domingo, 24 de abril de 2016

DE PORTUGAL PARA A ROMÉNIA, COM ORGULHO (M1838 - 18/2016)


Em 2013, Portugal vendeu doze caças F-16AM/BM à Roménia.
Para não variar e sobretudo no meio político e nas mesas de café, foi assunto para polémicas mais ou menos estéreis e outras vezes histéricas, num processo habitual de auto-má língua e pior auto-conceito do ser-se português.
Esta dúzia de aeronaves (9 monolugares e 3 bilugares) fazem parte do lote do Peace Atlantis II e foram consideradas dispensáveis tendo em conta que a decisão de ter 30 aeronaves F-16 foi considerada suficiente e equilibrada para as necessidades da Força Aérea Portuguesa, no plano interno e no cumprimentos dos compromissos no âmbito da NATO.
Não se tratou de uma venda, apenas, mas sim de um processo bem mais completo e complexo que incluiu a formação das tripulações e dos técnicos e a cedência de know how que a Força Aérea Portuguesa adquiriu, empiricamente, desde 1994, altura em que os primeiros F-16 portugueses voaram com as cores nacionais.
Todo o conhecimento que se construiu no nosso país em torno da operação dos F-16, sempre numa espiral ascendente, seria impensável num passado relativamente recente, quando a operação das aeronaves estava limitada a isso mesmo, fruto de constrangimentos de vária ordem, quanto mais não seja das próprias mentalidades.


Posto isto, é curioso, digamos, que na véspera de uma data tão simbólica na nossa História, percebamos que um certo miserabilismo endémico é combatido diariamente por muitas pessoas, civis e militares que, por vezes de forma anónima e longe do afã mediático que tanto nos enche os dias e afronta o nosso interesse - não raras vezes sem pedir licença higiénica - dá de si e do muito que sabe e tem em torno do país, sem solicitação de favores ou reconhecimentos encomendados. Apenas leva bem e longe o nome de Portugal e do bom que cá se faz. Ponto.
A Base Aérea nº5, em Monte Real é um dos locais do mundo onde mais e melhor se sabe sobre o F-16 e foi - é - lá que os Romenos aprenderam a voar o Viper, instruídos por excelentes profissionais, com milhares de horas de voo dedicadas à aeronave, é lá que os técnicos aprenderam a preparar os doze F-16 para que o treino seja possível, dando de si o que melhor sabem do avião, numa cedência sem condições à construção segura de um orgulho que motiva e em prol de um profissionalismo de excelência.



Presentemente, a simples observação dos F-16 romenos, já com as suas novas cores e ainda com as matrículas nacionais é, pois, o culminar de um processo que os levará, daqui por menos de um ano, aos céus dos Cárpatos, levando com eles muito do bom que se faz e sabe em Portugal, numa "silenciosa" revolução de mentalidades, muitas vezes bem mais revolucionária do que aquelas que apenas se auto-proclamam, não provando nada sobre si próprias.
As revoluções são, aliás, crenças que acabam para que outras comecem! E não se decretam.
Fazem-se!


Texto: António Luís/Pássaro de Ferro
Fotografias: Marco Casaleiro

8 Comentários:

Anónimo disse...

Excelente, como sempre!
MF

Anónimo disse...

Quem todos os dias trabalha com alegria contagiante e um proficionalismo extremo, fica naturalmente fatisfeito com estas palavras. Muito obrigado. R.

Anónimo disse...

Caro AL,

Parabéns pelo texto e pela forma clara como passa a mensagem,

mas, não posso deixar de discordar consigo no que se refere a " empiricamente " porque, tendo eu próprio feito parte do 1º grupo enviado para os EUA em 1994, participei desde o primeiro momento na formação e desenvolvimento da base do conhecimento na frota F16 na FAP, sei do que estou a falar, pelo que, peço-lhe desculpa, mas não me revejo nem considero que seja o caso da FAP nas mais diversas valências necessárias á operação permanente e que tão bem tem sabido ser merecedora de tão distintas referencias pelo mundo.

O que é Empírico:
Empírico é um fato que se apóia somente em experiências vividas, na observação de coisas, e não em teorias e métodos científicos. Empírico é aquele conhecimento adquirido durante toda a vida, no dia-a-dia, que não tem comprovação científica nenhuma.
Método empírico é um método feito através de tentativas e erros, é caracterizado pelo senso comum, e cada um compreende à sua maneira. O método empírico gera aprendizado, uma vez que aprendemos fatos através das experiências vividas e presenciadas, para obter conclusões. O conhecimento empírico é muitas vezes superficial, sensitivo e subjetivo.
O conhecimento empírico ou senso comum é o conhecimento baseado em uma experiência vulgar ou imediata, não metódica e que não foi interpretada e organizada de forma racional.
Empírico também é o nome designado para aquele indivíduo que promete curar doenças, sem noções científicas, uma espécie de curandeiro, que na verdade, é um charlatão. É por esse motivo que o antônimo de empírico é "rigoroso", "preciso" ou "exato".
JoMAL

António Luís disse...

Caro JoMAL!

Usei o termo "empiricamente" não nesse âmbito tão amplo, dado à interpretação que faz e bem da palavra, mas apenas para ilustrar o conhecimento que a experiência de trabalho diário com a aeronave proporcionou.
Como é evidente, longe de mim menosprezar o conhecimento técnico, dedicado e competente que foi adquirido à priori e que, obviamente, tornou possível o trabalho inicial e subsequente com o F-16.
Aliás, foi esse cuidado apriorístico que foi acautelado na aquisição do sistema F-16 que, entre muitos fatores que, provavelmente de forma "injusta" escamoteei no texto, fez e faz com que estejamos perante um caso de sucesso.
Não considere, pois, que não tenho como útil e muito importante todo o trabalho feito antes da chegada do primeiro Viper a solo nacional e de que, segundo diz e acredito, foi parte ativa, sabedora e transmissora!
O meu texto pretendeu, apenas, apresentar a venda do F-16 à Roménia como um caso de sucesso, em todos os aspetos.
Agradeço as palavras elogiosas que me dedicou, certo de que continuará leitor do Pássaro de Ferro.

Cumprimentos.
AL

Anónimo disse...

Acho piada como esquecem que a venda foi feita porque nao temos dinheiro para sustentar tais gastos em armamento com a desculpa de que agora a OTAN acha que podemos ter menos avioes.... Mas se foi assim o que mudou na geopolitica nacional? afinal nao temos mais area maritima? A verdade é que espero que mais politicas destas (ironia) venham que justifiquem um gasto ainda menos em armamento.....

Rui Duque disse...

Boas António. Eu acho que portugal está a fazer mal vender os f_16, no meio da insegurança mundial que estamos vivendo não devíamos nos desarmar mais sim amarmo-nos.

António Luís disse...

Rui Duque!
A política de defesa é definida pelos governos e respetivas ideologias e perspetivas sobre a sociedade e o mundo.
Todas são rebatíveis e dos dois lados há razões.
Relativamente à venda dos F-16, é um assunto delicado e para o qual concorrem múltiplos fatores. Limitações orçamentais, falta de pilotos, organização da defesa nacional e no seio da NATO, etc. Não é assunto de fácil trato, digamos.

Cumprimentos.
AL

Júlio Augusto da Silva Pereira disse...

Li com muita atenção todos os vossos comentários e, mais ou menos, de todos gosto.
Tenho uma opinião sobre tal caso, a qual não a devo manifestar de ânimo leve atendendo ao carácter académico que segui. Sobre a Geoestratégia muito se poderá dizer e em relação à sua componente armada, lembro-vos do seguinte:
F-84 G = 125 Unidades
F-86 F = 65 Unidades
A-7P = 50 Unidades
Alpha Jet (contando com os canibalizados) = 50 Unidades
F-16 A/B = 50 Unidades sendo operacionais 39. O nosso território é o mesmo, se calhar a forma de o apreciar e das orientações a seguir para a sua defesa é que são outras e será que são as mais adequadas? Não posso falar mais. Saibamos defender a nossa Soberania e a parte Europeia e mundial onde nos inserimos. Tenho pena que alianemos tais aparelhos. Muitos mais há nos desertos americanos. Não se esqueçam da importância em Euros que vai dar entrada nos cofres do Estado.

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