sábado, 1 de junho de 2013

RESGATE DE TCHAMUTETE (M1022 - 160PM/2013)

Nord N-2502 Noratlas            Foto: Autor desconhecido

No regresso de uma viagem a Lisboa (como membro do MFA) encontro uma "comissão de receção" à minha espera. 
Estranhei, até que me contaram o seguinte:
Numa missão para recolha de refugiados, na Jamba (região dominada pela UNITA), os militares deste Movimento aprisionaram o avião (Noratlas), mas nada de mal fizeram à tripulação, que foi transportada de Jeep para Serpa Pinto para o Caminho de Ferro.
Diga-se que a Força Aérea tinha conseguido criar e manter um clima de neutralidade, que permitia que fossemos a todas as diferentes áreas e recebidos com suficiente urbanidade pelos diferentes Movimentos.
Daqui se compreende o envio, pela UNITA, da tripulação para arranjarem transporte para casa.  Esta ação hostil, devia-se ao rescaldo das reações políticas dos Movimentos ditos de Libertação, a quem não agradou o facto das nossas tropas terem desarmado os Movimentos, mas reentregarem as armas ao MPLA. Em poucos dias o mapa político de Angola ficou dominado por esta força. 
Os outros não gostaram.

Perante a descrição dos meus colegas, a minha reação foi: "temos de ir resgatar o avião!"
Ofereci-me e fui eu tratar do resgate.
Na manhã do dia seguinte, com mais uma tripulação para o outro avião, dirijo-me a Nova Lisboa que, nessa altura, estava sob a autoridade da UNITA.
No aeroporto falo com um chefe da UNITA, explico-lhe a situação e peço-lhe que me arranje um membro importante do Movimento para me acompanhar, possibilitando assim negociar com os militares da UNITA.
Lá fomos para a Jamba.
Aterrámos, mas ao pararmos no estacionamento, fomos cercados por forças locais, que montaram um esquema agressivo à volta do avião: um morteiro, duas metralhadoras e vários elementos armados.
Perante tal espetáculo, conhecendo eu as características dos elementos da UNITA, que primavam pela ingenuidade, abri a janela da cabine e, como se nada de extraordinário se passasse, sorrindo, perguntei pelo Comandante da Força, pois tinha comigo um Comandante deles para lhes falar. Ficaram sem saber o que fazer, mas eu com o ar mais displicente do mundo, apresentei-lhes o membro da UNITA que tinha trazido de Nova Lisboa. 
Pela janela conversaram e pouco depois era levantado o cerco armado. Abrimos as portas do avião e alguns minutos depois estávamos a conversar, no chão, numa boa camaradagem.

Conclusão. A tripulação adicional regressou no avião que lá estava sequestrado, transportando alguns passageiros e “imbambas”, para Nova Lisboa, onde deixou o elemento da UNITA que serviu de parlamentar.
Quanto a mim, depois de verificar o avião sequestrado, descolámos para Pereira de Eça mais a sul, onde fomos apanhar mais alguns refugiados para Luanda.
Foi à tangente porque descolámos dali pelo lusco-fusco.
Tudo bem…
Esta missão ocorreu em 20 de Setembro de 1975.


Texto: Cap. (Ref) Fernando Moutinho

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