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sábado, 3 de maio de 2014

CHUCK YEAGER: DIÁRIO DE UM ABATE NA II GUERRA MUNDIAL - 5 (M1566 - 149PM/2014)

Chuck Yeager    Foto: USAF


Capitulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3 
Capítulo 4

25 de março de 1944 - Os Maquis põem-me a andar

Os Maquis vivem das povoações, não vivem dos bosques. As povoações são perigosas, infestadas de alemães e polícia de Vichy, mas a malta infiltra-se para comprar comida, cigarros e medicamentos, usando selos de racionamento e dinheiro falsos. Fico espantado de nunca niguném ser apanhado, ou se são, se calhar não me dizem.

Mas nesta tarde de chuva, Robert chama-me de parte para me dizer que vou acompanhar dois elementos do grupo para ir à cidade. Sorri e dá-me uma palmada nas costas. "Não te preocupes" diz. "Simplesmente mantém-te com eles". Depois vira costas e afasta-se. Não o voltaria a ver durante 64 anos.

Não estou muito contente coma situação, mas os dois tipos que tenho que acompanhar começam a caminhar pela floresta e apresso-me para os alcançar. Será isto uma cilada? Será demasiado perigoso?
Não andamos muito. Está uma carrinha parada à beira da estrada de terra usada por lenhadores; assim que nos aproximamos, a traseira abre e um jovem estende-me a mão para que eu entre. Agarro-lhe a mão, trepo para dentro e arrancamos.

Está escuro como breu na traseira da carrinha e o meu companheiro não fala inglês, mas não preciso que me digam que é agora; vamos em direção ao Sul, para os Pirinéus. Finalmente. Mas ainda falta muito para a liberdade. Falta muita neve. Um metro de neve ou mais nalguns sítios. Como vamos atravessar os Pirinéus nisto? Não me importo. Vou arranjar uma maneira... espero eu!

Andamos várias horas até a carrinha parar. É início de noite, mas está escuro e a chuviscar e estamos parados encostados a um muro, naquilo que parece ser uma estrada secundária numa aldeia qualquer. à espera. 
Um francês leva-me a atravessar a estrada, onde outro camião está parado, com o motor em ponto-morto. Sigo-o com muita fé, com os olhos a registar tudo, no caso de precisar de fugir e desaparecer rapidamente.

26 de março de 1944 - No sopé dos Pirinéus

Sentados nos bancos e ninguém diz nada. Principalmente porque estão demasiado ocupados a agarrar-se, enquanto o condutor deambula por estradas secundárias ao 80 km/h ou mais. Ouço o tipo sentado ao meu lado murmurar "Jesus Cristo". Suponho que estou com uma data de tripulantes de bombardeiros que vão atravessar os Pirinéus juntos.
Depressa as mudanças lá à frente estão a variar entre a primeira e a segunda, assim que começamos a subir em zonas inclinadas. Era bom atravessar as montanhas para Espanha sobre rodas. Uma lanterna é ligada por um tipo sentado no fim de um dos bancos. Mete-se no chão entre o resto de nós. É um francês que fala bem inglês. "Estamos nos arredores de Lourdes" conta-nos, "em direção ao sopé das montanhas". Distribui-nos mapas feitos à mão, com detalhes para no nosso caminho. "Podem ir juntos em equipa, ou em pares. Provavelmente vai levar-vos quatro ou cinco dias a atravessar, dependendo do tempo. Tem estado mais ameno, pelo que penso que não vai haver nevões. Mas vai ser difícil - não vos vou enganar. A parte mais perigosa será mesmo antes da fronteira com Espanha. Está muito patrulhada pelos alemães e há todo o tipo de contrabandistas, refugiados, militares e pessoal como vocês, a tentar atravessar. A vossa melhor aposta será tentar atravessar à noite, o mais tarde possível. Marcámos no mapa uma travessia pelo sul, quanto mais pelo sul melhor, porque os espanhóis do norte têm o mau hábito de entregar pilotos americanos à Gestapo e receber alguns francos de recompensa. Se isso acontecer, podem esperar ser torturados, para contarem tudo o que sabem sobre nós, e depois são levados para execução. Por isso, tenham cuidado".
Reparo num monte de mochilas cheias, empilhadas de encontro à cabine. Quando finalmente paramos, bem depois da meia-noite, no meio de nenhures, cada um de nós agarra numa mochila e sai do camião. "Estão no ponto de partida" diz-nos o tipo. "Há uma barraca dum lenhador a cerca de cem metros, diretamente à frente. Podem usá-lo. Mas nada de fogueiras ou conversas. Esta zona é patrulhada. comecem ao nascer do dia. Hoje é 25 de março. Com sorte, podem contar em estar em Espanha a 29 ou 30."
Deseja-nos sorte e arranca no camião.
Passamos a noite a tremer na cabana... apenas com os nossos pensamentos. tento dormir alguma coisa - parece que temos alguns desafios pela frente.

NOTA: Conheci recentemente a mulher do neto do condutor recentemente. Estive em casa dele, onde trocámos de veículo. Bonita zona. Como estive lá à noite da primeira vez, não tinha notado.

Março de 1944 -  Fugindo aos alemães pelos Pirinéus

Aos primeiros alvores, pomo-nos a andar na chuva, decididos a pelo menos começar juntos e ver depois como resulta. Ao meio-dia, dois de nós chegaram à zona sem árvores, com ventos fortes. Os outros não se encontram à vista. Os franceses mandaram-nos pão, queijo e chocolate nas mochilas.
A neve não derreteu nada. Na verdade tem quase um metro e nalguns sítios mais. Os Pirinéus fazem os montes da nossa terra parecer planícies. Atravessamos ligeiramente a sul da cordilheira central, que forma a fronteira entre a França ocupada e a Espanha "neutral". Os montes mais altos têm 3300 m, mas parece-nos que não vamos subir a mais de 1800 ou 2100 m. O problema é que estamos temos neve até aos joelhos e acima. Atravessamos passagens tão escorregadias, que o fazemos sentados. Continuo a perguntar-me porque é que os Maquis não esperaram até a neve derreter.

Soube há um par de anos - quando revisitei a zona - que 1944 foi um inverno muito rigoroso e que Gabriel, o presidente da câmara de Nerac, chefe dos Maquis, recebera uma informação de que a Gestapo tinha sido informada e viria a Nerac para nos cercar, poucos dias depois de eu ter partido. Um fazendeiro recusou-se a abandonar a sua casa. Foi levado e nunca mais se ouviu falara dele.
O Gabriel saiu pelas traseiras, quando a Gestapo lhe entrou pela frente de casa. Correu para o cemitério e escondeu-se num caixão. Depois escondeu-se nos bosques por seis semanas, deixando o Dr. Henri o sub-chefe dos Maquis no comando. Muitos anos depois foi aí que o Gabriel foi sepultado.

Primeiro descansamos a cada hora, depois a cada meia-hora. Mas à medida que subimos para o ar mais rarefeito, paramos a cada 10 ou 15 minutos, frios e exaustos. A subida é infindável, e tenho que me perguntar quantos dos nossos realmente conseguiram atravessar estas montanhas e quantos ficaram a alimentar os corvos que grasnam por cima das nossas cabeças. Dormimos e descansamos quando podemos, usando rochas para nos abrigarmos como podemos do constante vento gélido. Temos os pés dormentes e estamos ambos preocupados com as queimaduras do gelo. Os franceses deram-nos quatro pares de meias de lã. Usamos dois pares de cada vez, mas as botas deixam entrar água.
Pelo fim do segundo dia, não temos a certeza há quanto tempo estamos por aqui; perguntamo-nos se estaremos perdidos. Já tarde no dia seguinte, estamos prontos a desistir. devemos estar perto da fronteira, mas nuvens baixas restringem-nos a visibilidade a menos de 15 metros. São quatro da tarde e estamos tão exaustos que até podíamos dormir entre cada duas passadas, abanando como dois bêbados. Penso que este é o tipo de situação que precede acidentes fatais...

Março de 1944 -Escapando aos alemães nos Pirinéus - andando devagar

Exaustos de subir durante dois dias e uma noite em quase um metro de neve, sem muito para comer, adormecemos numa cabana que encontrámos. pareceram poucos minutos até ouvirmos barulho de tiros. Os alemães tinham encontrado as meias do outro tipo, que ele tinha pendurado para secar. Disparar e perguntar depois. Fugi pela janela das traseiras e ele veio atrás de mim. Tive de o arrastar - foi atingido. Empurrei-o por uma passagem íngreme e saltei logo atrás. Ambos aterrámos num riacho. Daí em diante tive que o carregar. Bem, carregava-o nas subidas e empurrava-o na neve nas descidas, à medida que subíamos e descíamos, embora sempre ganhando altitude. Descansando a cada 10 minutos pelo que nos parecia. Andando devagar. Mas tendo os alemães a disparar nas nossas costas, dáva-nos muitas razões para continuar.

Soube anos mais tarde que esta era a pior zona dos Pirinéus - o melhor para fugir aos alemães, que não gostavam de subir às zonas mais inclinadas. Eu também não gostei muito.
Andei o máximo que consegui, encontrei algum abrigo para nós e parei para uma pequena sesta. Simplesmente já não conseguia avançar um pé à frente do outro.
Mas apenas dormitei - um olho meio aberto e um ouvido à escuta de passadas ou neve a ser calcada.

(Continua)

Texto: Victoria Yeager
Tradução : Pássaro de Ferro





sábado, 26 de abril de 2014

CHUCK YEAGER: DIÁRIO DE UM ABATE NA II GUERRA MUNDIAL -4 (M1555 - 140PM/2014)

Fiesler Storche - avião de reconhecimento da Luftwaffe

Capitulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3

18-19 de março de 1944

 Regressamos de bicicleta a Nerac em tempo recorde e enfiamo-nos no esconderijo da casa do Gabriel. À noite o Raoul sai. Gabriel leva-me para a floresta. Uh oh!
Caminhamos durante horas. Estou alerta. Para onde me leva? Porquê? Tento não pensar em tanto frio que está.
Após várias horas, encontramo-nos com um grupo de homens de ar bastante duro. Gabriel explica que devo ficar com eles por agora. Na aldeia é muito perigoso. Mais Gestapo vai chegar.
Comemos alguma coisa e Gabriel parte. Fico com cerca de 20 homens. Levantamo-nos e caminhamos mais. Estou exausto, mas caminhar sempre me mantém quente. Finalmente, com a primeira luz, procuramos abrigo nos bosques cerrados, aninhamo-nos e mergulhamos num - especialmente para mim - muito necessitado sono. A neve na verdade permite algum calor. Alguns homens regressam atrás e redirecionam o nosso rasto.
Estava ainda agora a habituar-me ao Gabriel e ao Raoul. O que se segue? Posso confiar nestes tipos?  Para onde vamos?
Uma coisa acho que compreendo: os alemães andam à nossa procura.

20-21 de março de 1944

A maior parte do tempo não faço ideia de onde estamos. Estamos constantemente em movimento, acampando duas vezes por dia para comer e dormir, nunca ficando no mesmo local mais do que algumas horas de cada vez.
Os alemães estão sempre no nosso encalço, com os Fiesler Storches a rasar a floresta, enquanto corremos a abrigar-nos debaixo das árvores maiores que encontramos. Estamos bem armados: pistolas-metralhadoras Sten britânicas e Llama automáticas espanholas de .38 - e eu ia adorar disparar um par de rajadas aos malditos Storches, acertar no radiador na barriga e abatê-lo. Mas se o piloto transmitisse por rádio a nossa localização, teríamos a Luftwaffe a bombardear estes bosques em 15 minutos. Claro que nunca sabemos com certeza se fomos localizados por um dos aviões de reconhecimento e a nossa posição transmitida. Por isso ficamos alerta como os veados, sabendo que cada passo pode levar-nos a uma emboscada alemã. Já aconteceu antes nestes bosques, apesar de normalmente serem os Maquis aos alemães e não o contrário - atacar uma patrulha a pé alemã, ou pulverizar uma pequena coluna militar motorizada.

Os Maquis escondem-se de dia e atacam à noite, destruindo pontes, sabotando linhas de caminho de ferro, rebentando comboios de munições ou equipamento militar. Através da resistência francesa, dúzias de grupos de Maquis como o nosso, escondem-se nas florestas e montanhas, mas ligadas às cidades e aldeias do sul de França. Os seus que trabalham em quartéis e campos de treino, mantêm-nos informados dos últimos movimentos de tropas e munições. Mas é complicado, porque todas as povoações têm informadores ou agentes-duplos. E de tempos a tempos, são levados a cabo assassinatos contra esta gente, por apoiantes pró-Nazis ou agentes do Governo de Vichy. Pergunto-me se haverá agentes duplos neste grupo.

Passear pelos bosques franceses em roupas civis, não é propriamente seguro para um aviador americano abatido. Se eu for apanhado, provavelmente enfrento o mesmo destino destes Maquis - entregue à Gestapo para interrogatório- tortura e depois fuzilado. Ao viajar com os Maquis, a Convenção de Genebra para Prisioneiros de Guerra não se aplica a mim. Mas preciso deles, se quero sair atravessando os Pirinéus. Só esperamos as neves derreterem para o podermos fazer. Está a ser um inverno anormalmente frio, com neve alta. Parece que nunca vai derreter....

22 de março de 1944

Estamos na floresta a comer ao raiar da aurora.
Ouvimos o avião alemão. Todos param. Ouvimos. É bastante próximo. Verificamos as redondezas. Estamos bem cobertos mas... recentemente alguns do grupo haviam saído para emboscar uma patrulha alemã. Os alemães estão chateados. Ninguém se mexe.
Depois de passar, acabamos de comer rapidamente, guardamos as coisas e pomo-nos a andar, mantendo-nos a coberto.
Faz outra passagem. Demasiado perto. Quando ou ouvimos todos ficam petrificados. Ninguém ousa mexer um músculo.
Enquanto estamos em movimento estamos todos a prémio, no caso de sermos detetados do ar e uma patrulha alemã querer retribuir o favor e emboscar-nos.
Estou com comichão para voltar para dentro de um avião. E abater o avião patrulha.

23 de março de 1944

Os Fiesler Storches não nos encontraram... ainda.
Viajo com os Maquis, mas não me deixam participar nas atividades noturnas. São um grupo fechado e eu sou nitidamente um intruso. A maior parte do tempo nem sei o que estão a preparar. Deixam-me para trás com um velhote que é o cozinheiro e alguns outros a guardar o acampamento. No primeiro dia por exemplo, mugi uma vaca que dois deles pediram "emprestada" numa quinta enquanto caminhávamos para o novo acampamento. Mais tarde ajudei a desmanchar carne, o que de algum modo divertiu os Maquis. faço o meu melhor para contribuir como posso. Não quero ser dispensável.
A neve parece não ter intenção de derreter e deixar-me escalar os Pirinéus para escapar para Espanha.

24 de março de 1944

Sou o primeiro piloto americano que conhecem e estão curiosos acerca do que eu penso da Força Aérea Alemã. Digo-lhes que o FockeWolf 190 é um sacana dum grande caça. Provavelmente ao nível do nosso P-51 Mustang. Mas o Mustang com depósitos nas asas pode escoltar bombardeiros até ao interior da Alemanha, o que é uma tremenda vantagem para a campanha americana de bombardeamentos diurnos. Apesar dos nossos serviços de informação nos terem avisado que os alemães chamaram os seus melhores pilotos da frente russa para lutar contra nós na Alemanha, digo-lhes que a diferença entre os caças não é tão importante como a diferença entre as capacidades dos pilotos que os voam, e até agora os americanos têm provado a sua superioridade com uma relação de abates de 1 para 10.
R. traduz isto e todos sorriem e acenam com a cabeça ao que eu digo, com exceção de um cabeçudo de que não gostei desde o primeiro momento que o vi. Não gosto nem confio nele. Faz uma pergunta em francês que faz com que R. franza o sobrolho e discuta com ele, por estar sequer a perguntar aquilo. Finalmente, Robert coloca-me a pergunta do cabeçudo em inglês. "Se os americanos são tão bons como tu dizes, porque é que nós vemos americanos a cair do céu como granizo - e porque estás tu aqui connosco?"
O FDP!
Comemos debaixo das árvores, a nossa mesa é uma tábua comprida. Fizeram uma grande panela de feijão e bife, da vaca que matámos. Olho para o fundo da mesa e vejo o cabeçudo a empanturrar-se de rancho, com o boné enterrado até às sobrancelhas. Levanto-me, aproximo-me dele, tiro-lhe o maldito chapéu e pouso-o na mesa.
Ficou furioso. 
Mexe no cinto, tira a Llama, arma-a e coloca-a na mesa junto a ele, e coloca outra vez o boné.
Levanto-me pego numa Sten, destravo-a, ponho-lhe o carregador mesmo em frente do nariz do cabeçudo. Um toque no gatilho e dispara uma rajada de cerca de 30 balas. O cabeçudo fica branco como a cal. Tiro-lhe o boné da cabeça e atiro-o de encontro à mesa.
Os outros mordem a língua para não se rirem, porque o cabeçudo é sempre normalmente um chato, mas finalmente todos explodem. 
O cabeçudo força um sorriso amarelo. O boné ficou na mesa e vai lá continuar.
Até vários saírem em missão e me deixarem sozinho com o velhote e alguns guardas.
Quando tento ferrar o olho começa a nevar. Resmungo. Isto não ajuda nada - vai atrasar a minha travessia dos Pirinéus ainda mais. Quem me dera poder ir nas missões. Quem me dera ter um avião com metralhadoras carregadas...

(Continua)

Texto: Victoria Yeager
Tradução: Pássaro de Ferro


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