domingo, 14 de setembro de 2025

RAF Harrier GR.7 - O guerreiro da guerra fria [M2654 - 77/2025 ]

Kosovo, o regresso da limpeza étnica ao coração da Europa 

(Episódio 1)

Ao mesmo tempo que em 1998 uma frágil paz finalmente despontava na Bósnia-Herzegovina surgiam tensões no território vizinho do Kosovo e, num piscar de olhas, a região eclodiu numa espiral de violência.  Os meios disponíveis da RAF na área não eram abundantes mas compensavam em qualidade e experiência.  Quatro Harrier GR.7 baseados em Gioia del Colle em Itália foram colocados em alerta enquanto se tentava resolver o conflito por vias diplomáticas.  Mas com a situação a deteriorar a cada semana, um lote adicional de quatro Harrier viajou para Itália em Janeiro de 1999.  A contribuição da RAF para uma eventual intervenção incluía também dois aviões de reabastecimento TriStar baseados em Ancona.  O líder do Esquadrão 1 (No 1 Sqn),´Benny` Ball, relembra esses dias;

“Chegamos ao país num voo da Alitalia e alugamos um carro para chegar a Gioia del Colle.  Da última vez que estive nesta base, há cerca de um ano atrás, foi-me dito para nunca mais voltar!  Porquê, perguntam?  Porque bombardeei, por acidente, uma quinta!  Imaginem um sereno casal de idosos a descansar num terraço e a apreciar o pôr-do-sol.  De repente, na aproximação á pista, duas bombas de 454kg soltam-se do meu Harrier.  As bombas ressaltam num dos muros da quinta e enterram-se perto de uns celeiros.  As bombas não estavam armadas, claro, e não fui para o desemprego porque foi detectada uma anomalia no sistema.  Claro que isso não impedia os meus colegas de constantemente me achincalharem com esse evento e ameaçavam avisar a Polícia Italiana de que eu tinha regressado.  Com amigos destes…”   

O líder, e XO, do Esquadrão nº 1 da RAF, ´Benny` Ball durante a Operação Engadine – a componente Inglesa da Operação Allied Force da NATO.  De notar os símbolos pintados abaixo do cockpit do seu Harrier GR.7; uma LGB Paveway, três RBL755 e quatro bombas GP de 454kg.  

Depois do massacre de Racak em meados de Janeiro, os membros da NATO concordaram numa acção militar, se necessária, para forçar uma resolução.  Ainda houve lugar a uma conferência em Rambouillet, na França, em Fevereiro, onde o Secretário-Geral da NATO, Javier Solana, tentou encontrar uma solução política entre as partes.  Não deu em nada.  No dia 24 de Março foi decidido que a intervenção militar era a única via possível.  Ficou conhecida como Operação Allied Force, com a componente Inglesa denominada Operação Engadine.  Na tarde anterior á primeira noite de missões, enquanto ouvíamos mais um briefing, um dos oficiais da Intelligence bateu á porta;

“Boss”, telefone para si, é o Primeiro-Ministro (Tony Blair).”

Pronto, só podia ser uma coisa; ia começar naquela noite!

Como eu era o XO (Executive Officer) era minha responsabilidade escolher as tripulações para a primeira noite mas também significava que eu não podia ir!  Na RAF lideramos na frente, por isso o “Boss” iria liderar as missões na primeira noite.  Em compensação, seria eu a fazer o mesmo na segunda.  Os preparativos para as missões da primeira noite foram surreais, com toda a azáfama própria de uma situação de guerra iminente.  Preparamo-nos e treinamos toda a carreira para chegar a este dia.  No briefing geral foi-nos comunicado que havia um problema com a programação do nosso RWR (Radar Warning Receiver).  Aparentemente, o sinal de radar dos F-16 eram interpretado como um sistema SAM (Surface-to-Air Missile) e os F-16 iriam ser a nossa escolta!  Agora era demasiado tarde para alterar o plano e decidimos que a única estratégia seria sempre assumir qualquer sinal de SAM como uma ameaça e evadir se necessário.  

A base de Gioia del Colle estava bem posicionada para receber as forças da NATO e foi fulcral para o sucesso da operação Allied Force.

Na primeira noite, 24 de Março, seis Harrier iriam participar na ofensiva; dois pares com bombas guiadas por laser (LGB) e mais um “spotter” atribuído a cada par com a função de estar bem atento a qualquer lançamento de SAM enquanto os colegas se concentravam em lançar as bombas.  O Tenente Zanker, relembra;

“A pequena viagem de autocarro até aos nossos Harrier foi tranquila, sem as costumeiras brincadeiras e piadinhas.  O tempo favoreceu-nos naquela noite e encontramos facilmente o abastecedor VC10K no Mar Adriático e abastecemos em total silêncio de rádio com NVGs (Night Vision Goggles).  A caminho do alvo ouvimos um F-16 Holandês a pedir permissão para abater um avião a Sul de Belgrado.  O AWACS fê-lo esperar o que me pareceu uma eternidade e notava-se na voz do Holandês que estava cada vez mais agitado.  Finalmente, recebeu ordens para disparar.  Também detectamos bastante interferência nas comunicações, os Sérvios tocavam música e gravações de comunicações antigas – nada que não conseguíssemos lidar.”   

“Assim que chegamos á área alvo, vimos explosões das bombas de outros elementos á nossa frente.  O problema é que o acumular de nuvens baixas na área misturadas com o fumo dessas explosões iam tornando cada vez mais difícil identificar positivamente os nossos alvos.  A mensagem do Primeiro-Ministro era clara – na dúvida, não larguem bombas.  E assim foi.  Acabamos por regressar sem largar uma única arma.  Foi decepcionante começar assim a campanha mas sabíamos que era a decisão certa.”

Dois Harrier GR.7 armados com bombas de 454kg, AAMs AIM-9 Sidewinder e um pod DJRP (Digital Joint Reconnaissance Pod) de reconhecimento no suporte ventral.  Apesar das condições atmosféricas nos Balcãs dificultarem (ou impedirem) o uso de bombas guiadas por laser, o sistema de navegação melhorado do GR.7 permitia alimentar o computador de ataque com as coordenadas de GPS do avião e do alvo e gerar uma solução de bombardeamento muito precisa.  Com esta táctica foi possível bombardear com precisão alvos encobertos por nuvens desde média-altitude com simples bombas “estúpidas”.

Na noite seguinte, o Tenente Martin Ball liderou uma formação de seis Harrier e atingiu com sucesso um complexo militar em Leskovak, mas a formação de oito aviões da noite de 26 de Março foi forçada a voltar para trás, o alvo, depósitos de munições em Pristina, estava totalmente encoberto de nuvens.  Na noite seguinte, a mesma coisa.  Isto tornou-se habitual na campanha no Kosovo – condições climatéricas muito adversas que dificultavam o uso de armas guiadas por laser.

No dia 27 chegaram mais quatro Harrier GR.7, o que reforçou o nosso grupo para doze aviões, e mais dois TriStar e três VC10K a Ancona.  No dia seguinte o jornal Sunday Times publicou um artigo que alegava frustração na RAF devido ao insucesso das missões dos Harrier na Sérvia!  Destacava que nas primeiras 3 noites da campanha, das 20 missões lançadas apenas dois alvos tinham sido destruídos.  Visibilidade fraca e “problemas técnicos” eram apontados como as causas.  Infelizmente, os jornalistas responsáveis pelo artigo falharam, ou esqueceram-se, de mencionar as rigorosas RoE (Rules of Engagement) vigentes para a aquisição de alvos, e a hostilidade criada por esta reportagem não nos ajudou em nada.  Nessa noite, dia 28, estava planeada uma missão para atacar um depósito em Pristina e, conforme Martin Ball explica;

“Os pilotos, e todo o destacamento, sentiam-se pressionados a completar a missão com sucesso já que agora, além de lidarmos com as defesas anti-aéreas Sérvias, tínhamos um novo inimigo – a comunicação social Inglesa.”

 Texto e seleção de imagens: Icterio
Edição: Pássaro de Ferro

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

CHEGADA DOS PRIMEIROS SUPER TUCANO A PORTUGAL

Foto: Paulo Fernandes / Oneshootland

O trio que constitui o primeiro lote de A-29N Super Tucano destinados à Força Aérea Portuguesa aterrou em Alverca, ao início da tarde do dia 31 de agosto de 2025.

Foto: Paulo Fernandes / Oneshootland

Foto: Paulo Fernandes / Oneshootland

Foto: Paulo Fernandes / Oneshootland

Foto: Paulo Fernandes / Oneshootland

Foto: Paulo Fernandes / Oneshootland

Com matrícula provisória PT-CXA, tocou as rodas na pista 04 de Alverca pelas 13:50L o primeiro, seguido dos aviões com registos PT-CVN e PT-VYV (igualmente provisórios enquanto não recebem a matrícula definitiva da FAP) cerca de 2 minutos depois e em parelha.

Foto: OGMA via Embraer

Foto: OGMA via Embraer

Foto: OGMA via Embraer

Antes de começar a sobrevoar solo nacional contudo, foram recebidos por um C-130 Hercules com o qual reuniram ainda sobre o mar, para depois receber escolta de honra de uma parelha de F-16, sobrevoando a ponte 25 de abril e Lisboa, antes de darem início à aproximação à pista de Alverca.


Os aparelhos irão agora receber equipamentos standard NATO na OGMA, que incluem rádio V/UHF, terminais de comunicação por satélite (satcom), módulo Digitally Aided Close Air Support (DACAS), sistema de mensagens táticas Variable Message Format (VMF), sistema de comunicação de dados Link 16, sistema de ligação de vídeo compatível com tecnologia Remote Operated Video Enhanced Receiver (ROVER), transponder de identificação amigo/inimigo (IFF) Mod 5, e sistema GPS militar.

Vídeos com as aterragem dos três primeiros Super Tucano em Alverca

Primeiro (PT-CXA)

Segundo e terceiro (PT-CYV e CVN)

O contrato com Embraer para a aquisição desta nova frota, foi assinado a 16 de dezembro de 2024 e inclui ainda um simulador de voo e sustentação logística, no valor total de 200M EUR, dos quais segundo o ministro da Defesa, Nuno Melo, 75M serão incorporados na indústria portuguesa.

O Super Tucano na Força Aérea Portuguesa ficará baseado na Base Aérea nº11 em Beja e terá como missões o Treino Avançado de Pilotos, Ataque Leve, Apoio Aéreo Tático (CAS) e Informação, Vigilância e Reconhecimento (ISR). 

As suas características de baixo custo de operação e logística pouco exigente, tornam-no especialmente adequado para operar a partir de bases remotas, em cenários como as que as Forças Nacionais Destacadas enfrentam na estabilização do Sahel, em África, onde até ao momento têm operado com o apoio de aeronaves de países terceiros.



Agradecimentos: Paulo Fernandes/Oneshootland ; Aviação TV ; Nuno Pinto




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