sábado, 16 de fevereiro de 2013

EU E O FIAT G.91 (M879 - 55PM/2012)

O então Ten Fernando Moutinho num G.91 com as cores alemãs em Leipheim em 1965     Foto:Coleção F.Moutinho

Em novembro de 1965 foi enviado para Leipheim (Alemanha), um grupo de pilotos e de técnicos com o objetivo de receberem treino de adaptação ao Fiat G.91. 
Antes de chegarmos ao destino estivemos dois dias em Colónia e daí seguimos num Nord Noratlas da Luftwaffe para Leipheim.

O grupo era constituído pelos seguintes pilotos:
Maj. Orlando Gomes do Amaral (Chefe da Missão)*
Maj. Armando dos Santos Moreira,
Ten. Fernando de Sousa Moutinho **
Ten. Egídio Avelino Lopes
Ten. José Lopo Tuna
Alf. José Fernandes Nico
SAj. M. Cardoso
SAj. Godinho
1Sar. Guerra
 
Os primeiros Fiat G.91, versão R/4 (monolugares), chegaram a Portugal em Dezembro de 1965 e entraram ao serviço na Base Aérea nº 5 (BA5), em Monte Real.
A ida para a Alemanha foi uma operação quase clandestina. Nessa época Portugal era recriminado internacionalmente pela sua política ultramarina, havendo um boicote à venda de material bélico ao nosso País.
A Alemanha contudo, assumiu a entrega de alguns G.91 que tinha em excedente. Poderá ser especulação e não passar de coincidência, mas de facto, em termos oficiais, não possuo documentos comprovativos (excetuando algumas fotos) da minha ida à Alemanha. O único registo que possuo é pessoal, onde se refere que efetuei cinco voos em parte de novembro e parte de dezembro de 1965. Durante essas semanas, após uma aprendizagem no solo, efetuámos alguns voos de adaptação ao avião e ao seu equipamento. Como éramos todos pilotos experientes não necessitávamos de aprender a pilotar, mas sim aprender a trabalhar com equipamento eletrónico que nos era totalmente desconhecido, em especial o PHI.
O G.91 foi pensado para um campo de batalha restrito e com poucas necessidades de apoio terrestre, excetuando o combustível e o armamento. Tinha um sistema de arranque pirotécnico e não dependia de ajuda exterior para a sua condução e orientação. Aí entrava o PHI, que acoplado a um sistema de efeito Doppler, era extremamente preciso. Se num dos comandos da caixa do PHI introduzíssemos dados sobre uma ponte por exemplo, era certo e sabido que bastava carregarmos no botão certo da caixa e de imediato aparecia a informação da rota e distância ao objectivo. Ao chegar ao ponto zero, lá estaria a ponte.
O PHI (Position Home Indicator) indicava sempre a distância e direção para uma determinado objetivo. O equipamento com que trabalhámos tinha cinco posições. A primeira continha os dados que referenciavam a Base, e as restantes, posições para objetivos pré-estabelecidos. 
O primeiro piloto português a voar um G.91 monolugar, fui eu. E aconteceu por mero acaso:  o Cor. Amaral estava na posição de espera junto à pista, quando teve de regressar ao estacionamento por um problema, julgo nos cintos, o que levou a que, estando eu também em espera, acabasse por descolar em primeiro lugar. Já  o primeiro voo absoluto de um português em G.91 (era um bilugar) foi o Cor Amaral. Eu segui-o de imediato mas já em segundo lugar.
Continuei a voar o G.91 em Monte Real e mais tarde, nas antigas OGMA, ainda fiz mais alguns voos, totalizando 34:50 horas. 
Na Alemanha acabaria por totalizar seis voos, perfazendo 08:40h. Na BA5, precisamente a 26 de Abril de 1966, efetuei o primeiro voo no 5412 e até fins de Julho desse ano fiz mais alguns voos, basicamente de transporte entre Alverca e a BA5 (Monte Real), num total de 14:45h. 
De seguida fui para Angola.
Alguns anos depois, seria colocado nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico (OGMA) nos voos de experiência, onde durante os anos de 1973 e 1974 cumpri mais 11:25h  no Fiat.
Como se pode ver, não voei muito no avião, mas foi no entanto o suficiente para o reconhecer como um avião seguro, embora algo limitado, de acordo com as especificações para que foi construído: um avião para um teatro de operações que não ficasse dependente de infraestruturas do solo.
Além dos já referidos sistema de arranque pirotécnico e sistema de navegação não dependente de ajudas exteriores, tinha ainda boa capacidade para atuação em pistas rudimentares e curtas, características muito apreciadas nos teatros de operação de África, para os quais foi adquirido.
O meu último voo seria efetuado a 18 de Setembro de 1974, no avião com a matrícula 5434, com a duração de 01:30h. 
Não sabia que era o último voo. 
Gostaria de me ter despedido melhor.

Uma curiosidade - Escoltado por F-104

Em Dezembro de 1965, ainda quando estava na adaptação ao G.91 na Alemanha, ao efetuar um voo de navegação baixa, sou surpreendido pelo aparecimento de dois F-104G que nos escoltaram (éramos uma parelha) durante algum tempo.
Lindos!

Texto: Cap (Ref) Fernando Moutinho 

* Primeiro Piloto a voar no Fiat G-91 bilugar
** Primeiro piloto a voar no Fiat G-91 monolugar


2 Comentários:

Mário Sérgio Felizardo disse...

Mais uma vez obrigado, meu comandante. Curiosamente, não guardo nemhuma imagem sua no meu cerebro com o Fiat, mas sim com o F-86. Quando os Fiat's chegaram a M. Real, já não estava colocado na "Linha da Frente", estva muito entretido a inspecionar os Sidwinder, lá para o "interior" do Pinhal. Tinham chegado a M. Real também pouco tempo antes. Como eraamos poucos na inspeção dos mísseis, não fiz o MTU dele. Com pena minha.

Apenas curiosidades minhas.

Jose Matos disse...

Podem ver esta história do Fiat na Alemanha na Mais Alto num artigo que escrevi sobre o tema...

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