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BGM-109G Gryphon, o
“Xeque-mate” da NATO
A NATO necessitava de uma nova geração de
armas de longo alcance – e rápido. Foi
proposta uma nova versão “esticada” do F-111 (F-111H) e um pequeno míssil
balístico com 1600km de alcance, chamado inicialmente “longbow”, e projectado pela DARPA, como forma de reequilibrar a
dissuasão com os Soviéticos. Mas não era
assim tão simples. Para os Europeus a
resposta nuclear “flexível” sempre foi ambígua, dependendo do lado do Atlântico
onde cada membro da NATO se situava.
Para os Americanos as armas nucleares estacionadas na Europa eram uma
segunda linha de defesa, atrás das divisões blindadas, prontas a ser usadas
consoante a escalada de uma potencial invasão Russa – e sem arriscar território
Americano. Em contraste, para os
Europeus, qualquer resposta ou contra-resposta nuclear, mesmo que limitada,
seria um desastre total. Nesse sentido,
todas as novas armas nucleares de precisão e rápida resposta, que podiam
incentivar um uso “limitado”, quer da NATO ou Pacto de Varsóvia, eram um perigo
iminente.
O BGM-109G Gryphon
(“Glick-em” para os amigos) teve uma carreira operacional curta mas provou ser
um eficaz adversário face ao SS-20 Saber
Soviético. Conforme o Coronel Doug
Livingston, antigo comandante de umas das baterias, “foi uma das armas chave
que nos ajudaram a ganhar a Guerra Fria”.
Deste “caldo” diplomático surgiram duas opções tecnológicas que aproveitaram ao máximo sistemas já disponíveis e de rápida implementação. Vamos abordar o primeiro, o GLCM (Ground Launched Cruise Missile) ou, para usar o nome oficial, o BGM-109G Gryphon. Mas ninguém usava estas designações. Quando muito era conhecido como “Tomahawk Terrestre” ou, simplesmente, “Glick-em”. Ao contrário de um míssil balístico, como o SS-20, um míssil de cruzeiro mantém um perfil de voo atmosférico suportado pela sua propulsão e sustentação aerodinâmica. Foi uma solução muito experimentada nos anos 50 e 60 para o transporte de armas nucleares mas revelou-se demasiado desajeitada e pouco precisa. Mas nos anos 70 novas tecnologias prometiam revolucionar as capacidades dos mísseis de cruzeiro; pequenas e eficientes turbinas, avanços na electrónica de navegação e miniaturização das ogivas. Outras vantagens eram o baixo custo (comparado com mísseis balísticos) e a flexibilidade de lançamento. Por outro lado, a baixa velocidade (850-900km/h) significava um voo de 3 horas para atingir alvos perto do alcance máximo de 2600-2800km, o que diminuía a capacidade de “first-strike”.
O “Glick-em” em modo de voo; asas, entrada de ar (no ventre) e estabilizadores estendidos. Dois dos “segredos” desta arma eram a turbina (turbofan) F107 produzida pela Williams e a ogiva W84, 150-200Kt, duas obras-primas de engenharia e miniaturização. Atrás vemos o “booster”, que lançava o míssil para fora do contentor e era descartado em menos de 5 segundos.
Mas a extrema precisão, qualquer coisa como 30-60 metros, tornava-o altamente valioso e perigoso. O BGM-109 Tomahawk original foi pensado e desenvolvido para a US Navy no inicio dos anos 70, com modularidade e mobilidade em mente, para facilitar o armazenamento e disparo de navios e submarinos. Aliás, uma das sugestões iniciais envolvia basear mísseis Tomahawk a bordo de submarinos de ataque (SSN) no Mar do norte e Mediterrâneo como resposta ao poderio nuclear Soviético. Mas havia um problema. Os submarinos não eram suficientemente “visíveis”. Este era (e continua a ser) um aspecto importante do equilíbrio nuclear; por um lado deseja-se que os sistemas de armas tenham capacidade de sobrevivência - difíceis de detectar e destruir - mas, ao mesmo tempo, é também crucial que o inimigo saiba da existência dessas armas e das suas capacidades (reais ou apenas bluff!). É um elemento da dissuasão e de credibilidade da ameaça. Não é por acaso que os Russos faziam questão de demonstrar certas armas nos seus famosos desfiles militares.
O terceiro “segredo” do sucesso desta arma era o sistema de controlo e navegação TERCOM (Terrain Contour Matching), que actualiza o perfil de voo do INS com leituras do radioaltímetro em zonas pré-programadas. Em cada leitura o míssil compara com o perfil na memória e corrige qualquer erro e repete o processo até chegar ao alvo. Isto significa que a rota tem de ser previamente construída com imagens recolhidas por satélite ou aeronaves de reconhecimento. Também significa que o “Glick-em” não perde precisão com o passar do tempo e distância – importante para um míssil com um tempo de voo de 3 horas.
Adaptar o BGM-109 Tomahawk para o lançamento em terra seria relativamente fácil – ou assim se pensava. Os engenheiros da General Dynamics descobriram rapidamente que não bastava colocar os mísseis em cima de um atrelado e dar um rádio portátil ao motorista. Desenvolver o veículo transportador-lançador (TEL – Transporter Erector Launcher) e toda a estrutura associada aos sistemas de controlo e comunicações seguras foi mais moroso do que o imaginado. Mas o resultado final compensou largamente a demora. O excelente camião MAN escolhido para a tarefa, a pesar cerca de 35 toneladas, carregava 4 “Glick-em” protegidos numa estrutura de alumínio, com as asas, entrada de ar e “barbatanas” perfeitamente recolhidas – uma herança do Tomahawk ser projectado para ser disparado de tubos de torpedo padrão de 21 polegadas (533mm). Os TEL e veículos de apoio ficariam protegidos em bunkers específicos e, em alturas de maior tensão ou em exercício, dispersados para áreas previamente escolhidas (e bem camufladas) num raio de 80-100km da base. Cada bateria era composta por 4 camiões TEL (16 “Glick-em”), 2 veículos de controlo e comando no mesmo chassis (LCC – Launch Control Center), embora só um fosse necessário para designar alvos para toda a bateria, o segundo era uma reserva para emergências ou em caso de falha mecânica. Com veículos de apoio e segurança, a bateria totalizava 22 veículos e 69 homens. Uma força minúscula tendo em conta o poder de fogo que lhes era confiado; 16 ogivas W-84 com 150Kt cada - um total de 2,4 megatoneladas, ou 160 vezes o poder destrutivo largado sobre Hiroshima…
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