sábado, 15 de fevereiro de 2014

UMA LENDA VIVA DA AVIAÇÃO - ERIC BROWN (M1427 - 45PM/2014)

Spitfire Mk.XI uma das catorze versões que Brown voou

Eric Brown está provavelmente classificado como o mais extraordinário aviador vivo. Na verdade, pode abrir-se o seu caderno de memórias em qualquer página e fazer uma única pergunta: como é que este modesto escocês viveu para contar a história?

Mas o Cap. Eric "Winkle" Brown da Marinha Britânica (Royal Navy) está ainda muito vivo e em forma, enquanto nos serve um copo de xerês na sua casa no West Sussex e reflete sobre a sua vida extraordinária. Este é o homem que voou mais aviões do que qualquer outro na História.

Foi o primeiro homem a voar uma aeronave a jato para e a partir de um porta-aviões. Estabeleceu recordes da aviação que provavelmente nunca vão ser batidos e é reverenciado como um dos maiores pilotos de testes de todos os tempos.

Mas ainda se retirarmos as "acrobacias", a sua história é de igual modo notável. Trata-se de um homem que enganou a morte por pouco, nos destroços de um navio torpedeado, ajudou a libertar Belsen (NR: campo de concentração da II Guerra Mundial) e levou 2000 prisioneiros inimigos armado apenas com uma pistola. Imediatamente no rescaldo da Guerra, Eric teve de interrogar uma corte desconcertante de líderes nazis, incluindo Hermann Goering, bem como o fabricante de aviões Ernst Heinkel e o projetista Willie Messerschmitt. Para mais, teve de testar todas as suas aeronaves. E tudo isto antes de completar 30 anos. Não é por isso de admirar, que quando chegou ao Palácio de Buckingham com a avançada idade de 28 anos pela quarta vez, para receber Air Force Cross, a adicionar às de Serviços Distintos, Membro do Império Britânico, e Ordem do Império Britânico que já tinha recebido, o rei George VI saudou-o com as palavras: "tu não não outra vez!". 
Contudo o jovem estaria de volta em pouco tempo, para receber a Comenda do Rei por Conduta Admirável. Anos mais tarde, acabaria como Ajudante de Campo da Rainha, que acrescentaria a medalha de Comandante da Ordem do Império Britânico à sua coleção.

Em junho de 2013, contou tudo, como orador principal do Festival de História do Vale de Chalke, que coincidiu com o Festival Aéreo de Chalke, abrilhantado por encenações de batalhas aéreas de ambas as Guerras mundiais.

O pai de Eric tinha servido no Royal Flying Corps (RFC) durante a I Grande Guerra e juntamente com todos os anteriores pilotos do RFC, recebeu um convite da recém-formada Luftwaffe, para assistir às Olimpíadas de 1936 em Berlim. Sendo um promissor estudante em Edimburgo e tendo perdido recentemente a mãe, o seu pai decidiu levá-lo a ver os Jogos. Entre os que receberam a delegação do RFC estava o carismático Ás da I Guerra, Ernst Udet, que se tinha entretanto tornado piloto de proezas e levou Eric a dar uma volta - que coisa terrível - e Eric ficou fascinado. Quando aterrou, Ernst fez a antiga saudação dos pilotos e disse a Eric para aprender a pilotar. Durante os estudos em Edimburgo Eric aprendeu alemão e juntou-se à esquadra de aviação da universidade. Durante uma viagem de estudo à Alemanha correspondeu-se com Ernst, que o acolheu no seu círculo social. O estudante de olhos arregalados foi apresentado a alguns dos principais ases da Luftwaffe, incluindo a lendária piloto de testes e campeã mundial de planador Hanna Reitsch, não tendo ideia de que em pouco tempo seriam inimigos. "Udet era como um estudante que considerava todos seus amigos" diz Eric. "Ele costumava ter noites de borga desenfreada no seu apartamento de Berlim. Um dos jogos que se costumavam fazer nessas noites de festa, incluía disparar contra um alvo colocado  atrás dele, usando um espelho. Deu cabo da parede, mas era muito bom nisso. Muitas vezes eu pensava o que é que os vizinhos achariam disso, mas acho que quem era vizinho de um general Nazi não se queixava."
Uma manhã, em 1939, após ter chegado à Alemanha com uma bolsa de estudo, Eric recebeu uma visita inesperada. "Os nossos países estão em guerra" disse um oficial da SS, antes de levar Eric para interrogatório. Temendo o pior, ficou agradavelmente surpreendido, ao ser deixado na fronteira suiça, de onde seguiu para casa o mais rápido possível para se alistar na Royal Air Force (RAF).

Eric Brown

Como qualquer jovem piloto, Eric estava desejoso de ir para o ar e frustrado pela falta de aviões e vagas na RAF. Mas havia muitas vagas na Royal Navy (RN), após a perda do porta-aviões HMS Courageous com mais de 500 homens a bordo, durante as primeiras semanas da Guerra. Eric transferiu-se por isso para a aviação da Marinha, onde recebeu o callsign Winkle e recondicionou o treino para ser aviador naval. Em pouco tempo estava no HMA Audacity, um porta-aviões que escoltava comboios navais entre a Grã-Bretanha e Gibraltar. A sua bravura cedo lhe garantiu a Cruz de Serviços Distintos. Então em dezembro de 1941, o seu navio foi torpedeado e afundado a 450 milhas do Cabo Finisterra. Foi um dos poucos sobreviventes, depois de permanecer na água por várias horas: "não consegui andar por uma semana, mas tive sorte" disse. "Sendo pilotos, tínhamos os coletes salva-vidas adequados".

De volta a casa, as suas capacidades excecionais de piloto deram nas vistas e ele foi transferido para funções especiais como piloto de testes. Entre as suas tarefas, estava descobrir maneiras de voar Spitfires, Hurricanes e Mosquitos a partir de navios, ampliando assim a capacidade da aviação da Marinha. E quando não estava atarefado a testar as mais recentes teorias dos engenheiros, estava encarregue do treino de um entusiástico grupo de pilotos canadianos de Spitfire, com os quais ia para a ação sobre a França. Em 1944, Eric tinha-se mudado para a base ultra-secreta de Aerodinâmica de Voo em Farnborough. Winston Churchill necessitava de uma solução para os foguetes V1 nazis, que aterrorizavam as populações civis. Uma das primeiras tinha mesmo reduzido a escombros a casa de Eric em Aldershot. "A minha mulher ficou ferida, a nossa empregada perdeu um olho e os cães desapareceram, por isso o meu interesse era pessoal" disse. Eric ajudou a desenvolver um sistema de propulsão que permitia aos caças colocar-se lado a lado com as V1 por um curto período, de modo a  tirá-las da rota. "Não podíamos explodí-las porque iríamos voar diretamente por entre os destroços, mas havia um modo de as desviar usando a pressão do ar nas asas (das V1) sem de facto lhes tocar".

Este período levou ao primeiro (e último) acidente de voo. "Um dia o motor ficou em chamas e os meus pés estavam começar a fritar, pelo que era hora de me safar" diz com naturalidade."Aterrei numa lagoa num campo com um touro bastante enraivecido. Todas as vezes que tentei sair da água, ele investia. E a ambulância e os guardas nem sequer se aproximavam. Gritei-lhes para irem chamar o dono. Lembro-me dele a levá-lo e a dizer: vamos Ferdinand".

À medida que os Alidaos progrediam pela Itália e França, Eric tornou-se comandante de uma unidade bastante exótica: Voo de Aeronaves Inimigas em Farnborough. As suas funções consistiam em capturar e avaliar o máximo de material inimigo que pudesse encontrar. Um dos mais desagradáveis foi o Messerschmitt 163, um avião com motor de foguete que funcionava com explosivo líquido. Dezenas de pilotos alemães haviam perecido a tentar desenvolver o aparelho, mas Eric ainda se rido seu voo inaugural: "apercebi-me rapidamente de que a única maneira de aterrar sem explodir, era esgotando primeiro o combustível, pelo que o timing tinha que ser bem calculado".

Em 1945 o desembarque numa pista recém-capturada na Alemanha, ele encontrou as tropas Aliadas a investgar rumores de um campo de concentração em Belsen. Percebendo que Eric tinha melhor alemão do que o seu intérprete, o Brigadeiro no comando, encarregou-o de ajudar na tradução. Eric nunca esqueceu o que viu, nem a falta de remorsos da mulher no comando do campo que interrogou, Irma Grese. "Foi o pior ser humano que conheci" diz Eric. 
Foi enforcada dias depois.

Voou pouco depois para uma base aérea na Dinamarca, para descobrir que os Aliados ainda não a tinham reconquistado:"Eu estava num pequeno Avro Anson e ainda havia uns 2000 tropas inimigos lá. Pensei que estávamos tramados quando aterrei, mas o comandante veio ter comigo, entregou-me a espada e rendeu-se no local".

Dado o seu excelente conhecimento de alemão e aeronaves, Eric interrogou todos os inimigos de topo. Não foi muito amigável com Willie Messerschmitt. "Tivemos uma pequena conversa" diz Eric usando um eufemismo travesso. "Acusei-o de comprometer a integridade doas seus aviões, porque as asas de alguns começaram a ceder. Ele podia ter parado isso!". O Dr. Ernst Heinkel era "um homenzinho engraçado".

Hanna Reitsch

O seu antigo mentor Udet havia cometido suicídio em 1941, mas Eric um dia encontrou-se frente a frente com Hanna Reitsch, uma seguidora de Hitler não arrependida. "Ela estava emocionalmente fragilizada porque tinha sabido recentemente que o seu pai tinha matado todas as mulheres da família e a si próprio de seguida, para as poupar aos russos".
Entrevistou ainda Hermann Goering: "a farda estava a cair-lhe aos bocados, mas aperaltou-se todo quando soube que ia ser interrogado por um piloto. Respondeu a todas as minhas perguntas. A primeira coisa que perguntei foi a sua opinião sobre o resultado da Batalha de Inglaterra, ao que ele respondeu "foi um empate". Disse que eles não tinham sido derrotados, mas que Hitler ordenou a retirada de todas as unidades de caças, para as concentrar na frente russa".

Após a Guerra, eric trabalhou com Sir Frank Whittle, o inventor do motor a jato, registando com risco de vida, numerosas "inovações" no campo da aviação a reação. Entre as suas tarefas menos apetecíveis, estão a investigação do porquê de algumas aeronaves deixarem de funcionar a determinadas velocidades, bem como desaparecer em tempestades.

Nos seus muitos recordes, está o de maior número de aterragens em porta-aviões: 2407. O piloto da US Navy que tentou bater o seu recorde chegou apenas às 1600, antes de sofrer um colapso nervoso. è também altamente improvável que alguém consiga bater o seu recorde de voar 487 modelos diferentes de aviões.

Um orgulhoso avô e bisavô, Eric é típico da sua geração, insistindo que "estava apenas a cumprir o dever". Mas Eric Brown não presenciou apenas a História. Ele fê-la também.
E que grande História.

Fonte: Daily Mail
Tradução: Pássaro de Ferro














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