terça-feira, 25 de março de 2008

O Pássaro de Plástico -- uma dissertação...


O mote deu-o naturalmente o "21" com o diorama que levou à exposição de modelismo de Maceda no ano passado (2006).

Não desfazendo daquilo que aqui já tive oportunidade de contar aqui sobre a origem de um apelido, o meu, o bichinho carunchoso e comichento dos aviões ainda vem de antes, de uma infância ainda tenra, ali por volta do tempo do liceu, logo depois do ciclo preparatório, e pelas voltas às prateleiras pejadas de kits do Bazar de Paris, no Porto.
Se bem que, a memória já não é o que era, e portanto não posso dizer que nasceu ou deixou de nascer aqui o dito bichinho, mas foi por certo um dos cenários onde foi cultivado, qual cultura de bactérias em vidrinho de laboratório, seguramente uma das muitas formas de alimento da doença durante a minha vida à roda dos aviões, independentemente da altura mais ou menos activa.
Mas aqui, neste cadinho que foi para mim esta loja, o local onde nasceu e cresceu o fascínio dos bonitos e coloridos desenhos das caixas dos kits novos de todas as marcas, de todos os aviões, conhecidos e até estranhos, me foi levando a decorar nomes e marcas e histórias, e formas e cores, e onde se delinearam projectos de comprar e montar todas aquelas maravilhas que nos faziam brilhar os olhos e salivar abundantemente com o som das campainhas emanadas do nosso cérebro.
Comprar qualquer uma daquelas peças seria o realizar de um sonho, mas com uns tostões sacrificados aqui e ali, sempre se conseguia ir lá buscar um kit ou outro, das gamas mais baixas (os "blisters" da Airfix), que me apressava a encher de uma cola qualquer mal chegava a casa só para os ver prontinhos numa pista improvisada com placas de madeira (aglomerado) cravadas na loja de passamanarias (as que vinham no interior das peças de tecido, comprado a metro, com que a minha mãe me fazia as calças).
Só mais tarde surgem as primeiras e grotescas utilizações de tintas, e de muitos outros materiais, utilizados da mesma forma tosca, ainda que sejam eles preciosismos altamente avançados tecnologicamente, neles deixo ficar sempre as mesmas dedadas de tinta e de cola no plástico, à mistura com pingos de sangue dos cortes com o x-acto, e aos pelos esquecidos pelos pincéis já gastos cujos pelos ficam espalhados na tinta que cobre os kits.
Ainda hoje, sinto algum resquício desse fascínio, cada vez que deambulo numa loja, e farejo com os olhos e tacteio as caixas, analiso os pormenores da construção, o detalhe minúcioso dos novos materiais como as fotogravuras, as resinas e os decalques feitos da mais precisosa delicadeza da precisão laser, a ânsia e o deslumbramento é o mesmo, embora todos nós continuamos sem perceber de onde é que isso vem, mas a sua origem assenta, nesse deslumbramento que ocorreu na nossa meninice, por certo.
Agora, uma e talvez a principal diferença, reside no facto de termos dinheiro no bolso, ou num qualquer pedaço de plástico (tipo: faz-de-conta-que-temos-dinheiro-no-banco), o que faltava então, não hesitamos em adquirir os kits às “pázadas”, enchendo diversos espaços em casa com castelos construídos de caixas empilhadas, castelos de sonhos que se calhar nunca iremos conseguir concluir ou concretizar, pela falta de tempo, desmotivação ou Parkinson, pois não sabemos o que nos reserva o futuro.

Mas eu estava a falar de kits porquê ...? Ah, já sei !
É aqui que reside parte ou a totalidade da doença, à mistura com outras coisas por aqui ditas, por mim ou por outros igualmente sapientes de como estas coisas surgem e igualmente doentes, da doença deste bicho, o dos aviões.


Acabei por falar um pouco (talvez demais) do modelismo, mas o modelismo não é só feito deste simples e elementar fascínio, é algo de mais complexo, como o próprio hobby em si, é ele minucioso, delicado e picuínhas (ó Dias: não estou a falar de ti), é algo que é só nosso e não conseguimos transmitir, por mais que estupidamente continuemos a tentar.
Depois, há toda uma vertente alargada do modelismo, a interacção do indivíduo com o público (néscio) e com os outros indivíduos modelistas, e as suas coloridas e acesas interacções. As associações ou grupos ou tertúlias, os fóruns na internet, e as exposições e as mostras, e as competições, e sei lá mais o quê...
Mas se começo a falar disso, não só não saímos daqui como também, não vamos a lado nenhum, além do mais não é própriamente o propósito deste espaço.
Mas como eu não sou modelista, nem percebo nada do assunto, não sei bem o que teria para acrescentar.

Ass: 5513

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