sexta-feira, 13 de junho de 2025

FORÇA AÉREA IRÁ OPERAR O PRIMEIRO SATÉLITE SAR NACIONAL

Individualidades presentes na assinatura do contrato a 12 de junho    Foto: FAP
 

A Força Aérea Portuguesa assinou esta quinta-feira, 12 de junho de 2025, o contrato de aquisição do primeiro satélite de radar de abertura sintética (SAR) de uso nacional. O equipamento será operado pela instituição e integra-se na futura Constelação do Atlântico, projeto luso-espanhol que prevê 26 satélites (12 SAR e 14 óticos) com capacidade de captação de imagens de alta e muito alta resolução.

A compra foi formalizada pelo CTI Aeroespacial, uma parceria entre a Força Aérea, o CEIIA e a GEOSAT, e a empresa finlandesa ICEYE, líder no setor SAR. O investimento conta com financiamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). O satélite permitirá monitorizar o território terrestre e marítimo mesmo em condições meteorológicas adversas.

Durante a cerimónia, realizada nas instalações da Força Aérea em Monsanto, foi também assinado um memorando de entendimento entre as entidades envolvidas, com o objetivo de capacitar Portugal para, futuramente, produzir os seus próprios satélites.

O Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, General João Cartaxo Alves, classificou o momento como “histórico”, destacando o reforço da vigilância e do conhecimento situacional nacional, além do impacto económico e tecnológico do projeto.

A estratégia inclui ainda a criação de um hub aeroespacial em Alverca, que reunirá militares, investigadores e empresas. A iniciativa insere-se no plano “Força Aérea 5.3”, que assume o Espaço como o quinto domínio operacional das Forças Armadas, a par da terra, mar, ar e ciberespaço.

Segundo responsáveis da ICEYE e da Agência Espacial Europeia presentes na cerimónia, Portugal demonstra “liderança e visão” ao posicionar-se como um dos protagonistas europeus da nova economia espacial.



quinta-feira, 12 de junho de 2025

F-16 PORTUGUESES EM MISSÃO DE TREINO MULTIDOMÍNIO DA NATO

F-35 neerlandês junta-se a F-16 português e A330 MRTT de reabastecimento francês sobre a Polónia para a missão F2T2    Foto: FAP
 

No dia 5 de junho de 2025, forças de sete nações da NATO conduziram um exercício liderado pela Aliança do tipo Find, Fix, Track, and Target (F2T2), na Polónia, reforçando a integração, interoperabilidade e eficácia de combate entre aliados.

As missões F2T2 exigem coordenação precisa entre todos os domínios de combate — ar, terra, mar, ciberespaço e espaço — para garantir uma execução bem-sucedida. Durante a missão, o Sistema Aerotransportado de Alerta e Controlo da NATO (AWACS) assegurou o comando e controlo aéreo, facilitando a coordenação multidomínio para localizar alvos simulados e transmitir rapidamente as suas posições a meios aéreos e terrestres com capacidade de ataque.

A realização bem-sucedida destas missões simultâneas sublinhou o papel decisivo do poder aéreo na defesa coletiva da NATO. "Executar missões F2T2 garante que as forças da NATO permanecem prontas para responder a qualquer ameaça potencial à Aliança. Os exercícios de integração multidomínio oferecem oportunidades valiosas para reforçar a prontidão e aprimorar a proficiência tática das nossas forças", afirmou o Marechal do Ar Johnny Stringer, Comandante Adjunto do Comando Aéreo Aliado.

Caças F-35        Foto: Armée de l'Air

A missão integrou sem falhas aeronaves de 4ª e 5ª gerações, incluindo caças F-16 portugueses destacados na missão de Policiamento Aéreo da NATO na Estónia, juntamente com F-35 neerlandeses e noruegueses. As aeronaves foram apoiadas e reabastecidas por um avião francês A330 MRTT, aumentando a flexibilidade operacional e permitindo maior duração da missão.

Enquanto decorria a missão F2T2 na Polónia, uma segunda operação de dissuasão teve lugar simultaneamente mais a sul, na Roménia. Caças Typhoon italianos, F-16 gregos e turcos, e meios terrestres franceses e romenos participaram numa missão conjunta de fogos integrados, demonstrando a capacidade da NATO para executar operações coordenadas e multidomínio.

A conclusão bem-sucedida de duas missões simultâneas e altamente complexas em países distintos da NATO destaca a agilidade e a força das forças aliadas. Estes exercícios constituem oportunidades de treino cruciais, promovendo a interoperabilidade, bem como a confiança e o espírito de camaradagem entre aliados.

"O êxito destas missões simultâneas reforça o papel decisivo do poder aéreo na defesa coletiva da NATO. As Forças Aéreas Aliadas continuam a demonstrar agilidade, alcance e precisão sem paralelo. Estas missões não só reforçam a nossa interoperabilidade, como também transmitem uma mensagem clara de unidade e determinação coletiva", acrescentou o Marechal do Ar Stringer.

A capacidade da NATO de gerar efeitos precisos, integrados e multidomínio sublinha a sua prontidão e competência para proteger território e populações, salvaguardar o espaço aéreo aliado e dissuadir potenciais agressões — garantindo a continuidade da segurança e estabilidade da Aliança.

Estes exercícios conjuntos têm uma função que transcende o treino operacional — consolidam confiança mútua, partilha de procedimentos táticos e uma cultura de interoperabilidade essencial à dissuasão eficaz. A NATO mostra-se, assim, pronta a enfrentar qualquer desafio à integridade do seu território, com agilidade, precisão e alcance. 

Fonte: NATO



domingo, 8 de junho de 2025

CONFLITO NUCLEAR NATO vs PACTO DE VARSÓVIA – Tácticas e Dilemas (Episódio 7) - [M2623 - 46/2025 ]

 Episódios anteriores: 1 - 2 - 3 - 4 - 5 - 6

“As mulheres contra-atacam!” - Protestos anti-nucleares

Outubro de 1983.  Base de Greenham Common, Inglaterra.  Mensagem urgente para a 501st Tactical Missile Wing.  Alarmes soam e ecoam por entre os muros de betão dos bunkers enquanto soldados, técnicos de mísseis e forças especiais correm para os seus veículos – duas baterias de “Glick-em” recebem ordens para sair imediatamente.  Cada segundo conta.  Pode ser um treino.  Mas também pode ser o derradeiro início de um conflito nuclear entre o Pacto de Varsóvia e a NATO.  È imperativo que a bateria saia de Greenham o mais rápido possível – um SS-20 Saber russo pode estar a caminho.  O primeiro veículo a chegar ao portão da base é um HMMWV, mais conhecido por “Humvee”, seguido de um veículo blindado e vários lançadores-transportadores.  Mas o impressionante comboio de veículos não avança muito.  Milhares de mulheres bloqueiam a estrada, cantam e tocam buzinas numa acção de protesto contra a presença dos malvados “imperialistas americanos”.  Centenas de protestantes deitam-se na estrada, bloqueando totalmente a passagem.  Nenhum militar sai dos veículos, a pouco invejável responsabilidade de desbloquear a situação está nas mãos da policia inglesa, que faz o melhor para retirar individualmente cada protestante – uma tarefa tão ingrata como impossível.  Um jovem soldado americano, motorista de um camião MAN 8x8 de 10t, comenta jocosamente (ou talvez não) com o seu superior, sentado á sua direita;

- Sir, I could just run over them…

- Stand fast Private, stand fast – responde o Tenente num tom muito pouco convincente….

Protestos como este bloqueio de estrada em Inglaterra fizeram parte de um movimento que ganhou considerável força nos anos 70-80.  Em alguns países Europeus a pressão foi tão grande que fez vários líderes políticos hesitar em receber armas nucleares no seu território por receio de protestos semelhantes e perda de apoio popular.

Protestos como este tornaram-se comuns desde que um “acampamento da paz” improvisado foi criado á porta da base Inglesa.  Os residentes deste campo, quase exclusivamente composto por mulheres, pertenciam ao crescente movimento anti-nuclear que florescia na Europa Ocidental.  O objectivo destes protestos?  Forçar a NATO a abandonar os planos de localizar as baterias de BGM-109G Gryphon na Europa – bem como os Pershing 2.  Curiosamente, ou talvez não, estes zelosos activistas não viam necessidade de exigir o mesmo às autoridades Soviéticas, ou seja, o abandono dos mísseis balísticos SS-20 Saber apontados ás cidades Europeias...  Bruce Kent, um dos líderes do movimento afirmou sobre os “Glick-em”; “Não acrescentam nada á nossa segurança, mas aumentam a nossa insegurança”.   Na realidade, os “Glick-em” (e seus os primos estratégicos, os Pershing 2) não desestabilizavam a NATO.  Pelo contrário, criavam instabilidade na direcção contrária – na União Soviética.  Estas armas eram uma demonstração de força do Ocidente, mostrava que não iria ceder perante os Russos e convenceram o Kremlin que a NATO não se iria intimidar com ameaças.  

Este tipo de protestos políticos tornaram-se comuns nos anos 80, não só na base de Greenham Common como também nas restantes bases que acomodavam os “Glick-em” na Bélgica, Holanda e Alemanha.  Apenas as baterias baseadas na base de Comiso na Sicília, uma localidade relativamente isolada dos centros populacionais, escapou á atenção dos activistas.  

E foi esta realização que abriu caminho ao início de conversações sérias sobre o acordo INF (Intermediate-range Nuclear Forces – Tratado de Armas Nucleares de Médio-alcance) que iria, eventualmente, remover toda uma classe de armas nucleares dos arsenais das super-potências.  Essas conversações, que se iniciaram em 1981, só começaram a ganhar corpo a partir do momento que os “Glick-em” surgiram operacionalmente na Europa.  A posição da administração de Ronald Reagan era simples; “zero-zero” – eliminação total de todas as armas nucleares de médio-alcance, NATO e Pacto de Varsóvia.  Moscovo concordava com a primeira parte… mas nem tanto com a segunda.  Sugeriram limitar o número de ogivas a 300, mas incluindo a França que nem era sequer membro da NATO.  Outra proposta cínica foi a de basear os mísseis SS-20 Saber para lá dos Montes Urais – só que a mobilidade dos lançadores permitia a rápida deslocalização em tempos de tensão.  Nem pensar.  Enquanto estas discussões continuavam a pressão dos protestos anti-nucleares em vários países Europeus (alguns desses grupos patrocinados por Moscovo) aumentava e os Soviéticos acreditavam que o tempo estava do lado deles.  Mas a NATO manteve-se firme e em 1983 a quase totalidade das baterias de “Glick-em” e Pershing 2 estava operacional.  Perante isto, os Russos “amuaram” e abandonaram as conversações no final de 1983 e durante todo o ano de 1984 não deram sinal de vida.  

Não deixa de ser irónico reflectir sobre as sinceras preocupações destes activistas.  Mas acabam por protestar contra as únicas armas que os protegiam de um ataque nuclear Russo.  Não foram estes protestos que convenceram o Pacto de Varsóvia a destruir as suas armas nucleares de médio alcance – foi a presença dos “Glick-em” e dos Pershing 2 que os obrigou a isso. 

Eventualmente, Moscovo cedeu e concordou em regressar à mesa de negociações em 1985.  Sem entrarmos em muitos detalhes sobre os avanços e recuos das diferentes propostas apresentadas nos meses seguintes, o importante é que em Fevereiro de 1987 Gorbachev aceitou a proposta americana “zero-zero”.  Isto incluía desmantelar dos “Glick-em” e Pershing da NATO bem como os SS-20 Saber, os SS-4 Sandal, SS-5 Skean, SS-12 Scaleboard e SS-23 Spider do Pacto de Varsóvia.  E mais.  Os Russos concordaram com um protocolo de verificação sem precedentes, que incluía verificações mútuas da destruição das armas.  Talvez a situação económica periclitante na União Soviética tenha sido determinante para este desfecho assim como a determinação de Ronald Reagan de injectar milhares de milhões de dólares no programa SDI (Strategic Defence Initiative – o famoso “Star Wars”), que os Soviéticos não podiam acompanhar, seja em termos tecnológicos ou económicos.  

O sarcasmo dos Americanos no seu melhor.  De facto, a melhor forma de garantir a paz foi a determinação da NATO em não ceder perante o crescente poderio nuclear Russo nos anos 70.

Este acordo também validou a estratégia da NATO de implantar os “Glick-em” e Pershing na Europa.  Demonstrou de forma convincente a seriedade do compromisso americano com a segurança dos parceiros da NATO e a solidez da solidariedade da Aliança.  O acordo INF foi assinado em 1987 e, a partir daqui, as coisas aceleraram rapidamente, especialmente após a queda do muro de Berlim e o colapso da União Soviética.  Em Maio de 1991 todas as armas nucleares de médio alcance – que durante muitos anos amedrontaram milhões de pessoas - estavam reduzidas a um grande monte de (muito cara) sucata. 

Infelizmente, o tratado INF foi sendo lentamente esvaziado nos últimos 15 anos e acabou por ser completamente ultrapassado por eventos recentes.  

Mas isso é história para outro dia.

 Texto e seleção de imagens: Icterio
Edição: Pássaro de Ferro


quarta-feira, 4 de junho de 2025

FABRICANTE DE F-35 ASSINA ACORDO PARA FORNECEDORES PORTUGUESES [M2622 - 45/2025 ]

Lockheed Martin F-35A Lightning II

A Lockheed Martin - fabricante do F-35 - assinou um memorando de entendimento com o AED Cluster Portugal para envolver empresas portuguesas na produção, investigação, manutenção e formação relacionadas com o F-35, caso Portugal avance com a compra do caça de 5ª geração. 

O acordo foi anunciado ontem 3 de junho de 2025, à margem da 12.ª edição do AED Days, em Oeiras.

Primeiro dia do AED Days em Oeiras       Foto via Embaixada dos EUA

Segundo JR McDonald, vice-presidente da Lockheed Martin para o programa F-35, a ideia é que o avião venha a incorporar capacidades fornecidas pela indústria portuguesa, aumentando o valor do projeto na Europa, que já produz cerca de 25% dos componentes do modelo.

"A Lockheed Martin está empenhada na construção de parcerias fortes com a indústria dos países que operam ou estão a considerar a aquisição do F-35. Este memorando de entendimento com o AED Cluster Portugal representa um passo importante para aprofundar a forma como as empresas portuguesas podem beneficiar das oportunidades económicas de todo o portfólio da Lockheed Martin" completou.

Representantes da Lockheed Martin e AED Cluster na assinatura do Memorando de Entendimento  Foto via Embaixada dos EUA em Portugal

O objetivo é integrar a indústria nacional num projeto de alta tecnologia e potenciar o retorno económico, indo ao encontro do que afirmou o ministro da Defesa recentemente, referindo-se aos programas de reequipamento das Forças Armadas.

Diga-se a propósito, que Portugal e a Lockheed Martin têm já um longo historial de cooperação em programas anteriores, alguns dos quais se mantêm até aos dias de hoje, como o F-16, P-3 e o C-130.

Apesar de inicialmente o Chefe de Estado Maior da Força Aérea  ter revelado o interesse em adquirir 27 F-35, com um custo estimado de 5500M EUR a 20 anos, a posição da nova administração Trump em relação à NATO e tradicionais aliados, levantaram dúvidas quanto à previsibilidade e fiabilidade do parceiro americano. O ministro da Defesa, Nuno Melo, afirmou então que Portugal deveria considerar outras opções, sobretudo de origem europeia, e destacou a importância do retorno para a indústria nacional como critério decisivo.

A francesa Dassault e a sueca Saab manifestaram então interesse em realizar propostas com vista a fornecer Rafale ou Gripen, respetivamente, para substituir a frota F-16, já há 30 anos em operação pela Força Aérea Portuguesa.

A preferência da Força Aérea pelo F-35 manteve-se no entanto, uma vez que nenhum caça europeu da atualidade proporciona as capacidades que o F-35 possui.

O acordo ora celebrado com a Lockheed Martin, demonstra que a empresa está sensível às condições portuguesas, para conseguir levar o negócio a bom porto.



domingo, 1 de junho de 2025

ESQUADRA 504 COM BANDEIRA BRANCA [M2621 - 44/2025 ]

"Bandeira branca" a 29 de maio com a totalidade da frota Falcon disponível para voo    Foto: FAP
 

A Força Aérea Portuguesa anunciou "bandeira branca" da frota Falcon da Esquadra 504 - Linces no passado dia 29 de maio, o que significa que a totalidade das aeronaves atribuídas estavam disponíveis para voo.

A ocasião ocorre escassos dias após a integração operacional do Falcon 900, incorporado em 2023, mas em manutenção desde então. 

Na foto é possível observar assim a mais recente aeronave dos "Linces" (n/c 27404), ladeado por dois Falcon 50 (n/c 17401 e 03) já operados pela Esquadra 504 desde a década de 1990. 

Isto significará portanto que o 17402 terá sido definitivamente abatido ao serviço e já não faz por isso parte da frota que tem como missão a mobilidade aérea, que inclui transporte logístico infra-teatro e inter-teatro, evacuações sanitárias, transporte de órgãos e transporte de altas entidades.

O Falcon 900 é agora a aeronave mais nova da frota, com cerca de 30 anos, enquanto os Falcon 50 contam já cerca de 35 anos no ativo, muito embora tenham recentemente sido alvo de modernizações, centradas principalmente nos sistemas de navegação e comunicações.

A Esquadra 504 está sediada na Base Aérea nº6 no Montijo, embora opere normalmente a partir do Aeródromo de Trânsito nº1 em Figo Maduro. Uma situação que eventualmente mudará nos próximos tempos, com a anexação dos terrenos do AT1 prevista pela expansão do Aeroporto Humberto Delgado, que levará esta unidade da Força Aérea a relocalizar-se na BA6, até o Novo Aeroporto de Lisboa estar construído.



CONFLITO NUCLEAR NATO vs PACTO DE VARSÓVIA – Tácticas e Dilemas (Episódio 6) - [M2620 - 43/2025 ]

Episódios anteriores: 1 - 2 - 3 - 4 - 5

Pershing 2, o “sniper nuclear” da NATO

Como já analisamos, a resposta da NATO á ameaça do SS-20 Saber foi dupla.  Uma foi o míssil de cruzeiro BGM-109G Gryphon, que mais não era do que a adaptação terrestre de uma arma já existente, o famoso Tomahawk.  A segunda resposta, curiosamente, também resultou de um aperfeiçoamento radical de outra arma, o míssil balístico de curto-alcance MGM-31 Pershing.  Este míssil era capaz de atingir um alvo a cerca de 700km de distância com uma ogiva W50 de 400Kt com precisão de 400 metros – “not great, not terrible”.  O problema é que esta potente ogiva dificilmente poderia ser usada num contexto Europeu sem provocar baixas civis assustadoras e impensável destruição nos centros populacionais e industriais – não esquecer que uma das funções destas armas era deter as divisões mecanizadas Soviéticas, o que implicava o seu uso perto das fronteiras ou mesmo em território Alemão.  Além do mais, o SS-20, com os seus 5000km de alcance, 3 MIRV com precisão semelhante e grande mobilidade, era uma ameaça incontornável.  Era necessária uma resposta mais credível.      

Lançamento de um Pershing 2 de teste em 1983.  Perfeitamente identificáveis os dois estágios e o RV (Reentry Vehicle) com o cone dieléctrico na extremidade frontal – “transparente” para as ondas de radar do sistema de comparação terminal mas suficientemente resistente para suportar o calor da reentrada atmosférica.

A Martin Marietta fez aquilo que muitos (irritantemente) gostam de apelidar “pensar fora da caixa”.  Para melhorar o alcance, e sem alterar as dimensões do míssil, os dois estágios dos motores foram profundamente redesenhados e melhorados, principalmente o “booster”.  Foi também utilizado um novo combustível sólido de maior energia e densidade (cortesia do míssil terra-ar Patriot) e, para criar mais espaço, toda a estrutura dos depósitos foi construída com Kevlar.  O resultado foi um aumento radical do alcance para 1800km (os Soviéticos acreditavam que era de 2500km), apesar de manter as mesmas dimensões e utilizar os mesmos veículos de transporte e lançamento.  Mas o maior avanço tecnológico não era esse.   A ogiva W50 de 400Kt foi substituída por uma W85 de potência variável entre 80Kt e uns “míseros” 5Kt.  Qual seria a utilidade de uma ogiva nuclear de tão baixo rendimento?  Bem, conforme já vimos nos textos anteriores, a lei do inverso do quadrado demonstra que uma ogiva com maior precisão necessita de (muito) menor potência para atingir o mesmo resultado.  Um dos exemplos mostrava que um melhoramento de 50% na precisão (550m para 275m) permitia a redução da ogiva numa proporção de 10 (1Mt em vez de 10Mt).  E foi isso que a Martin Marietta conseguiu, encolheu os respeitáveis 400 metros de precisão do Pershing (semelhante ao SS-20) para uns insignificantes 30 metros!  A forma como esta precisão foi conseguida é melhor demonstrada no diagrama abaixo;

O que a Martin Marietta conseguiu criar no Pershing 2 foi agregar ao habitual sistema de navegação inercial (comum nos mísseis balísticos, como o Saber) um sensor guiado na fase terminal.  Depois de esgotados os dois estágios de propulsão o RV, ou veículo de reentrada, alinha a ogiva durante a fase de médio-curso (onde atinge Mach 12) e prepara a reentrada na atmosfera.  Na fase terminal, a cerca de 15000 metros de altitude, o RV executa uma manobra para reduzir a velocidade e activa o radar de mapeamento do terreno.  O radar realiza varrimentos sucessivos em intervalos programados, o computador compara essas leituras com as imagens do alvo guardadas na memória e ajusta constantemente a trajectória até que ambas coincidam.

Este nível de precisão, aliada ao curto tempo de reacção e velocidade (apenas seis minutos de voo para atingir um alvo a 1800km), transformava o Pershing 2 numa arma particularmente temível para os Russos.  Permitia ataques devastadores de “decapitação” nos centros controlo e comando (e políticos) do Pacto de Varsóvia.  E isto preocupava seriamente os líderes Russos, dada a centralização de poder e das linhas de comando extremamente rígidas e burocráticas das estruturas militares comunistas.  Esta velocidade - de voo e de reacção - tornavam-no também numa excelente arma para eliminar alvos que exigiam um tempo de resposta imediato, como formações blindadas em movimento, bases aéreas, bunkers e até navios e submarinos (particularmente os SSBN) ainda ancorados.

O alcance de 1800km exigia que todos os 108 Pershing 2 fossem localizados na Alemanha Federal, o mais perto possível das fronteiras do Pacto de Varsóvia.  Especificamente, 36 (mais 4 sobressalentes) em Schwaebisch-Gmeund, 36 (mais 4) em Neu Ulm, 36 (mais 4) em Waldheide-Neckarsulm e mais 12 de reserva em Weilerbach.

As capacidades conjuntas dos 464 mísseis de cruzeiro “Glick-em” e dos 108 mísseis balísticos Pershing 2 ofereciam á NATO enorme capacidade de dissuasão, credibilidade na resposta e flexibilidade de opções.  Por um lado, o grande alcance dos mísseis de cruzeiro permitia que ficassem baseados longe das fronteiras (o que aumentava a sobrevivência) mas a velocidade relativamente baixa traduzia-se num voo que podia chegar a 3 horas.  Por outro lado, o míssil de cruzeiro é a arma nuclear “stealth” por excelência; o lançamento discreto e o voo a altitude muito baixa tornam a detecção particularmente difícil – ideal para ataques surpresa.  Em contraste, o menor alcance do míssil balístico Pershing 2 significava que ficaria localizado em zonas de maior risco mas compensaria pela enorme velocidade, entre Mach 10-12 na fase de médio-curso, que dificultaria (ou impossibilitaria?…) qualquer tentativa de intercepção.  Em oposição aos mísseis de cruzeiro, os balísticos são tudo menos “stealth”.  O lançamento e trajectória balística denunciam imediatamente estas armas perante radares especializados (alguns em satélites) de longo alcance.

O RV, com a ogiva W85 a bordo, a milissegundos do impacto.  A precisão demonstrada nos testes superou as expectativas mais optimistas embora o sistema de reconhecimento por radar exigisse alvos com forte eco electromagnético.        

Conforme Harold Brown, Secretário de Defesa dos EUA; “a entrada em serviço da dupla mista míssil de cruzeiro/míssil balístico protege contra qualquer limitação ou falha de um dos sistemas, oferece a flexibilidade de escolha da melhor arma para cada missão e complica enormemente o planeamento inimigo.”  Os “Glick-em” e os Pershing 2 representavam também a superioridade tecnológica da NATO.  Tecnologia que os Soviéticos eram incapazes de duplicar; particularmente os sofisticados sistemas electrónicos de navegação e aquisição de alvo destas armas.  
Assim sendo, qual seria a resposta Russa perante esta ameaça? 

 Texto e seleção de imagens: Icterio
Edição: Pássaro de Ferro

sexta-feira, 30 de maio de 2025

COMEMORAÇÕES DO 73º ANIVERSÁRIO DA FAP NA FIGUEIRA DA FOZ - Programa completo [M2619 - 42/2025 ]

 

A Força Aérea Portuguesa apresentou ontem 29 de maio de 2025, o programa completo das comemorações do 73º aniversário da instituição, numa sessão realizada na Câmara Municipal da Figueira da Foz, município onde se realizará a maioria das atividades.

Entre 28 de junho e 6 de julho, serão assim levadas a cabo  um conjunto de atividades militares, científicas, culturais, lúdicas e desportivas, com o objetivo de dar a conhecer as capacidades aeroespaciais da Força Aérea e também promover uma aproximação à comunidade local.

Momentos musicais, concertos, provas desportivas, seminários, exposições, batismos de voo, cerimónias militares e exibições aéreas, irão decorrer de acordo com o programa na foto de capa (clicar para abrir em tamanho maior).




quinta-feira, 29 de maio de 2025

PRIMEIRO VOO DO 3º KC-390 DA FAP [M2618 - 41/2025 ]


Frames do vídeo da chegada do voo inaugural do futuro 26903 da FAP

O terceiro KC-390 da Força Aérea Portuguesa (FAP) realizou hoje o primeiro voo, com o callsign ENSAIO56, a partir da pista da Embraer em Gavião Peixoto, São Paulo, Brasil, com a duração aproximada de 2 horas.

Rota do voo inaugural do terceiro KC-390         Imagem: screenshot FlightRadar24

A chegada do voo inaugural do futuro n/c 26903 da FAP foi registado, como de costume, pelo canal do Youtube Brazil Aviation Araraquara, que aqui partilhamos.


A entrega da terceira aeronave de um total de cinco contratadas em 2019, que deverá ocorrer brevemente, caso tudo se tenha processado normalmente, dá-se numa altura em que a Esquadra 506, que opera o modelo na FAP, está reduzida de momento a uma aeronave operacional, na sequência do incidente ocorrido em terra no Aeródromo de Trânsito nº1 no passado dia 22 de maio, com o 26901.



DELEGAÇÃO PORTUGUESA NA LOCKHEED MARTIN PELO F-35 [M2617 - 40/2025 ]

Lockheed Martin F-35A Lightning II

A Delegação Portuguesa à Assembleia Parlamentar da NATO (AP NATO), composta pelo Deputado Hugo Patrício de Oliveira (PSD), na qualidade de Presidente da Delegação; pelo Deputado Marcos Perestrello (PS), Presidente da AP NATO, pela Deputada Mariana Vieira da Silva (PS), na qualidade de Vice-Presidente da Delegação em exercício, e pelos Deputados Pedro Pessanha (CH), Bruno Vitorino (PSD), Martim Syder (PSD) e Luís Dias (PS), participou na Sessão da Primavera da AP NATO, entre 22 e 26 de maio de 2025, em Dayton, no Ohio, Estados Unidos da América.

De acordo com informação avançada pela Assembleia da República, esta mesma Delegação realizaria uma visita às instalações da Lockheed Martin em Fort Worth, Texas, no dia 21 de maio de 2025, a convite da Vice-Presidente da Lockheed Martin Aeronautics Company para as áreas da Estratégia Aeronáutica e Desenvolvimento Empresarial, para partilhar informação sobre o programa F-35 daquela companhia e debater uma cooperação industrial.

Recordamos que no seguimento das posições da Administração Trump em relação à NATO e tradicionais aliados, o ministro da Defesa Nuno Melo assumiu publicamente considerar outros modelos de caça - eventualmente de fabrico europeu - para substituir a frota F-16 da Força Aérea Portuguesa. 

Já depois disso, no entanto, o Chefe de Estado Maior da Força Aérea, reafirmou a preferência pelo F-35, que não tem nos tempos mais próximos, um equivalente operacional.



domingo, 25 de maio de 2025

FALCON 900 DE REGRESSO A PORTUGAL APÓS LONGA MANUTENÇÃO NA SUÍÇA [M2616 - 39/2025 ]

Falcon 900 n/c 27404 na final para aterragem no Aeroporto Humberto Delgado, pelas 18h05 de sexta-feira 23 de maio de 2025      Foto: Rui Miguel

O Falcon 900 incorporado na Força Aérea Portuguesa (FAP) em 2023, regressou esta sexta-feira 23 de maio, a Portugal, ao que parece a título definitivo, após cerca de dois anos em profundos trabalhos de manutenção, na Suíça.

Com efeito, a aeronave (ex CS-DTP) que transitou para o Estado Português para regularização de dívidas do anterior proprietário, esteve cerca de dois anos em manutenção em Genebra após receber a matrícula 27404 da FAP. 

Após um breve regresso a Portugal no dia 22 de maio de 2025, tendo aterrado em Beja e realizado o que parece ter sido um voo de experiência ao largo da costa ocidental portuguesa, retornaria a Genebra ao final do mesmo dia. 

Rotas do Falcon 900 no dia 22 de maio      Imagem: ADSB- Exchange

De acordo com as publicações partilhadas nas redes sociais da Força Aérea, "o último teste de voo da aeronave teve resultados positivos", pelo que o regresso definitivo, com aterragem no Aeroporto Humberto Delgado em Lisboa, deu-se pelas 18h05 de sexta-feira 23 de maio, "estando agora [a aeronave] preparada para integrar a Esquadra 504 - “Linces”.

Este Falcon 900B irá por isso juntar-se agora aos três Falcon 50 dos "Linces", na missão de transporte aéreo geral e especial e evacuações aeromédicas.






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