segunda-feira, 25 de março de 2024

PRIMEIRO P-3 ORION TERMINA ATUALIZAÇÃO NO CANADÁ [M2481 – 26/2024] - com vídeo

O primeiro P-3C CUP+ (n/c 14808) da Esquadra 601 a ser atualizado no Canadá       Foto de arquivo

Tal como o Pássaro de Ferro noticiou nas redes sociais Facebook e X, o primeiro P-3C CUP+ (n/c14808) da Esquadra 601 - Lobos, da Força Aérea Portuguesa (FAP), foi captado na passada semana, no radar virtual ADSB Exchange, a realizar voos de manutenção, a partir de Halifax, Canadá, onde se encontra desde outubro de 2023, a realizar atualizações dos sistemas de missão, pela General Dynamics Mission Systems-Canada.

A FAP confirmou hoje mesmo em nota de imprensa, o sucesso da " fase inicial de testes – no solo e em voo", acrescentando ainda que nos voos de experiência, "que decorreram entre os dias 18 e 23 de março, estiveram presentes uma tripulação da Esquadra 601 e um militar da Direção de Engenharia e Programas".

14808 com a tripulação portuguesa em Halifax         Foto via FAP

A modernização envolve a atualização do sistema de identificação amigo-inimigo (IFF), sistema anticolisão de tráfego e terreno, Link 16 encriptado (comunicações táticas por internet), além da instalação de um novo sistema de missão, com capacidade de evolução futura. A FAP classifica esta modernização como "fundamental para manter operacional a capacidade de patrulhamento marítimo da Força Aérea em contexto nacional, União Europeia e NATO".


Ainda de acordo com a mesma nota, a aeronave irá regressar brevemente a Portugal, para cumprir na Base Aérea N.º 11, Beja, a última fase dos trabalhos de modificação e realizar os testes finais de aceitação. Já os trabalhos de modernização dos restantes P-3C CUP+ dos "Lobos", está previsto estenderem-se durante 2025.

A Esquadra 601 já recebeu entretanto, os dois primeiros de um total de seis P-3C, provenientes da Marinha Alemã, num negócio que inclui outros tantos kits de modernização MLU, embora não seja ainda claro quando, em que células, e em que moldes irão ser usados.




sábado, 23 de março de 2024

Hughes OH-6 Cayuse (Loach), o melhor helicóptero ligeiro de combate? [M2480 – 25/2024] - Parte III

Bính Thuy, Vietname, 1970 (Episódio 3)

Os pilotos mais prudentes de “Loach” não perdiam tempo em ensinar os seus observadores a pilotar o helicóptero para a eventualidade do piloto ser atingido ou incapacitado.  Em Dezembro de 1970 o piloto Rick Waite e o seu observador, Bill Hanegmon, procuravam sinais de actividade inimiga numa área perto do Mekong Delta conhecido como “Wagon Wheel”.  Rick explica como as lições de voo que deu ao colega Bill acabaram por salvar a vida de ambos;

“Aproximamo-nos a cerca de 10 quilómetros da bacia do rio quando vimos vários sinais frescos de actividade inimiga.  Havia pegadas recentes na areia junto á água e pequenos barcos na margem escondidos sobre a folhagem.  De repente o Bill gritou; “Corta á esquerda!, Corta á esquerda!  Vai ali um homem a fugir!”.  Virei imediatamente e o Bill começou a descarregar com a M60.  Subitamente ouvi uma explosão ensurdecedora junto á minha porta e tudo ficou completamente negro.  Conseguia ouvir o Bill a gritar; “Eu controlo o helicóptero, eu controlo o helicóptero!”.  Fiquei temporariamente desnorteado, não conseguia ver ou entender nada.  Depois, finalmente, percebi que tinha o capacete virado a 90 graus.  No momento da explosão virei tão rápido que a minha cabeça girou dentro do capacete.  Enquanto endireitava o capacete (e recuperava a visão) ouvia o Bill a comunicar com o heli de controlo a avisar que tínhamos sido atingidos e que ele estava a pilotar o aparelho.  Havia sangue a voar por todo o lado no cockpit e parecia que vinha da minha cabeça.  Comecei a apalpar a cara á procura de algum ferimento ou buraco mas sem sorte.  O Bill continua a comunicar e ouvi as instruções pelo rádio para ele tentar aterrar numa clareira a 3 quilómetros de distância.  Inclinei-me no assento e o sangue continuava a escorrer da cara mas já tinha desistido de procurar a fonte, pensei que era melhor estar quieto e esperar que o Bill aterrasse.”      


O “Loach” de Rick Waite (s/n 66-17792) ficou neste estado após o incidente de Dezembro de 1970.  Vemo-lo aqui na base após ter sido recolhido por outro helicóptero mas, apesar dos enormes estragos, foi reparado e serviu na Guarda Aérea Nacional nos EUA.

“O Bill manteve-se a baixa altitude e alinhou o “Loach” numa pequena estrada entre dois arrozais mas quando estávamos mesmo prestes a aterrar, a pouco mais de 10 metros de altitude, o motor parou!  Estávamos demasiado baixos para uma auto-rotação normal e demasiado altos e lentos para uma auto-rotação baixa.  Na realidade pouco interessava, porque nunca cheguei a ensinar ao Bill nenhuma manobra de auto-rotação!  Mas, tendo em conta tudo o que tinha acontecido até agora, o Bill estava a desenrascar-se muito bem.  Assim que o motor parou, não havia nada a fazer, íamos aterrar de uma forma ou de outra e o Bill conseguiu manter a traseira direita, que não é fácil quando não se tem potência.  Aterramos na estrada, sim senhor, mas como o rotor não tinha potência para amparar a descida os patins partiram-se e o “Loach” derrapou da estrada para dentro do arrozal.  As pás do rotor embateram na água, flexionaram e deceparam o rotor de cauda.  A água começou a encher o cockpit e nadamos para fora dali enquanto um dos nossos “slicks” (UH-1 Huey) aterrava para nos dar assistência.  Quando tentei pôr-me de pé senti uma dor lancinante e sentei-me no chão de imediato.  Deitaram-me numa maca, levaram-me para o “Huey” e começaram a ver o que se passava comigo.  Todos estavam á procura de algum ferimento grave na minha cabeça por causa do sangue na cara e no capacete.  Depois reparei num pequeno e perfeito buraco na minha bota.  Acertaram-me no pé, por isso doeu tanto quando me levantei!  Levaram-se para o hospital onde me consertaram.  Em três semanas já estava de volta ao activo.”  

Bill Hanegmon, observador e “piloto substituto em caso de emergência”, segura no colete balístico (jocosamente conhecido como “chicken plate”) que o salvou de ferimentos graves no abdómen.

“O nosso “Loach” foi atingido em 13 locais.  Um deles no radiador de óleo, que levou ao sobreaquecimento do motor que acabou por parar.  Calculamos que fomos atingidos por um explosivo colocado nos ramos das árvores, um tipo de armadilha anti-helicóptero que os vietcongues eram mestres.  Aquele sangue todo no cockpit vinha do meu nariz; ao virar a cabeça tão rápido, a borda do capacete acertou-me na penca e provocou aquele cenário assustador, mas não era nada de grave.  E, num “Loach” sem portas, o vento do rotor espalhou o sangue por todo o lado como uma batedeira!  Mas se há coisa na minha vida que dou por bem empregue foi o tempo a ensinar o Bill a pilotar.  Fazer aquela recuperação a baixa altitude e aterrar naquelas condições – foi simplesmente inacreditável.  Soube mais tarde que o Bill repetiu a proeza quando outro piloto foi atingido!  Nunca recebeu uma condecoração por nenhum dos incidentes.  Ele era um daqueles rapazes que se desenrascava em tudo mas sempre tranquilo e calmo e continuou assim depois da guerra, como detective em Hibbing no Minnesota.”  


Este “Loach” veterano de guerra do Vietname não se reformou com o fim do conflito.  Nada disso, após servir na Guarda Aérea Nacional encontrou trabalho na polícia de Gainesville, onde continuou a perseguir vilões durante 14 anos!  Em Janeiro de 2000 reencontrou-se com o seu amigo Rick Waite.

Mas a história não ficou por aqui.  Passados uns 30 anos, mais precisamente em Janeiro de 2000, Rick Waite recebe um convite da Polícia de Gainesville, na Florida, para os visitar.  Dois policias, Dale Witt e John Rouse, receberam o veterano do Vietname e levaram-no para um hangar pouco iluminado.  

“Naquele hangar tão escuro, parecia que estava a ver um fantasma.  Quando me aproximei comecei a sentir uma descarga de adrenalina.  O meu “Loach”!!  Os remendos na fuselagem e na porta do motor mostravam as feridas que ambos sofremos há 30 anos.  Mas estava espectacular.  Toquei-lhe e fiquei a olhar para ele fixamente, feliz por também ter sobrevivido estes anos todos.  Uma coisa é certa, envelheceu muito melhor do que eu!   A seguir os meus anfitriões abriram as portas do hangar e empurraram o “Loach” para a luz do sol.  Depois aconteceu!  Um deles entregou-me um capacete e perguntou;

“Estás pronto?”

Fiquei estupefacto.  Iam mesmo levar-me para um passeio!

“Nós não te vamos levar para um passeio.  TU vais nos levar para um passeio”.

Não podia acreditar.  Mas assim foi, a 5 quilómetros do aeroporto e a 150 metros de altitude o John disse;

“Força, agora é todo teu”.

Nas duas horas seguintes o “Loach” ficou nas minhas mãos e eu voltei aos meus 20 anos de idade como piloto de reconhecimento…”


Texto e seleção de imagens: Icterio

Edição: Pássaro de Ferro


terça-feira, 19 de março de 2024

F-16 DA FAP DE NOVO NA LITUÂNIA ENTRE ABRIL E JULHO [M2479 – 24/2024]

F-16AM da Força Aérea Portuguesa no patrulhamento aéreo do Báltico em 2014

O Estado Maior General das Forças Armadas anunciou em comunicado de imprensa, a realização da cerimónia de entrega do Estandarte Nacional à Força Nacional Destacada na Lituânia, a realizar no dia 21 de março, na Base Aérea nº5, em Monte Real, com a presença do Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, General José Nunes da Fonseca. 

O referido destacamento irá decorrer entre 1 de abril e 31 de julho na base de Siauliai na Lituânia, à semelhança das anteriores participações portuguesas no programa de Policiamento Aéreo do Báltico.

Os quatro F-16M das Esquadras 201 e 301 da Força Aérea Portuguesa e cerca de 95 militares, irão render os Mirage 2000-5F do Armée de l'Air francês, nas mesmas funções desde dezembro de 2023.

A Força Aérea Portuguesa participa ativamente desde 2007, na missões de policiamento aéreo da NATO, destinadas a patrulhar o espaço aéreo de países membros que não tenham meios próprios para o fazer, como é o caso das três repúblicas bálticas ex-União Soviética (Lituânia, Letónia e Estónia). 


Após a invasão da Crimeia pela Rússia em 2014, a NATO ampliou os meios atribuídos a estas funções, especialmente nos países do Leste europeu, tanto em número de aviões como de bases, como parte das medidas de tranquilização a estes aliados, naquilo que designa atualmente por ‘Enhanced Air Policing’.

Os caças portugueses irão identificar e intercetar aeronaves que não cumpram com as regras internacionais da aviação ou que sejam um potencial risco para o tráfego aéreo e para a segurança coletiva. 





CONCURSO ABERTO PARA AQUISIÇÃO DE TRÊS HELICÓPTEROS ADICIONAIS PARA O COMBATE A INCÊNDIOS PELA FORÇA AÉREA [M2478 – 23/2024]

Helicóptero Bombardeiro Médio do tipo UH-60 Black Hawk      Foto: FAP

Tal como o Pássaro de Ferro oportunamente informou, a aquisição de três Helicópteros Bombardeiros Médios (HEBM) adicionais, para o combate a incêndios rurais pela Força Aérea Portuguesa, foi aprovada por Portaria do Ministério da Defesa, a 27 de novembro de 2023.

O concurso para a sua aquisição encontra-se agora a decorrer desde 18 de março e por 30 dias, com um valor base de 22,6M EUR, a repartir pela aquisição das aeronaves, sistema de carga suspensa e balde, bem como formação para pilotos e técnicos.

A aquisição será a financiar com as verbas migradas do anterior concurso para a aquisição de quatro Helicópteros Bombardeiros Ligeiros, que ficou então sem propostas, às quais serão adicionadas as verbas remanescentes do concurso anterior para a aquisição de seis Helicópteros Bombardeiros Médios, cuja proposta vencedora com os UH-60 Black Hawk da Esquadra 551, se situou 14,8M EUR abaixo do preço base.

O Caderno de Encargos do concurso ora lançado, prevê a entrega do primeiro helicóptero até 30 de junho de 2025, com o segundo até 30 de novembro de 2025 e o terceiro e último um ano após a entrega do primeiro, ou seja, 30 de junho de 2026.

Entre múltiplos requisitos técnicos, o Caderno de Encargos estipula que "os três helicópteros HEBM devem ter entre si a mesma configuração de software e de hardware - provisões fixas" e que "estas devem permitir a instalação e operação dos equipamentos e sistemas de combate a incêndios rurais e de busca e salvamento sobre terra".

Os aparelhos poderão ser novos ou usados, devendo no segundo caso ter menos de 30 anos e até 5000 horas de voo em média, com o limite absoluto de 37 anos e 7000 horas de voo para cada uma das células. No caso dos helicópteros usados, o concurso requer ainda que "não deverão conter equipamentos e/ou componentes que não tenham uma linha de produção ativa". O ciclo de vida disponível deverá ser de 20 anos, com uma projeção de 250 horas de voo/ano.

Além das aeronaves, e de equipamento para o combate a incêndios, o concurso inclui, tal como referido, a formação de 6 pilotos e 18 mecânicos, em duas fases, até junho de 2026.

Embora do ponto de vista logístico fosse preferível que os três helicópteros objeto do presente concurso serem do mesmo modelo dos seis Black Hawk já adquiridos, tratando-se de um concurso público aberto, há sempre a possibilidade de tal não vir a acontecer, sendo as únicas limitações impostas o fabricante pertencer a um país membro da UE ou NATO.



sábado, 16 de março de 2024

Hughes OH-6 Cayuse (Loach), o melhor helicóptero ligeiro de combate? [M2477 – 22/2024] - Parte II

 “That’s a damn Minigun!”, Los Angeles, USA, 1995 - (Episódio 2) 

As tripulações de reconhecimento dos “Loach” eram compostas por três homens; piloto, observador e, na traseira, o artilheiro (geralmente no lado direito).  O artilheiro, na prática, passava mais tempo fora do helicóptero do que dentro, com um pé (ou dois!) no patim á procura do inimigo ou a disparar a sua arma.  Outra opção, que ficava ao critério das tripulações ou da unidade, era o transporte do sistema M27, a famosa Minigun, na cabine no lado esquerdo.  Esta opção substituía o artilheiro mas não era consensual; muitos pilotos preferiam confiar no par de olhos extra do artilheiro e, no caso de uma aterrarem de emergência, três homens sempre eram melhores do que apenas dois para defender o perímetro - enquanto aguardavam o resgate.  Caso a Minigun fosse transportada o observador acumulava as funções do artilheiro.  

O sistema M27 envolvia vários componentes; a General Electric M134 de seis canos de calibre 7,62x51mm, o motor eléctrico, o essencial (e muitas vezes esquecido) delinker e a caixa de munição (2000 cartuchos no caso do “Loach”).  Tudo somado; 140kg, daí a necessidade de suprimir o artilheiro – até porque ficava quase sem espaço.  Mas, caso pensem em usar uma Minigun “á la Schwarzenegger”, não se esqueçam de adicionar a pesada bateria.  Outras particularidades; ao contrário de uma arma convencional, como a metralhadora M60 ou espingarda M16 ou AKM, que utilizam de uma forma ou outra os gases e/ou o recuo do disparo para completar o ciclo e alimentar o cartucho seguinte, a Minigun é eléctrica.  È o motor eléctrico que acciona todo o mecanismo, por isso, sem energia, nada feito.  Mas também significa que é possível ajustar a cadência de disparo com relativa facilidade – é apenas uma questão de alterar a potência do motor.  No “Loach” o piloto podia optar por duas cadências; ao pressionar o botão do gatilho até ao primeiro estágio a arma disparava a 2000 disparos por minuto mas se pressionasse totalmente o gatilho a cadência dobrava para 4000.  Mas para poupar a arma e evitar sobreaquecimento o sistema só permitia rajadas de 3 segundos por cada pressão no gatilho.  Existia uma mira no cockpit do “Loach” mas os pilotos preferiam marcar com um lápis directamente no vidro o ponto de impacto – era mais rápido e intuitivo.  O piloto podia movimentar a arma em elevação (+10º a -24º) mas não em azimute; para acompanhar alvos lateralmente era necessário recorrer aos pedais e apontar todo o helicóptero.  


Pode parecer estranho designar como “Minigun” uma arma com tamanho poder de fogo mas é apenas uma questão de perspectiva.  A M134 foi desenvolvida a partir de outro produto extremamente bem sucedido da General Electric; o canhão M61 Vulcan de 20mm, usado por quase todos os caças e caça-bombardeiros da USAF/USN desde os anos 60 até aos dias de hoje.  E quando colocados lado a lado, conforme a imagem, é normal considerar a M134 como uma mini…


James Howard, que serviu no Vietname, lembra algumas das vantagens (e desvantagens) da Minigun;

“Ao aproximar-se de um alvo durante um combate, o piloto dependia de vários factores para se manter vivo.  Claro, dependia das suas habilidades como piloto assim como da habilidade do artilheiro em providenciar fogo supressivo quando necessário e da ajuda e cooperação dos outros helicópteros na formação.  No entanto, alguns pilotos preferiam levar a Minigun em vez do artilheiro.

A arma não só dispunha de um enorme poder destrutivo mas também suscitava um efeito psicológico no piloto; dava-lhe confiança e a impressão de que, quando disparava, ele era indestrutível.  A Minigun fazia um belíssimo rugido e cuspia uma linda labareda de 30cm de largura e um metro de comprimento.  Claro que a pontaria do piloto era limitada mas a disparar 80 balas de 7,62mm por segundo o mais certo era atingir qualquer coisa.  E na mente do piloto, este poder de fogo obrigava o NVA (Exército do Povo do Vietname) e os “gooks” (termo derrogatório histórico atribuído a todos os elementos do vietcong - e não só) a esconderem-se e a não dispararem em retorno.  Outro efeito era de que quando a Minigun disparava, o piloto não conseguia ouvir mais nada (nem os disparos da artilharia anti-aérea inimiga) dando-lhe a (falsa) sensação de que estava totalmente seguro.”


Ainda sobre a lendária habilidade do “Loach” em sobreviver a danos e proteger a tripulação; numa aterragem forçada a estrutura oval da cabine reforçada funcionava como uma bola de bowling a alta velocidade, rompendo por entre árvores e arbustos e resguardando os ocupantes.  Outros componentes, como rotores, cauda e patins facilmente se separavam mas a cabina mantinha-se intacta e não era incomum após um acidente grave (e geralmente letal noutros helicópteros) ver a abalada tripulação sair pelo próprio pé do seu interior.  Na imagem mais acima, vemos um “Loach” do 5th Cavalry, abatido por um RPG que, felizmente, não detonou.  Se repararem, no painel do motor, encostado á cabina, vê-se claramente o buraco de entrada do rocket.  A tripulação sobreviveu.  A outra imagem mostra um “Loach” abatido em Agosto de 1969.  Apesar dos danos graves e de ter perdido muitas peças, o “Ovo Voador” protegeu a “peça” mais importante, a tripulação que, apesar de ferida, sobreviveu.  E provando que os soldados nunca morrem, este “Loach” foi reparado e continuou a servir até 1972.


Texto e seleção de imagens: Icterio
Edição: Pássaro de Ferro

sexta-feira, 15 de março de 2024

ESQUADRA 991 DA FAP EM AVALIAÇÃO TÁTICA [M2476 – 21/2024]

OGASSA OGS 42 da Esquadra 991     Foto: CFMTFA
 
A Esquadra 991 - Harpias, que opera os veículos aéreos não tripulados (VANT) da Força Aérea Portuguesa, estão em avaliação durante o mês de março, no âmbito  da Avaliação Tática das Unidades Aéreas.

Segundo revelou o Centro de Formação Militar e Técnica da Força Aérea - CFMTFA (antiga Base Aérea nº2) na Ota, onde se encontra baseada a Esquadra 991, "este período avaliativo permitirá aferir, com exatidão, o grau de prontidão e a capacidade Operacional desta Esquadra para o cabal cumprimento da Missão que lhe foi superiormente confiada e, simultaneamente, dotá-la das competências necessárias à integral interoperabilidade com os nossos parceiros da Aliança Atlântica".

Durante a avaliação, foi exercitada a projeção de uma das Unidades de Controlo Móvel da aeronave OGASSA OGS 42, que equipa os "Harpias", para teatros de operação "de diferentes níveis de permissividade", tendo para tal sido utilizado o novo avião de transporte multimissão da FAP, o KC-390, em operação na Força Aérea desde outubro de 2023, segundo pode ler-se na partilha do CFMTFA nas redes sociais.


A Unidade Móvel dos Harpias mobilizada através do novo KC-390 da FAP        Fotos: CFMTFA

O CFMTFA sublinha ainda que se demonstrou "a versatilidade e adaptabilidade da doutrina de emprego Tático, Operacional e Estratégico de todos os meios da Força Aérea Portuguesa, para fazer face aos novos desafios gerados pela tipologia de conflitos expectável na terceira década do século XXI". 

De notar que a Esquadra 991, sendo uma unidade operacional, motivou recentemente a reativação do Grupo Operacional 21 (GO21) na Ota, desativado quando a antiga BA2 passou a ser unicamente uma unidade de treino de pessoal. 






quinta-feira, 14 de março de 2024

KOALA COM O EXÉRCITO EM ALCOCHETE EM PREPARAÇÃO PARA ÁFRICA [M2475 – 20/2024]

O AW119 Koala da Esquadra 552 participante no exercício Zeus   Foto: Exército

O Exército Português revelou na rede social Facebook, o treino que está a realizar com o 1º Batalhão de Infantaria Paraquedista, em aprontamento para a 15.ª Força Nacional Destacada (FND) para a Republica-Centro-Africana.

Foto: Exército

Foto: Exército

Atirador Especial de Cobertura helitransportado no Koala dos "Zangões"    Foto: Exército

Tarefas de apoio e tarefas críticas, como reações a emboscadas, bloqueios de itinerário, tiro e evacuação de feridos debaixo de fogo, tiveram o apoio da Força Aérea Portuguesa com a disponibilização de infraestruturas de tiro e de montanhismo, bem como da participação da Esquadra 552 – “Zangões”, através de uma aeronave AW119 Koala.

Segundo pode anda ler-se na partilha do Exército, este exercício permitiu "a realização de um treino conjunto de integração de meios aéreos em apoio à manobra terrestre".

Os helicópteros Koala, não serão contudo destacados na RCA, dado que se trata de uma versão civil e portanto não certificada para operações militares reais. As FND até ao momento, têm por isso sido apoiadas por meios aéreos de países terceiros.




sábado, 9 de março de 2024

Hughes OH-6 Cayuse (Loach), o melhor helicóptero ligeiro de combate? [M2474 – 19/2024] - Parte I

Bien Hoa, Vietname, 1965 (Episódio 1) 

Para qualquer entusiasta da aviação, a guerra no Vietname imediatamente invoca imagens dos versáteis F-4 Phantom, dos impressionantes bombardeiros B-52 Stratofortress ou dos ágeis MiG-21 Fishbed.  Se perguntarem por helicópteros, bem, a resposta é ainda mais fácil; o Bell UH-1 Iroquois (nome que ninguém usava), mas universalmente conhecido como “Huey”, foi “O” helicóptero do Vietname.  Mas como em todos os conflitos, também existiram máquinas que, apesar de não partilharem a mesma fama, partilharam os mesmos perigos e as mesmas tribulações.  Uma dessas máquinas foi o fenomenal Hughes OH-6 Cayuse (nome que também ninguém usava), mais conhecido como “Loach”.  Leve, incrivelmente ágil, potente e robusto, o pequeno helicóptero era venerado pelas tripulações.  A missão de reconhecimento e busca que desempenhavam exigia coragem (ou “loucura”, conforme as opiniões), perícia e uma boa dose de sorte.  E o “Loach” era a máquina certa para o trabalho.  

O OH-6 “Loach” no seu habitat natural.  Muito leve (menos de 500kg vazio e cerca do dobro á descolagem) e extremamente directo nos controlos, o helicóptero da Hughes revelou-se uma soberba peça de engenharia aeronáutica e um autêntico deleite de pilotagem.  Segundo os pilotos do Exército Americano que transitaram da anterior geração de helicópteros com motores de pistão (mais pesados e lentos) foi como passar de uma “banheira” Cadillac para um Porsche!


Dizia-se no Vietname que as tripulações de reconhecimento tinham tomates do tamanho de bolas de basquete mas cérebros do tamanho de ervilhas.  Não era para menos.  Ao contrário da maioria dos pilotos, as tripulações de helis de reconhecimento viam o inimigo olhos nos olhos.  Voavam a poucos metros do solo, á procura de pequenos sinais como pegadas, fogueiras ou algum objecto estranho.  Faziam-no logo acima da copa das árvores ou até, por baixo delas!  Quando encontravam o inimigo o procedimento padrão era marcar o alvo com uma granada de fumo e pedir um ataque de artilharia ou a ajuda dos gunships “Cobra” mas, com o inimigo a poucos metros de distância, o contacto violento era muitas inevitável e violento.  Mas a melhor forma de conhecer mais sobre as missões e experiências destas tripulações, e dos seus “Loach”, é ouvir da boca dos próprios.  O piloto Tom Pearcy recorda como numa das suas primeiras missões no Vietname a bordo do “Loach” as coisas não correram como o planeado…

Um dos primeiros OH-6A a chegar ao Vietname, neste caso o S/N 65-12925, o décimo da linha de montagem.  Também um dos primeiros a ser equipado com a Minigun XM27 no lado esquerdo da fuselagem.  As tripulações de reconhecimento pagaram um preço elevado em tripulações e helicópteros.  Segundo o DoD foram perdidos 4867 helicópteros no Sudeste Asiático entre Janeiro de 1962 e Março de 1973.  A maioria eram, obviamente, “Hueys” mas, em termos proporcionais, os “Loach” sofreram o maior número de baixas; dos 1419 produzidos, 842 foram perdidos na guerra.


“O meu código era “Blue Ghost 18” e, junto com um UH-1C “Huey” gunship (pilotado pelo Greg e pelo Owens), tínhamos de averiguar uma base inimiga numa pequena aldeia.  O terreno era composto por colinas cobertas com árvores altas e espessas e periodicamente surgiam pequenas clareiras e arrozais.  Quando chegamos á aldeia notei algo que já tinha ouvido falar várias vezes mas nunca visto pessoalmente; tocas de aranha (spyder holes).  Vi quatro ou cinco ao longo de um trilho rumo á aldeia.  Chamei a atenção do meu artilheiro, o Ed Gay, e voltei para trás para ver melhor.  Quando me aproximei, as coberturas dos buracos foram pelos ares e saíram de lá vários indivíduos a disparar com AK-47s e espingardas de ferrolho!  Claro que a vinha voz subiu várias oitavas quando gritei; “Estão a disparar contra nós!”.  O Ed ficou tão exaltado que atirou uma granada de fumo sem tirar a cavilha.  O Greg perguntou pelo rádio de onde vinham os disparos e eu respondi; “Ali atrás! Ali atrás!”, sem lhe dar indicações nenhumas de direcção.  Fiz nova curva de 180º e dirigi-me á área para a marcar com fumo, e desta vez executei alguns ziguezagues, mas voltamos a ser atingidos algumas vezes.  A minha voz subiu mais seis oitavas mas conseguimos lançar a granada de fumo no alvo.  Enquanto o Greg lançava foguetes de 70mm eu transmitia-lhe as correcções necessárias; “um pouco mais á esquerda”, “50 metros mais á frente”.  A seguir ouvi o Ed com uma voz trémula; “Sir…Sir…uh…árvore!!”  Olhei para a frente e vi a maior árvore imaginável mesmo em frente ao meu nariz!  Virei á esquerda com toda a força e falhei a árvore por meros centímetros (na realidade seriam 1 ou 2 metros).  Mas isto tudo fazia parte do plano VC, porque aquela árvore estava armadilhada com minas claymore, ou algo parecido.  A explosão arrancou a cauda e o rotor traseiro, o motor começou a fazer uma chiadeira terrível e parou logo a seguir.  Voei por mais uns 50 metros e senti que o controlo do helicóptero estava a fugir-me rapidamente.  As palavras do meu instructor vieram-me á mente; “Há sempre lugar para aterrar um helicóptero numa emergência”.  Ah é, sabichão?  Então onde vou aterrar no meio deste arvoredo todo?  Acabei por fazer uma auto-rotação a velocidade zero e nivelei no topo das árvores.  Caímos uns 9-12 metros por entre a folhagem e acabamos invertidos com as pás do rotor a cortar uma espécie de clareira.  Desliguei o sistema eléctrico e saímos do “Loach” apenas com as nossas armas e algumas granadas de fumo.  Lembro-me de ver os meus dedos ensanguentados, o meu co-piloto tinha as calças molhadas e o artilheiro sofreu uns arranhões na cara, cortesia da sua metralhadora M60.  Por isso, nada de grave.  Depois descobrimos que as granadas de fumo eram todos de cor verde - não iriam servir de muito no meio daquela vegetação.  Mas o Greg, mesmo assim, encontrou-nos sem grande problema e algum tempo depois ouvimos um veículo blindado de transporte de tropas M113 que nos recolheu.  O “Loach” foi mais tarde recolhido e reparado.”   

Os engenheiros da Hughes fizeram um trabalho notável no design do Cayuse.  A colocação do motor (neste caso, uma turbina Allison T-63 de 250cv de potência e apenas 62kg de peso!) num ângulo de 42º permitiu economizar muito espaço com a vantagem adicional de tornar o acesso mais fácil para manutenção.  A lendária robustez e “sobrevivência” do helicóptero também muito deve á localização da turbina.  Conforme o diagrama, a turbina, caso de solte numa queda ou aterragem de emergência, não atinge a tripulação.  O cubo do rotor e a transmissão também estão montados acima da antepara principal, o que aumenta a rigidez da estrutura.  Em helicópteros como o famoso “Huey”, as turbinas, transmissão e cubo estão montados directamente acima da cabina e facilmente esmagam a tripulação numa crash-landing.  Outro problema da montagem “alta” destes componentes é o elevar do centro de gravidade e, num impacto frontal, o peso vai forçar e enterrar o cockpit contra o obstáculo.  Dizia-se no Vietname que; “se tiveres mesmo de te despenhar num helicóptero, que seja num Loach”…

Texto e seleção de imagens: Icterio
Edição: Pássaro de Ferro




quinta-feira, 7 de março de 2024

"LOBOS" EM CABO VERDE E SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE [M2473 – 18/2024]

P-3C CUP+ Orion da Esquadra 601 - "Lobos" da Força Aérea Portuguesa
 

A Força Aérea divulgou em nota de imprensa, a missão internacional de um P-3C CUP+ da Esquadra 601 - Lobos, de manutenção da segurança marítima no Golfo da Guiné.

Trata-se de uma missão de cooperação bilateral com São Tomé e Príncipe e Cabo Verde, que contempla o programa "AMLEP – Africa Maritime Law Enforcement Partnership".

O destacamento dos "Lobos" irá decorrer a partir do Aeroporto Nuno Xavier, em São Tomé e Príncipe, e  do Aeroporto Internacional Nelson Mandela, na Praia, Cabo Verde, para realizar vigilância e fiscalização da Zona Económica Exclusiva destes dois países insulares, membros da CPLP.

Cerimónia de entrega do Estandarte Nacional pelo General CA ao Cdt da Esquadra 601   Foto: FAP

Antes da partida para a missão, no dia 29 de fevereiro, os militares que integram aquela Força Nacional Destacada receberam o Estandarte Nacional, numa cerimónia presidida pelo Comandante Aéreo, Tenente-General António Branco, que se realizou em 22 de fevereiro.

A cerimónia de entrega do Estandarte Nacional à Força Nacional Destacada, decorreu na Base Aérea nº11 em Beja, no dia 22 de fevereiro, com a presença do Comandante Aéreo, Tenente-General António Branco.



A DEFESA SEM DEFESA [M2472 – 17/2024]

Imagem de arquivo, de um calendário de bolso da Marinha Portuguesa em que são visíveis duas fragatas da Classe João Belo (a F481, Hermenegildo Capelo e, atrás, a própria João Belo, F480); a corveta F486 - Batista de Andrade e o navio reabastecedor São Gabriel - A5206.


Na véspera de umas eleições de importância vital para o futuro do país, através de uma análise aos discursos, aos debates e aos mil e um comentários a ambos percebe-se, sem particular esforço, que os assuntos relativos à defesa ou não foram abordados ou, quando o foram, isso aconteceu de forma superficial e sem um fio condutor que perspetive uma política com cabeça, tronco e membros, acompanhada de uma visão agregadora e de futuro no que toca à defesa nacional e, também, à defesa da Europa. O mesmo raciocínio se aplica às alterações em curso e previsíveis na geoestratégia no espaço europeu e, não menos importante, tentar agir por antecipação, ao que pode vir do lado de lá do Atlântico a partir de novembro, sobretudo se, como já aludimos, na Casa Branca mudar o penteado e a cor de cabelo do seu principal responsável.
Os partidos, pelo que se vê, não consideram estas matérias suficientemente importantes para as colocar nas suas “agendas” ou, pior do que isso, não produzem pensamento relativamente a estes assuntos, sejam quais forem as razões para tal, sendo que são todas elas obviamente preocupantes.
No final desta contabilidade em somatório de zeros, ficam apenas sombras relativamente ao futuro da defesa nacional e por acrescento, à defesa da Europa. 
No resultado a certeza de que a Europa como espaço pacificado e livre de conflitos foi um sonho que terminou e que urge redefinir com base em novas premissas e objetivos.
Convém acordar e agir. Ontem já era tarde.

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