terça-feira, 16 de abril de 2024

F-16 PORTUGUESES INTERCETAM AVIÕES RUSSOS NO BÁLTICO [M2487 – 32/2024]

F-16 da FAP em escolta a um Ilyushin Il-20 de informação, vigilância e reconhecimento da Federação Russa      Foto: FAP

Os F-16 da Força Aérea Portuguesa destacados no Policiamento Aéreo do Báltico da NATO, desde o início do mês, foram ativados ontem 15 de abril de 2024, para realizar o primeiro Alpha Scramble (interceção real).

O alerta foi dado ao início da tarde pelo Centro de Operações Aéreas Combinadas de Uedem, quando duas aeronaves não identificadas se encontravam a sobrevoar águas internacionais em aproximação ao Espaço Aéreo NATO sem plano de voo, segundo informou a Força Aérea, em nota de imprensa.

F-16AM da FAP em escolta a um Ilyushin Il-76MD da Federação Russa     Foto: FAP 

Logo após a ativação, uma parelha de F-16M descolou da Base Aérea de Siauliai, na Lituânia, onde se encontram baseados. Depois da interceção e identificação das aeronaves, ambas da Federação Russa, estas foram acompanhadas até a região de informação de voo do enclave russo de Kalinigrado, no Báltico.

A FAP tem um destacamento de cerca de 95 militares e quatro caças F-16AM em Siauliai, até ao final de julho, no âmbito das Medidas de Tranquilização Aumentadas da NATO nos aliados do Báltico.


 



ARGENTINA ASSINA CONTRATO COM DINAMARCA PARA COMPRA DE 24 F-16M [M2486 – 31/2024]

 

Representantes da Dinamarca e Argentina em frente a um F-16BM com as marcas argentinas, na assinatura do contrato      Foto: MD Dinamarca

O Ministro da Defesa dinamarquês, Troels Lund Poulsen, esteve hoje 16 de Abril de 2024 na base aérea de Skrydstrup, com o Ministro da Defesa da Argentina, Luis Alfonso Petri, para a assinatura do contrato de venda de 24 aeronaves F-16 dinamarquesas para a Argentina.

“Na Dinamarca, estamos prestes a mudar a geração da nossa frota de aviões de combate com novos caçass F-35. Portanto, estou muito satisfeito que os nossos F-16 dinamarqueses, que nos serviram bem ao longo dos anos e foram cuidadosamente mantidas e atualizadas tecnologicamente, sejam agora sendo utilizados na Força Aérea Argentina. Com o acordo, estamos a fortalecer a cooperação de defesa dinamarquesa-argentina, enquanto a Argentina se tornará parte da família global do F-16”, disse o ministro da Defesa, Troels Lund Poulsen.

No braço do General no lado direito é já visível o patch F-16 "swirl" com a bandeira argentina  Foto: MD Dinamarca
A venda de caças dinamarqueses para a Argentina foi realizada em estreita coordenação com o governo americano, que deu permissão para a venda das aeronaves F-16 produzidas nos EUA.

“Em relação ao negócio, tivemos uma cooperação exemplar tanto com a Força Aérea Argentina, como com o governo argentino e com o governo americano. Com este negócio, fortalecemos também a nossa cooperação em defesa com os EUA”, afirmou o ministro da Defesa, Troels Lund Poulsen. 

Fonte: MD Dinamarca

segunda-feira, 15 de abril de 2024

BEBÉ NASCE EM AVIÃO DA FORÇA AÉREA [M2485 – 30/2024]


"Às 08h05 dos Açores, 09h05 de Lisboa, de hoje, 15 de abril, uma nova vida nasceu a bordo de um avião da Força Aérea em pleno Oceano Atlântico. O avião C-295M tinha acabado de descolar da ilha de Santa Maria, em direção a S. Miguel, quando uma menina bebé decidiu que era o momento de nascer.

Pouco tempo antes, a tripulação da Esquadra 502 – “Elefantes”, em alerta permanente na Ilha Terceira, nos Açores, tinha sido ativada para realizar o transporte de uma grávida de 35 anos e 35 semanas de gestação, com contrações de dois em dois minutos.

Com referência a horas de Lisboa, o avião C-295M, número de cauda 16703, partiu da Ilha Terceira pelas 07h50, percorreu perto de 260 km e aterrou às 08h35 em Santa Maria, onde a futura mãe embarcou acompanhada por uma equipa de saúde civil. Pouco tempo depois, pelas 08h55, o avião levantou voo rumo a Ponta Delgada, tendo a grávida entrado na fase final do trabalho de parto. Dez minutos depois de descolar, a bebé nasceu a bordo do avião da Força Aérea, em pleno Oceano Atlântico, quando o relógio batia as 09h05.

A aeronave da Força Aérea continuou rumo à Ilha de São Miguel, encurtado uma distância de 100 km, onde aterrou pelas 09h15. Mãe e bebé foram depois encaminhadas para a unidade hospitalar local, encontrando-se bem de saúde.

Este é já o quarto nascimento a bordo do avião C-295M da Força Aérea Portuguesa desde que entrou em operação em 2009 – sendo que numa das missões nasceram duas gémeas – e o 35.º nascimento a bordo de aeronaves da Força Aérea, tendo o primeiro ocorrido em 13 de julho de 1993, num avião C-212 Aviocar.

A tripulação da Força Aérea regressou à Ilha Terceira pelas 10h15, cumprindo 1h30 de voo no total da missão.

A Força Aérea é responsável por inúmeros transportes médicos anuais nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, encurtando distâncias e colmatando a ausência de cuidados hospitalares em determinadas ilhas. Durante todos os dias do ano, 24 horas por dia, são mantidos alertas permanentes com o avião C-295M e o helicóptero EH-101 Merlin a partir da Base Aérea N.º 4, Ilha Terceira, nos Açores, e do Aeródromo de Manobra N.º 3, em Porto Santo, na Madeira. Só no primeiro trimestre deste ano, a Força Aérea já realizou 126 transportes médicos, contribuindo para que 183 pessoas recebessem cuidados médicos diferenciados. Desses, 113 doentes foram transportados entre ilhas dos Açores, 48 entre ilhas da Madeira, 16 entre os Açores e o Continente e quatro entre a Madeira e o Continente.

À bebé, a Força Aérea deseja uma saudável e feliz vida. Aos pais, um enorme Parabéns! É com imensa alegria que a Força Aérea é palco do milagre da vida!"

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Nota da redação: A Força Aérea tem um historial interessante de nascimentos a borde de aeronaves suas. Algures na década de noventa, um nascimento nos céus do Arquipélago dos Açores ficou particularmente célebre, uma vez que a bebé então aí vinda ao mundo, adotou o nome da aeronave onde nasceu. Aviocar.

Texto e imagens: Press Realese da Força Aérea Portuguesa

domingo, 14 de abril de 2024

KOALAS TREINAM RESGATES EM TERRA COM A PROTEÇÃO CIVIL [M2484 – 29/2024]

AW119 Koala da Esquadra 552 em voo de montanha

A Força Aérea divulgou em nota de imprensa, o treino conjunto que irá realizar com a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) e o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), em Seia entre 15 e 19 de abril, para treinar procedimentos de missões de busca e salvamento, em terra, "no quadro do sistema integrado de operações de proteção e socorro". Durante os cinco dias de exercício, três helicópteros AW119 Koala da Esquadra 552 – “Zangões”, vão testar procedimentos de voo e resgate em montanha. 

Segundo o mesmo texto, "Tratando-se de uma missão que envolve a coordenação com entidades civis, torna-se fundamental testar e uniformizar procedimentos, criando sinergias e sintonia entre todos os envolvidos, garantindo assim o sucesso da missão". 

Do exercício, constam ainda duas palestras pela Esq. 552, sobre a missão de busca e salvamento em ambiente terrestre, bem como a realização de simulacros, que "permitam melhorar o dispositivo de busca e salvamento nacional, resultando em maior eficiência, eficácia e diminuição no tempo de resposta".

A FAP, que avançou ainda que o exercício, que irá decorrer nas Beiras, Serra da Estrela e Seia, envolve 37 militares da Força Aérea, mais de 300 operacionais da Proteção Civil – elementos da estrutura de Comando da ANEPC, elementos da Força Especial de Proteção Civil e Bombeiros oriundo de Corpos de Bombeiros de norte a sul do país – e elementos do INEM e do Grupo de Montanha da Unidade de Emergência de Proteção e Socorro da GNR. 

Uma equipa técnica da Escola Nacional de Bombeiros irá também acompanhar estas ações, no âmbito da melhoria contínua da formação.

A Esquadra 552 que conta com sete helicópteros AW119 Koala, está sediada na Base Aérea N.º 11, em Beja, mas garante além disso um alerta permanente na Base Aérea N.º 8, em Ovar, para as missões de busca e salvamento, com possibilidade de resgate, tanto no mar como em terra.



domingo, 7 de abril de 2024

Hughes OH-6 Cayuse (Loach), o melhor helicóptero ligeiro de combate? [M2483 – 28/2024] - Parte V e última

Diminutos mas (muito) bem armados (Episódio 5) (Último)

O tipo de missão dos helicópteros de reconhecimento no Vietname envolvia o voo a (extremamente) baixas altitudes, muitas vezes a baixa velocidade, com o objectivo de encontrar sinais escondidos de actividade inimiga.  Não era uma tarefa para pessoas com um elevado grau de preservação.  É verdade que as forças inimigas geralmente refreavam-se de atacar estes helicópteros porque, ao fazê-lo, sabiam que a retribuição por parte dos helicópteros de escolta armados e/ou ataques aéreos e/ou barragens de artilharia seria rápida e inevitável.  No entanto, contactos violentos entre o inimigo e os ágeis “Loach” eram muito frequentes e por isso, não surpreende que as tripulações carregassem todo o tipo de armas para se defenderem.  Em proporção ao seu tamanho, talvez fiquemos surpreendidos por descobrir que os “Loach” eram os helicópteros mais armados da guerra (ou até da história).  Já abordamos num episódio anterior a opção da “Minigun”, instalada na porta traseira esquerda, mas esta arma não era muito comum.  Era mais habitual o artilheiro (ou apontador) ocupar este local armado com uma M60 e um valiosíssimo par de olhos extra.  A M60 era a metralhadora média padrão das forças americanas nesta época e, num esforço de tornar a arma mais ligeira e compacta, era comum retirar o bipé, a coronha e até as miras.  Às vezes o próprio cano da arma era encurtado e as molas reforçadas para aumentar a cadência de tiro.  O artilheiro transportava os cintos de munição em simples caixas de madeira no chão do compartimento traseiro, junto aos pés.

Nesta foto vemos a omnipresente M60 a bordo de um “Loach”.  Reparem na ausência do bipé, e das coberturas da coronha e do cano (não só para cortar o peso mas também para tornar a arma mais maneável e rápida de apontar).  Neste caso as miras permanecem mas quando eram retiradas o artilheiro apontava a arma por seguir o trajecto e impacto das balas tracejantes.  De notar também a caixa de madeira cheia de munição 7.62x51mm e as várias granadas presas na antepara dos assentos do piloto e observador.

Além das M60 os restantes membros da tripulação também necessitavam de armas, especialmente para se defenderem no solo em caso de avaria ou danos de combate.  A mítica M16 era, compreensivelmente, uma escolha usual, especialmente na versão curta e compacta, conhecida como CAR-15 ou “Commando” – ideal para manobrar nos espaços confinados do “Loach”.  Os pilotos confiavam no revólver Smith & Wesson M10, calibre .38, com seis cartuchos.  Pode parecer uma escolha antiquada mas os pilotos preferiam o revólver em vez da famosa pistola Colt M1911 de calibre .45.  Porquê?  Os pilotos descobriram que era bastante difícil carregar a Colt em caso de ferimento nos braços ou das mãos.  Por outro lado, o revólver, apesar de menos potente, podia ser facilmente manuseado com apenas uma mão.  Muitas outras armas surgiam nos cockpits dos “Loach”; lançadores de granadas M79, submetralhadoras M1A1 Thompson e M3A1 “Grease Gun” e muitas outras adquiridas de fontes não oficiais.  Os tripulantes dos “Loach”, devido á natureza das suas missões, conviviam de perto com elementos das forças especiais (SEALs, “Boinas Verdes”, etc) e era habitual a troca de armas em sinal de respeito e apreço - apesar de proibido as chefias faziam “vista grossa” a este tipo de situações.  Armas confiscadas ao inimigo também acabavam nos cockpits do “Loach”.  A AK-47 era uma arma fiável, robusta e potente mas o som característico do seu disparo tendia a atrair fogo amigo na direcção do “Loach” - sem surpresas o seu uso tornou-se particularmente desaconselhado.

O local de trabalho do artilheiro não deixa dúvidas; a expressão “armado até aos dentes” acaba por ser insuficiente.  Além das várias granadas presas na antepara (pelo formato devem ser de fumo ou gás lacrimogéneo) vemos uma caixa de munição para a M60, outra enorme caixa cheia de granadas de fragmentação e mais uma com explosivos…  Mas a segurança não foi (totalmente) descurada, notem que as caixas estão assentes em placas de protecção balística.  Não vá o Diabo tecê-las…


No cockpit deste “Loach”, na posição do observador (o piloto geralmente ocupava o assento direito), encontramos mais um “cacho” de granadas de gás lacrimogéneo presas por arames e um saco cheio de granadas de fragmentação M26.  Nas missões sem artilheiro (ou quando se optava por transportar a “Minigun” na cabine traseira) cabia ao observador as tarefas de localização e ataque das posições inimigas.

Granadas de todos os tipos (fragmentação, impacto, fumo (de várias cores), gás lacrimogéneo e incendiárias) eram usadas em abundância nestas missões, talvez a arma ofensiva de maior utilidade no Vietname.  Conforme se confirma nas fotos, as granadas eram penduradas pela alavanca de segurança em cabos ou arames colocados nas costas do assentos dianteiros – mesmo “á mão” do artilheiro.  Apesar das precauções das tripulações na acomodação das granadas, muitas vezes ao ponto de as proteger com coletes balísticos, a verdade é que os acidentes eram frequentes e vários helicópteros foram perdidos desta forma.  Outro apetrecho específico eram as chamadas “bombas”.  Alguns tripulantes descobriram que atacar bunkers, túneis ou pequenos barcos com granadas em múltiplas passagens era potencialmente perigoso e, muitas vezes, ineficaz.  Que dizer de executar apenas uma passagem mas lançar um explosivo maior… muito maior?  Os tripulantes dos “Loach” ficaram conhecidos por prepararem cargas explosivas personalizadas; geralmente uma caixa carregada com uma combinação de explosivo plástico C-4, algumas granadas de fragmentação e incendiárias misturados com pregos e/ou parafusos – “cocktails” que chegavam a pesar 15kg!  Transportar quantidades tão grandes de explosivos improvisados a bordo de um helicóptero tão pequeno, e debaixo de fogo inimigo, adicionava mais um pouco de drama ao já perigoso dia-a-dia dos tripulantes dos “Loach”.

Este poster promocional da Hughes demonstra muito bem o “espírito” que envolvia o nome Cayuse, uma raça de cavalos criados pela tribo nativa Americana com o mesmo nome.  Por outro lado, esta imagem artística também invoca a perigosa responsabilidade de reconhecimento aéreo próximo que estas tripulações desempenharam no Vietname, dignos sucessores das missões outrora executadas a cavalo nas planícies do Oeste Americano.


Texto e seleção de imagens: Icterio
Edição: Pássaro de Ferro


domingo, 31 de março de 2024

Hughes OH-6 Cayuse (Loach), o melhor helicóptero ligeiro de combate? [M2482 – 27/2024] - Parte IV

 “Fish Hook”, Cambodja, 1970 (Episódio 4)

“Às vezes voávamos com as meninas da Cruz Vermelha, que apelidávamos de “Donut Dollies”, nas visitas às tropas no terreno.  É preciso compreender que raramente víamos mulheres com “olhos redondos”.  Com sorte, ao levar o CO ao hospital, conseguíamos olhar de relance para uma enfermeira, por isso, estas visitas das “Donut Dollies” tinham grande impacto no moral dos homens.  Quando nos chamavam para ir buscá-las, uma sentava-se na frente, junto com o piloto e a outra ia atrás.  Nestas ocasiões especiais era nossa tradição aterrar de frente à entrada nas bases avançadas.  A rapariga ao lado do piloto (usavam sempre saias curtas) tinha de levantar a perna por cima da alavanca do cíclico para sair do “Loach”, e os soldados na base adoravam apreciar a…vista.  Isto funcionava com as miúdas novas, mas as mais experientes, e que já conheciam as nossas manhas, pediam-nos para colocar o helicóptero de lado.  Numa ocasião fui incumbido de transportar uma miúda para uma base na linha da frente.  Era muito bonita e foi um prazer vê-la ajustar-se no assento e a apertar o cinto.  Quando estávamos prontos para arrancar ela pergunta-me se eu a deixava pilotar.  “Claro” disse eu, “assim que estivermos no ar”.  Mas ela responde que consegue descolar e eu pensei, “sim claro, deves conseguir, deves”.  Disse-lhe que lhe entregava os controlos mas ia estar atento a tudo o que fazia.  Claro que eu pensava que ela não sabia o que estava a pedir e enquanto pensava no meu discurso condescendente de que “descolar um helicóptero é mais difícil do que parece” e… já estávamos no ar!  Ela descolou!  Suave, transição para voo, uso acertado dos pedais, tudo impecável.  Pilotou o caminho todo até á base e fez a aproximação para aterrar onde eu assumi os controlos e aterrei o “Loach” – provavelmente ela conseguiria aterrar também.  Ela disse-me que pilotava sempre que tinha oportunidade e os pilotos eram muito prestativos - ou ela aprendia muito rápido ou os instrutores davam-lhe toda a atenção.  Sempre me perguntei se ela teria seguido carreira na aviação.  Jeito não lhe faltava.”

Não perguntem.

Kurt Schatz, piloto de “Loach” da “1st Cavalry”, conta um episódio assustador ocorrido durante uma incursão no Cambodja que o próprio gosta de intitular de “Menino Perdido”; 

“Encontrámos montes de acção a Oeste do famoso “Fish Hook” – comboios de camiões do exército Norte Vietnamita carregados de tropas.  Os nossos “Cobras” (Bell AH-1 Hueycobra) faziam fila para mergulhar e metralhar as colunas inimigas. Faziam-me lembrar os filmes da 2ª Guerra Mundial, com os P-51 Mustang a atacar as tropas nazis.  No regresso à base encontrámos o maior inimigo do helicóptero: uma parede sólida de nuvens no horizonte, a tapar todas as saídas do Cambodja.  Não tinha muitas alternativas, estava a escurecer e o combustível a escassear.  Voávamos a 600 metros de altitude e sabíamos que aquela tempestade iria engolir-nos a qualquer momento.  O líder do grupo, a bordo de um “Cobra”, ordenou pelo rádio;

“Vamos descer.  Vamos passar por debaixo das nuvens e voltar para casa.”

Ainda estávamos bem dentro do Cambodja quando penetrámos na tempestade.  O “Cobra” ia na frente, mas era difícil acompanhá-lo e perdemo-lo rapidamente de vista nas nuvens.  Desesperado, pedi por ajuda;

“Não te consigo ver!  Perdi-te de vista!”

Mas a resposta do “Cobra” deixou-me branco como a cal;…

“Desculpa rapaz, mas estás por tua conta.  Vamos para IFR (voo por instrumentos) e ganhar altitude.”


O Bell AH-1 “Cobra” foi outro fenomenal helicóptero de combate.  O primeiro verdadeiro gunship, era venerado pelas suas tripulações e pelas tropas no solo.  Extremamente bem armado, ágil e muito rápido – tão rápido, que até um “Loach” tinha dificuldades em o acompanhar, conforme Kurt Schatz confirmou numa incursão no Cambodja em 1970. 

“Estava fo… lixado.  A chuva era tanta que os rádios deixaram de funcionar, um por um.  Como é que vou para casa agora?  A última transmissão que ouvi do “Cobra” foi; “Dirigi-te para Leste…”, e o rádio pifou de vez.  Pairei por cima de umas árvores para tentar perceber a minha situação mas a chuva intensificava cada vez mais.  A única forma de ver qualquer coisa era por esticar a cabeça para fora da cabina mas a escuridão era total.  Não tinha escolha.  Liguei as luzes para iluminar a selva abaixo.  Assim, continuei lentamente para Leste, logo acima da cobertura das árvores.  A dada altura, ao lado do meu patim direito vi uma estrada de terra.  Pelo menos era um caminho que podia seguir.  E lá fomos, lentamente acima da estrada, com as luzes acesas, á vista de todos os inimigos nas redondezas!  Ao longe, na estrada, vimos uma luz fraca por entre a chuva forte.  Desliguei as minhas luzes de imediato e discuti com a minha tripulação o que fazer.  “Rapazes, temos de decidir.  Aquela luz ou é o inimigo ou as nossas tropas.  Eu não faço ideia, se calhar ainda estamos no Cambodja.  Temos duas hipóteses; voltamos para trás nesta estrada e ficamos sem combustível ou descobrimos que luz é aquela.

Eles já podiam ter disparado, por isso eu acreditava que não deveria ser o inimigo.  Concordámos em descobrir a fonte da luz.  Aterrei o “Loach” na estrada e saquei do meu revolver .38.  O observador saiu com o lançador de granadas M79 e o artilheiro saltou com a M60 e várias fitas de munição por cima dos ombros e desapareceu na escuridão em direcção à misteriosa luz.  Depois do que pareceu ser uma eternidade, o artilheiro finalmente regressou e com o maior sorriso que já vi na vida.

“Sir, é a nossa malta!  É uma base de artilharia.” 

Graças a Deus, o menino perdido encontrou o caminho para casa.”     


Um artilheiro, armado com uma metralhadora M60, demonstra a posição de vigilância e combate a bordo de um “Loach”.  Esta posição aumentava bastante os ângulos de visão e de tiro do artilheiro mas também o expunham mais ao fogo inimigo.  É possível ver também as placas de blindagem laterais do assento frontal.


Texto e seleção de imagens: Icterio
Edição: Pássaro de Ferro


segunda-feira, 25 de março de 2024

PRIMEIRO P-3 ORION TERMINA ATUALIZAÇÃO NO CANADÁ [M2481 – 26/2024] - com vídeo

O primeiro P-3C CUP+ (n/c 14808) da Esquadra 601 a ser atualizado no Canadá       Foto de arquivo

Tal como o Pássaro de Ferro noticiou nas redes sociais Facebook e X, o primeiro P-3C CUP+ (n/c14808) da Esquadra 601 - Lobos, da Força Aérea Portuguesa (FAP), foi captado na passada semana, no radar virtual ADSB Exchange, a realizar voos de manutenção, a partir de Halifax, Canadá, onde se encontra desde outubro de 2023, a realizar atualizações dos sistemas de missão, pela General Dynamics Mission Systems-Canada.

A FAP confirmou hoje mesmo em nota de imprensa, o sucesso da " fase inicial de testes – no solo e em voo", acrescentando ainda que nos voos de experiência, "que decorreram entre os dias 18 e 23 de março, estiveram presentes uma tripulação da Esquadra 601 e um militar da Direção de Engenharia e Programas".

14808 com a tripulação portuguesa em Halifax         Foto via FAP

A modernização envolve a atualização do sistema de identificação amigo-inimigo (IFF), sistema anticolisão de tráfego e terreno, Link 16 encriptado (comunicações táticas por internet), além da instalação de um novo sistema de missão, com capacidade de evolução futura. A FAP classifica esta modernização como "fundamental para manter operacional a capacidade de patrulhamento marítimo da Força Aérea em contexto nacional, União Europeia e NATO".


Ainda de acordo com a mesma nota, a aeronave irá regressar brevemente a Portugal, para cumprir na Base Aérea N.º 11, Beja, a última fase dos trabalhos de modificação e realizar os testes finais de aceitação. Já os trabalhos de modernização dos restantes P-3C CUP+ dos "Lobos", está previsto estenderem-se durante 2025.

A Esquadra 601 já recebeu entretanto, os dois primeiros de um total de seis P-3C, provenientes da Marinha Alemã, num negócio que inclui outros tantos kits de modernização MLU, embora não seja ainda claro quando, em que células, e em que moldes irão ser usados.




sábado, 23 de março de 2024

Hughes OH-6 Cayuse (Loach), o melhor helicóptero ligeiro de combate? [M2480 – 25/2024] - Parte III

Bính Thuy, Vietname, 1970 (Episódio 3)

Os pilotos mais prudentes de “Loach” não perdiam tempo em ensinar os seus observadores a pilotar o helicóptero para a eventualidade do piloto ser atingido ou incapacitado.  Em Dezembro de 1970 o piloto Rick Waite e o seu observador, Bill Hanegmon, procuravam sinais de actividade inimiga numa área perto do Mekong Delta conhecido como “Wagon Wheel”.  Rick explica como as lições de voo que deu ao colega Bill acabaram por salvar a vida de ambos;

“Aproximamo-nos a cerca de 10 quilómetros da bacia do rio quando vimos vários sinais frescos de actividade inimiga.  Havia pegadas recentes na areia junto á água e pequenos barcos na margem escondidos sobre a folhagem.  De repente o Bill gritou; “Corta á esquerda!, Corta á esquerda!  Vai ali um homem a fugir!”.  Virei imediatamente e o Bill começou a descarregar com a M60.  Subitamente ouvi uma explosão ensurdecedora junto á minha porta e tudo ficou completamente negro.  Conseguia ouvir o Bill a gritar; “Eu controlo o helicóptero, eu controlo o helicóptero!”.  Fiquei temporariamente desnorteado, não conseguia ver ou entender nada.  Depois, finalmente, percebi que tinha o capacete virado a 90 graus.  No momento da explosão virei tão rápido que a minha cabeça girou dentro do capacete.  Enquanto endireitava o capacete (e recuperava a visão) ouvia o Bill a comunicar com o heli de controlo a avisar que tínhamos sido atingidos e que ele estava a pilotar o aparelho.  Havia sangue a voar por todo o lado no cockpit e parecia que vinha da minha cabeça.  Comecei a apalpar a cara á procura de algum ferimento ou buraco mas sem sorte.  O Bill continua a comunicar e ouvi as instruções pelo rádio para ele tentar aterrar numa clareira a 3 quilómetros de distância.  Inclinei-me no assento e o sangue continuava a escorrer da cara mas já tinha desistido de procurar a fonte, pensei que era melhor estar quieto e esperar que o Bill aterrasse.”      


O “Loach” de Rick Waite (s/n 66-17792) ficou neste estado após o incidente de Dezembro de 1970.  Vemo-lo aqui na base após ter sido recolhido por outro helicóptero mas, apesar dos enormes estragos, foi reparado e serviu na Guarda Aérea Nacional nos EUA.

“O Bill manteve-se a baixa altitude e alinhou o “Loach” numa pequena estrada entre dois arrozais mas quando estávamos mesmo prestes a aterrar, a pouco mais de 10 metros de altitude, o motor parou!  Estávamos demasiado baixos para uma auto-rotação normal e demasiado altos e lentos para uma auto-rotação baixa.  Na realidade pouco interessava, porque nunca cheguei a ensinar ao Bill nenhuma manobra de auto-rotação!  Mas, tendo em conta tudo o que tinha acontecido até agora, o Bill estava a desenrascar-se muito bem.  Assim que o motor parou, não havia nada a fazer, íamos aterrar de uma forma ou de outra e o Bill conseguiu manter a traseira direita, que não é fácil quando não se tem potência.  Aterramos na estrada, sim senhor, mas como o rotor não tinha potência para amparar a descida os patins partiram-se e o “Loach” derrapou da estrada para dentro do arrozal.  As pás do rotor embateram na água, flexionaram e deceparam o rotor de cauda.  A água começou a encher o cockpit e nadamos para fora dali enquanto um dos nossos “slicks” (UH-1 Huey) aterrava para nos dar assistência.  Quando tentei pôr-me de pé senti uma dor lancinante e sentei-me no chão de imediato.  Deitaram-me numa maca, levaram-me para o “Huey” e começaram a ver o que se passava comigo.  Todos estavam á procura de algum ferimento grave na minha cabeça por causa do sangue na cara e no capacete.  Depois reparei num pequeno e perfeito buraco na minha bota.  Acertaram-me no pé, por isso doeu tanto quando me levantei!  Levaram-se para o hospital onde me consertaram.  Em três semanas já estava de volta ao activo.”  

Bill Hanegmon, observador e “piloto substituto em caso de emergência”, segura no colete balístico (jocosamente conhecido como “chicken plate”) que o salvou de ferimentos graves no abdómen.

“O nosso “Loach” foi atingido em 13 locais.  Um deles no radiador de óleo, que levou ao sobreaquecimento do motor que acabou por parar.  Calculamos que fomos atingidos por um explosivo colocado nos ramos das árvores, um tipo de armadilha anti-helicóptero que os vietcongues eram mestres.  Aquele sangue todo no cockpit vinha do meu nariz; ao virar a cabeça tão rápido, a borda do capacete acertou-me na penca e provocou aquele cenário assustador, mas não era nada de grave.  E, num “Loach” sem portas, o vento do rotor espalhou o sangue por todo o lado como uma batedeira!  Mas se há coisa na minha vida que dou por bem empregue foi o tempo a ensinar o Bill a pilotar.  Fazer aquela recuperação a baixa altitude e aterrar naquelas condições – foi simplesmente inacreditável.  Soube mais tarde que o Bill repetiu a proeza quando outro piloto foi atingido!  Nunca recebeu uma condecoração por nenhum dos incidentes.  Ele era um daqueles rapazes que se desenrascava em tudo mas sempre tranquilo e calmo e continuou assim depois da guerra, como detective em Hibbing no Minnesota.”  


Este “Loach” veterano de guerra do Vietname não se reformou com o fim do conflito.  Nada disso, após servir na Guarda Aérea Nacional encontrou trabalho na polícia de Gainesville, onde continuou a perseguir vilões durante 14 anos!  Em Janeiro de 2000 reencontrou-se com o seu amigo Rick Waite.

Mas a história não ficou por aqui.  Passados uns 30 anos, mais precisamente em Janeiro de 2000, Rick Waite recebe um convite da Polícia de Gainesville, na Florida, para os visitar.  Dois policias, Dale Witt e John Rouse, receberam o veterano do Vietname e levaram-no para um hangar pouco iluminado.  

“Naquele hangar tão escuro, parecia que estava a ver um fantasma.  Quando me aproximei comecei a sentir uma descarga de adrenalina.  O meu “Loach”!!  Os remendos na fuselagem e na porta do motor mostravam as feridas que ambos sofremos há 30 anos.  Mas estava espectacular.  Toquei-lhe e fiquei a olhar para ele fixamente, feliz por também ter sobrevivido estes anos todos.  Uma coisa é certa, envelheceu muito melhor do que eu!   A seguir os meus anfitriões abriram as portas do hangar e empurraram o “Loach” para a luz do sol.  Depois aconteceu!  Um deles entregou-me um capacete e perguntou;

“Estás pronto?”

Fiquei estupefacto.  Iam mesmo levar-me para um passeio!

“Nós não te vamos levar para um passeio.  TU vais nos levar para um passeio”.

Não podia acreditar.  Mas assim foi, a 5 quilómetros do aeroporto e a 150 metros de altitude o John disse;

“Força, agora é todo teu”.

Nas duas horas seguintes o “Loach” ficou nas minhas mãos e eu voltei aos meus 20 anos de idade como piloto de reconhecimento…”


Texto e seleção de imagens: Icterio

Edição: Pássaro de Ferro


terça-feira, 19 de março de 2024

F-16 DA FAP DE NOVO NA LITUÂNIA ENTRE ABRIL E JULHO [M2479 – 24/2024]

F-16AM da Força Aérea Portuguesa no patrulhamento aéreo do Báltico em 2014

O Estado Maior General das Forças Armadas anunciou em comunicado de imprensa, a realização da cerimónia de entrega do Estandarte Nacional à Força Nacional Destacada na Lituânia, a realizar no dia 21 de março, na Base Aérea nº5, em Monte Real, com a presença do Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, General José Nunes da Fonseca. 

O referido destacamento irá decorrer entre 1 de abril e 31 de julho na base de Siauliai na Lituânia, à semelhança das anteriores participações portuguesas no programa de Policiamento Aéreo do Báltico.

Os quatro F-16M das Esquadras 201 e 301 da Força Aérea Portuguesa e cerca de 95 militares, irão render os Mirage 2000-5F do Armée de l'Air francês, nas mesmas funções desde dezembro de 2023.

A Força Aérea Portuguesa participa ativamente desde 2007, na missões de policiamento aéreo da NATO, destinadas a patrulhar o espaço aéreo de países membros que não tenham meios próprios para o fazer, como é o caso das três repúblicas bálticas ex-União Soviética (Lituânia, Letónia e Estónia). 


Após a invasão da Crimeia pela Rússia em 2014, a NATO ampliou os meios atribuídos a estas funções, especialmente nos países do Leste europeu, tanto em número de aviões como de bases, como parte das medidas de tranquilização a estes aliados, naquilo que designa atualmente por ‘Enhanced Air Policing’.

Os caças portugueses irão identificar e intercetar aeronaves que não cumpram com as regras internacionais da aviação ou que sejam um potencial risco para o tráfego aéreo e para a segurança coletiva. 





CONCURSO ABERTO PARA AQUISIÇÃO DE TRÊS HELICÓPTEROS ADICIONAIS PARA O COMBATE A INCÊNDIOS PELA FORÇA AÉREA [M2478 – 23/2024]

Helicóptero Bombardeiro Médio do tipo UH-60 Black Hawk      Foto: FAP

Tal como o Pássaro de Ferro oportunamente informou, a aquisição de três Helicópteros Bombardeiros Médios (HEBM) adicionais, para o combate a incêndios rurais pela Força Aérea Portuguesa, foi aprovada por Portaria do Ministério da Defesa, a 27 de novembro de 2023.

O concurso para a sua aquisição encontra-se agora a decorrer desde 18 de março e por 30 dias, com um valor base de 22,6M EUR, a repartir pela aquisição das aeronaves, sistema de carga suspensa e balde, bem como formação para pilotos e técnicos.

A aquisição será a financiar com as verbas migradas do anterior concurso para a aquisição de quatro Helicópteros Bombardeiros Ligeiros, que ficou então sem propostas, às quais serão adicionadas as verbas remanescentes do concurso anterior para a aquisição de seis Helicópteros Bombardeiros Médios, cuja proposta vencedora com os UH-60 Black Hawk da Esquadra 551, se situou 14,8M EUR abaixo do preço base.

O Caderno de Encargos do concurso ora lançado, prevê a entrega do primeiro helicóptero até 30 de junho de 2025, com o segundo até 30 de novembro de 2025 e o terceiro e último um ano após a entrega do primeiro, ou seja, 30 de junho de 2026.

Entre múltiplos requisitos técnicos, o Caderno de Encargos estipula que "os três helicópteros HEBM devem ter entre si a mesma configuração de software e de hardware - provisões fixas" e que "estas devem permitir a instalação e operação dos equipamentos e sistemas de combate a incêndios rurais e de busca e salvamento sobre terra".

Os aparelhos poderão ser novos ou usados, devendo no segundo caso ter menos de 30 anos e até 5000 horas de voo em média, com o limite absoluto de 37 anos e 7000 horas de voo para cada uma das células. No caso dos helicópteros usados, o concurso requer ainda que "não deverão conter equipamentos e/ou componentes que não tenham uma linha de produção ativa". O ciclo de vida disponível deverá ser de 20 anos, com uma projeção de 250 horas de voo/ano.

Além das aeronaves, e de equipamento para o combate a incêndios, o concurso inclui, tal como referido, a formação de 6 pilotos e 18 mecânicos, em duas fases, até junho de 2026.

Embora do ponto de vista logístico fosse preferível que os três helicópteros objeto do presente concurso serem do mesmo modelo dos seis Black Hawk já adquiridos, tratando-se de um concurso público aberto, há sempre a possibilidade de tal não vir a acontecer, sendo as únicas limitações impostas o fabricante pertencer a um país membro da UE ou NATO.



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