quarta-feira, 6 de julho de 2011

GUERRA AERONAVAL- Exercício CONTEX/PHIBEX 2011 (M519 - 22PM/2011)


NRP Bartolomeu Dias

NRP D.Francisco de Almeida

O Pássaro de Ferro teve oportunidade de presenciar in loco um dia de operações no exercício aeronaval Contex/Phibex, que decorreu entre 22 e 30 de Junho de 2011.
Embarcámos por isso no NRP D.Francisco de Almeida, uma das fragatas mais modernas da Marinha de Guerra Portuguesa, sem saber muito sobre o que iríamos presenciar, tal como acontece num teatro de guerra real.

Peça de artilharia da proa de 74mm 

Com o decorrer do dia, tivemos por isso tempo para enfrentar vários incidentes e ocorrências às quais foi necessário reagir como se de um acontecimento real se tratasse: apoio a um navio com uma emergência médica causada por ataque de piratas e mais tarde extinção de um incêndio no hangar do helicóptero Lynx, então ausente.

Socorro humanitário a embarcação

Extinção de foco de incêndio a bordo

Mais tarde lançámo-nos na caça de uma embarcação hostil, entrepondo-nos entre ela e uma segunda por ela perseguida. Todos os militares em postos de combate equipam-se com protecção anti-fogo, contribuindo para aumentar o ambiente de tensão que vai crescendo à medida que a embarcação hostil não obedece aos avisos e ordens que lhe são dadas. As máscaras e luvas que envergam os marinheiros são por isso já uma metáfora do perigo que corremos, quando "abrimos fogo" sobre o navio hostil. Os tiros no entanto acertam no alvo, incapacitando o agressor e podemos todos respirar de alívio.

Comunicação com embarcação hostil

Mal terminamos de descomprimir da acção recente e já a Intel comunica que se prevê a possibilidade de ataque por aeronaves hostis. As fragatas são por definição navios de escolta e protecção, apesar de terem também armamento ofensivo. No caso da D. Francisco de Almeida, concretizado através de mísseis Harpoon, torpedos e na peça de artilharia da proa, que tanto pode utilizar munição de defesa aérea como ofensiva. Dezasseis tubos verticais ao longo da metade posterior da embarcação, guardam outros tantos mísseis Sea Sparrow e serão a par com a referida peça de artilharia e o canhão Goalkeeper, o garante da segurança do navio onde estamos e do que fomos chamados a proteger. Cada fragata tem um número teórico de aeronaves das quais se consegue defender até ficar saturada a capacidade de auto-defesa, apesar de entrar também em conta a variável táctica, quer das aeronaves, quer das embarcações e é aí que se vai desenvolver o jogo de xadrez que nos aguarda.

O Comandante da NRP D.Francisco de Almeida na ponte do navio

Centro de Operações

Ouve-se o ruído das turbinas a entrar em marcha complementando os motores diesel com que navegávamos, e o navio responde em velocidade. Navegamos agora com todas as outras embarcações à vista, num total de cinco: NRP Bartolomeu Dias, FS De Grasse, ESPS Navarra e NRP Bérrio, além do D.Francisco de Almeida em que seguimos. A embarcação do centro, o Bérrio, é a mais valiosa e por isso tem a escolta dos restantes quatro vasos de guerra.
O ambiente é sinistro, em muito contribuindo o mar encapelado pelo vento a rondar os 35 nós e a ondulação generosa que aderna o navio sem contemplações.

Tripulação com equipamento anti-fogo

Recebemos a informação que descolaram as aeronaves hostis e subimos no estado de alerta, até ao ponto de ataque iminente.
Estamos em contagem decrescente para a chegada do inimigo, que nos dizem estar a 40 milhas.
Protejo a máquina fotográfica dos espirros de água que me chegam da luta incessante que a proa mantém com as ondas e fito o horizonte na esperança de conseguir vislumbrar algum ponto no céu. A sensação de estar preso em poucas dezenas de metros quadrados rodeado por mar, sem ter abrigo nem refúgio, faz-me admirar mais a missão de quem abraçou esta carreira como modo de vida. 
Chegam pormenores mais precisos sobre o inimigo: voa a 22.000 pés (cerca de 7.300m). Os F-16 que simulam Mirage F-1 armados com bombas, passam à nossa vertical e nem os vemos. É um inimigo cínico e frio. O radar de seguimento das ameaças, no entanto sabe onde estão e vemo-lo rodar a par com a peça de artilharia da proa, a acompanhar o movimento dos aviões que não vemos. As bombas foram largadas e o navio inicia uma volta agressiva na tentativa de as ludibriar. Se forem bombas guiadas por laser e GPS de última geração, podemos estar em apuros. Podem acertar em alvos em movimento com precisão extrema e têm carga explosiva superior à de um torpedo.

Curva bem marcada durante manobras de evasão

A manobra surtiu efeito mas a batalha ainda não terminou. Recebemos a informação de novo ataque, desta feita a baixa altitude. Provavelmente com mísseis. Os inimigos no ar são agora quatro. De novo a contagem decrescente para a aproximação das aeronaves hostis. Vemos dois pontos a curvar e a descer no horizonte, em atitude marcadamente agressiva. Um alinha com o navio onde estamos. Desta vez vamos olhar o inimigo nos olhos. As peças de defesa rodam mais uma vez, meia dúzia de segundos e passa-nos directamente à vertical. Se fosse a sério não sabemos quem ainda estaria vivo: ele ou nós.

Aeronaves inimigas sobrevoam o ESPS Navarra

Os F-16 simularam o ataque à esquadra por Mirage F-1

Nova ameaça, agora de bombordo, mais dois caças a baixa altitude entram por entre a D. Francisco de Almeida e a De Grasse. Executam um "s" e largam flares. Não atacam. Chega informação de que a nossa aviação chegou ao teatro de guerra e o inimigo por fim recua.

Parelha de aeronaves inimigas largam flares de auto-protecção com o FS De Grasse em fundo


Olho em volta e apesar de nada ter sido a sério, ninguém está com boa cara. A ondulação, as manobras, o vento e o cansaço estão espelhados em todos.
O exercício terminou finalmente. Rendem-se os turnos e apanha-se um pouco de sol no convés de voo abrigados do vento. É tempo de regressar a porto de abrigo.

FS De Grasse e NRP Bartolomeu Dias

Este dia de operações, integrado no exercício Contex/Phibex da força EUROMARFOR, chefiada por Portugal, tem por objectivo a interoperabilidade das forças constituintes (Portugal, Espanha e França), com vista a ter uma força permanentemente disponível para actuar ao abrigo do Direito Internacional e das Nações Unidas, para fazer face às ameaças que se colocam à navegação marítima nos dias de hoje.

NRP D.Francisco de Almeida

A NRP D.Francisco de Almeida partirá em Agosto para o Golfo de Aden no Oceano Índico, para continuar as operações anti-pirataria actualmente confiadas à NRP Vasco da Gama. Quando for a sério, estarão seguramente preparados.

2 Comentários:

amg disse...

fico á espera de mais.
houve exercícios asw?
como as fotos não estão tremidas presumo que se aguentou bem no mar ;)

amg disse...

e já agora (para complementar):
http://vascodagama-atalanta.blogspot.com/2011/07/04jul11-equipa-de-armas-da-vasco-da.html

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