado um dos mais relevantes e icónicos exercícios aéreos mundiais.

As bandeiras das 12 nações participantes no NTM25
Vista de uma das quatro placas ocupadas pelas aeronaves do NTM25


A pintura apresentada pelos Jaguares da Esquadra 301 portuguesa

O prémio da melhor pintura tiger foi para o F-16 da Esquadra 301 pintado pelo Nark

No final, e porque o Tiger Meet também se distingue dos restantes exercícios pela componente de socialização e reforço dos laços entre os países participantes, a atribuição de prémios em diversas categorias, contemplou a anfitriã Esquadra 301 - Jaguares, com o prémio para a melhor pintura tigre, entre as aeronaves participantes, da autoria do artista Nark, no F-16AM n/c 15107.

Lista dos vencedores de todos os prémios do NTM25

O Pássaro de Ferro marcou presença através transmissões em direto para a rede social Facebook, que foram visualizadas por largos milhares de seguidores na nossa página.

Para 2026, o NTM já está agendado para maio, na base aérea de Araxos, na Grécia.

A Esquadra 335 de Araxos, Grécia será a anfitriã do NTM em 2026


Agradecimentos: RP da FAP, Paulo Fernandes / Oneshootland




quinta-feira, 18 de setembro de 2025

AS PINTURAS "TIGER MEET" PORTUGUESAS

Pintura para o NATO Tiger Meet 2025 em Beja      Foto: FAP

A Esquadra 301 (Jaguares) é, desde 1978, a única representante da Força Aérea Portuguesa, no NATO Tigers Association, que engloba esquadras de voo de países NATO e parceiros, que têm um felino como símbolo.

Além do exercício, normalmente de realização anual e de localização rotativa entre os seus membros, a NATO Tigers Association construiu ao longo das décadas (a sua formação remonta a 1961) várias tradições, sendo talvez a mais notória, a pintura de algumas das aeronaves participantes com vistosos padrões e motivos tigre (ou de alguma forma relacionados com os símbolos das esquadras).

Aproveitamos por isso a ocasião da apresentação da pintura da Esquadra 301 para o NATO Tiger Meet (NTM) 2025, a realizar em Beja entre 21 de setembro e 3 de outubro, para relembrar todas as pinturas realizadas pelos Jaguares no passado, recompilando assim as fotos que fomos partilhando na nossa página de Facebook, num único artigo, para que os nossos leitores não percam nenhuma.

A primeira pintura "tiger" da Esq.301, para o NTM87   Foto: Coleção de Renato Gomes

A primeira foi por isso realizada para o Tiger Meet de 1987, aquando da sua primeira passagem por Portugal, então na Base Aérea nº6, no Montijo, ainda os Fiat G91 equipavam a Esquadra 301, tendo sido o avião com número de cauda 5465 a envergar as cores tigre.

Fiat G.91 R3 n/c 5452 coma pintura do NTM91      Foto: Renato Gomes

A segunda e terceira pinturas "tiger" da Esquadra 301, foram realizadas para o Tiger Meet de 1991, que se realizou em Fairford, Reino Unido. Uma no Fiat G.91 R3 n/c 5452, sendo uma espécie de evolução aprimorada da de 1987, em tons mais alaranjados. Esta aeronave ainda existe com pintura tigre, pertencendo ao espólio do Museu do Ar, embora a pintura já não seja exatamente igual à realizada em 91.

Fiat G.91 T3 n/c 1810 em 1991        Foto: Rui Bruno

Para a participação no mesmo TNTM91, foi ainda pintada a cauda do Fiat G.91 T3 n/c 1810 com listas de tigre. Seria o único G.91 bilugar a receber pintura tigre na FAP.

A quarta e última pintura "tiger" da frota Fiat G.91, para o NTM92

A encerrar as pinturas da era Fiat G91 da Esquadra 301, talvez a mais bem conseguida foi executada no 5454, para o Tiger Meet de 1992, em Albacete, Espanha. A frota G.91 seria retirada de serviço no ano seguinte e esta aeronave foi preservada com essa mesma pintura, pertencendo agora ao espólio museológico da Base Aérea nº5, Monte Real, onde está atualmente sediada a Esquadra 301.

Para o NTM96 a primeira pintura "tiger" da frota Alpha Jet

A estreia das pinturas tigre em Alpha Jet aconteceu em 1996, para o segundo Tiger Meet realizado em Portugal e o primeiro em Beja, escassos dois anos após a transição da Esquadra 301, do Fiat G91 para a nova frota.

A aeronave com número de cauda 15248 que recebeu a pintura, ficou preservada na BA11, onde esteve largos anos em frente ao edifício de Comando. Mais recentemente foi removida do local e integrada no espólio museológico da Base.

O NTM02 marcou a primeira pintura com um jaguar da Esq.301 no AJet n/c 15250   
Foto: André Carvalho / Alerta QR.AC

A pintura realizada para o Tiger Meet de 2002, que se realizou novamente em Beja, coincidentemente com o cinquentenário da Força Aérea Portuguesa, seria a primeira a contemplar realmente um Jaguar - símbolo da Esquadra 301 - e foi aplicada no Alpha Jet n/c 15250.


A primeira pintura em F-16 foi para o NTM06    
Foto: Nuno Martins / Walkarounds - Aviação Militar Portuguesa

Após a transição da Esquadra 301 para o F-16 MLU e para Monte Real em 2005, a primeira pintura para um Tiger Meet foi aplicada na cauda do 15133, em forma de manchas de jaguar, para a deslocação a Albacete, Espanha 🇪🇸 em setembro de 2006

Pintura para o NTM07

Em 2007 o F-16AM n/c 15133 seria novamente o escolhido para envergar a pintura - uma cabeça de jaguar desenhada na cauda da aeronave - para o Tiger Meet, nesse ano realizado em Ørland, na Noruega.

Pintura para o NTM11 em Cambrai, França

A terceira pintura para Tiger Meet em F-16 foi realizada para a deslocação a Cambrai, França em maio de 2011. Sendo uma espécie de evolução da pintura anterior, combina a cabeça de jaguar com padrão tigre, em baixa visibilidade, na cauda do 15106, que continua a ostentá-la até à atualidade.

Pintura do NTM19

A quarta pintura especial em F-16 da Esquadra 301 para o Tiger Meet, na verdade foi realizada para o cinquentenário dos Jaguares em novembro de 2018, com participação no Tiger Meet em maio do ano seguinte em Mont-de-Marsan, França. O F-16AM n/c 15105 ainda enverga esta pintura atualmente. 

A primeira pintura integral em F-16, para o NTM21, em Beja

Após um hiato de 19 anos, em 2021 voltou a realizar-se um Tiger Meet em Portugal. Para a ocasião, a Esquadra 301 realizou a primeira pintura integral em F-16, já que as anteriores incidiram apenas na cauda dos aparelhos. O 15116 envergou esta pintura pouco mais de quatro meses, antes de receber novamente a pintura tática standard da frota portuguesa.

E eis que chegamos finalmente à pintura de 2025, que representa um regresso aos padrões de tigre, o que é uma estreia nos F-16, que têm incidido sobre padrões de jaguar, e que já granjeou os mais rasgados elogios desde a sua divulgação.

A primeira pintura com padrão tigre em F-16 portugueses é a de 2025     Foto: FAP




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