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quinta-feira, 7 de março de 2024

A DEFESA SEM DEFESA [M2472 – 17/2024]

Imagem de arquivo, de um calendário de bolso da Marinha Portuguesa em que são visíveis duas fragatas da Classe João Belo (a F481, Hermenegildo Capelo e, atrás, a própria João Belo, F480); a corveta F486 - Batista de Andrade e o navio reabastecedor São Gabriel - A5206.


Na véspera de umas eleições de importância vital para o futuro do país, através de uma análise aos discursos, aos debates e aos mil e um comentários a ambos percebe-se, sem particular esforço, que os assuntos relativos à defesa ou não foram abordados ou, quando o foram, isso aconteceu de forma superficial e sem um fio condutor que perspetive uma política com cabeça, tronco e membros, acompanhada de uma visão agregadora e de futuro no que toca à defesa nacional e, também, à defesa da Europa. O mesmo raciocínio se aplica às alterações em curso e previsíveis na geoestratégia no espaço europeu e, não menos importante, tentar agir por antecipação, ao que pode vir do lado de lá do Atlântico a partir de novembro, sobretudo se, como já aludimos, na Casa Branca mudar o penteado e a cor de cabelo do seu principal responsável.
Os partidos, pelo que se vê, não consideram estas matérias suficientemente importantes para as colocar nas suas “agendas” ou, pior do que isso, não produzem pensamento relativamente a estes assuntos, sejam quais forem as razões para tal, sendo que são todas elas obviamente preocupantes.
No final desta contabilidade em somatório de zeros, ficam apenas sombras relativamente ao futuro da defesa nacional e por acrescento, à defesa da Europa. 
No resultado a certeza de que a Europa como espaço pacificado e livre de conflitos foi um sonho que terminou e que urge redefinir com base em novas premissas e objetivos.
Convém acordar e agir. Ontem já era tarde.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

DILEMAS EUROPEUS E UMA PANELA DE ARROZ [M2460 – 05/2024]

F-16AM da Força Aérea Portuguesa, aterrando na BA11 - Beja. 
Este ano completam-se 30 anos desde a sua chegada a Portugal. E não está ainda prevista a sua substituição.

A Europa atravessa tempos obscuros cuja análise, numa perspetiva histórica, revela sinais já visualizados em tempos andados e cujo desfecho não se recomenda, ou seja, esteve no epicentro de duas guerras mundiais, com tudo o que de trágico e transformador isso acarretou.
No presente e já com dois anos de rasto, uma guerra surgiu com a “operação especial” russa em território da Ucrânia, demasiado perto para ser considerada longe desta (boa) tranquilidade de décadas a que nos habituámos. Este hábito fez com que o desleixo em matéria de defesa se tenha transformado numa prática mais ou menos caucionada pelos governos, certos de que do lado de lá do atlântico, a mão amiga segura e segurará o guarda-chuva e que a leste, tudo está controlado. Só que as dinâmicas não raras vezes decidem desviar-se da agenda dos desejos e os apertos seguem-se, com variáveis a mais para uma equação de crescente complexidade – China/Taiwan, Irão, a situação em Israel/Gaza, a tensão no Mar Vermelho e o eterno jogo do gato e do rato das Coreias…
Com os fantasmas a decidirem largar das masmorras, com a União Europeia a ser pouco unida, com preocupantes excessos em matéria de politicamente correto, sobranceria cultural e falta de visão e atuação  de conjunto, tudo temperado com fluxos permanentes de imigração e respetivas tensões vemo-nos, resumidamente, cara a cara com tempos perigosos em que assobiar para o lado é a pior das receitas, por mais que acomode os espíritos.
Agora que o rabo europeu aperta, já se fala em preparos de guerra, que é preciso armar, que a Europa tem de olhar por si e para si, já que a mão que segura o tal guarda-chuva poderá deixar de o fazer, sobretudo se na Casa Branca, o inquilino mudar de natureza, de penteado e de cor de cabelo.

F-35A dos Países Baixos, em voo no "StarWars Canyon". Estas aeronaves estão já a substituir a frota F-16 neerlandesa.

E as notícias sobre as trombetas preparatórias vão aparecendo. A República Checa, agora Chéquia, anuncia a compra de 24 caças F-35; a Croácia recebe caças Rafale; a Bulgária F-16 de última geração (V); Polónia e Grécia preparam-se também para operar o F-35; os alemães falam em aumentar a produção de armamento – drones, munições, etc. – e no geral o despertar de uma nova perspetiva parece assentar praça e as pressões para cumprir e até aumentar os orçamentos de defesa já se fazem ouvir e a impor a sua incontornável necessidade.
Em Portugal, para não variar, é matéria desinteressante, evidentemente porque o atual período de excitação eleitoral tende a desvirtuar o que já de si é tradicionalmente desvirtuado e porque, arrumadinhos aqui no canto sudoeste da Europa, achamos que tudo é longe e, portanto, nada connosco.
A frota F-16 nacional cumpre por estes dias 30 anos de serviços e por uma vez apenas se falou, com moderada convicção e sem o perigo das datas, na sua (desejada) substituição pelo F-35; não se acautela o mínimo de cuidados na nossa defesa imediata; não se trata do problema da proverbial sangria de pilotos e mais recentemente da debandada do pessoal de manutenção; da operacionalidade dos meios navais de defesa avançada; não se repensa o regresso do SMO para contornar a redução constante de efetivos disponíveis, etc. …
Parecemos esquecer que a dimensão nacional não se esgota no retângulo continental e que, dependendo da perspetiva, da mesma forma que estamos no canto sudoeste da Europa, longe dos epicentros, não deixamos, por outro lado, de ser a porta de entrada sudoeste dessa mesma Europa e, não de forma despicienda, temos uma proximidade incontornável com África e com o estratégico estreito de Gibraltar.
Se os contextos históricos, estratégicos e políticos mudam, as ações antes adormecidas têm de mudar também. 
E não se cozinha uma panela de arroz dois minutos antes de ela ter de ser servida.


Nota: Este texto e a opinião nele expressa vinculam, apenas, o seu autor.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

OPINIÃO - TRÊS OU SEIS ANOS É MUITO TEMPO (M1860 - 40/2016)


Estas fotografias não deveriam ser notícia, digamos, nem ter a tremenda carga simbólica que tem.
Tratam-se de registos da passagem pela ilha da Madeira, hoje, de uma parelha de caças F-16 da Força Aérea Portuguesa, no âmbito do exercício militar "Lusitano 2016" cujas operações aéreas aconteceram no Aeródromo de Manobra nº3, em Porto Santo, na região Autónoma da Madeira.
Não deveria ser notícia, porque não deveria ser uma passagem que aconteceu mais de 6 anos depois, repito, mais de 6 anos depois desde a última vez que tal aconteceu, justamente em 2010, aquando da comemoração festiva dos 58 anos da Força Aérea.
Ainda assim, é preciso recuar 3 anos para registar a última e fugaz passagem de caças F-16 pelo Porto Santo, durante o exercício "Lusitano 2013", que foi aqui reportado.
Como é evidente, a culpa não é da Força Aérea, nem das esquadras, nem dos pilotos.
A responsabilidade pertence ao poder que tulela as forças armadas e que não entende - por ausência de prova política e prática - que a Região Autónoma da Madeira é território português e que, perante o quadro geopolítico atual, é "apenas" uma região que está no flanco sul/sudoeste da apetecível e ameaçada Europa e que, sem necessidade de meter explicador, tem praticamente a mesma importância estratégica e geográfica que tem os Açores.
A defesa deste flanco sul/sudoeste não é (não deveria ser...) matéria de simples retórica de circunstância política; a continuidade territorial, bem como o sentimento de pertença à nação portuguesa, não deverão ser (não deveriam ser...) meras alusões discursivas, sem qualquer consecução prática visível.
A gestão dos recursos da defesa, deveria caucionar com mais frequência a presença de meios que preencham o tremendo vazio que alimenta o isolamento e a sensação de desagregação do território.
Como é evidente, estou mais do que ciente que a prática política dispensa este "romantismo patriótico", uma vez que ele não é prioritário em termos práticos, nem tão pouco concorre muito para a sobrevivência dos regimes em Estados cuja democracia e a tranquilidade são, por assim dizer, dados adquiridos, como é o nosso, adormecidos que estão à sombra certa dos votos que se sucedem sem preocupações deste género.
Mas para mim, cidadão português e atento a estes problemas e a estas ausências, é preocupante constatar que mais rapidamente  as forças armadas e em especial as esquadras de F-16 se deslocam a exercícios fora do país

(no âmbito das suas missões operacionais e no quadro da NATO, facto que não questiono de nenhuma forma)
do que marcam presença - concreta, física, operacional, vigilante - em regiões periféricas, tão vulneráveis e, simultâneamente, tão decisivas para a soberania nacional e até para a segurança da Europa, como são os Açores e, neste caso (aqui em análise) da Madeira.


Para concluir, seria bom que o próximo registo da presença ou passagem destas aeronaves que são também prova e garante da soberania nacional nesta terra tão periférica, não ocorresse, apenas, no próximo ano de 2019 ou 2022!
Texto: António Luís
 Fotos: Nelson Sousa/Madeira Spotting Community 

sábado, 16 de abril de 2016

"OPERAÇÃO EL DORADO CANYON" - 30 anos depois - [M1837 - 17/2016]

Os F-111F em Lakenheath, descolaram rumo ao norte de África desferindo os ataques. Uma aeronave e os seus tripulantes foram abatidos.

Nos dias que presentemente percorremos, fecha-se um ciclo de três décadas sobre os ataques Norte-Americanos a alvos na Líbia, sobretudo na capital Tripoli e em Bengazi.
Em abril de 1986 e depois de mais uns quantos sarcasmos e rangeres de dentes de Kadafi e outras tantas ameaças terroristas, a administração republicana liderada por Ronald Reagan avança com ataques cirúrgicos em território Líbio. A gota de água que fez transbordar a paciência dos americanos foi o atentado a uma discoteca em Berlim, semanas antes, reivindicado por terroristas Líbios, alegadamente patrocinados pelo Coronel Kadafi. E como se estava ainda em Guerra Fria, estas movimentações faziam crescer nas sociedades uma parede de apreensões e medos face aos desequilíbrios que poderiam criar na confrontação latente entre os dois blocos.
A 15 de abril de 1986, aviões estacionados em porta-aviões no Mediterrâneo e partindo de bases em Inglaterra - nomeadamente os F-111F baseados em Lakenheath - desferiram um ataque que visou alvos estratégicos e militares, tendente a debilitar o alegado patrocínio do regime Líbio ao terrorismo.
Aliás, a Inglaterra e Margaret Thatcher eram os grandes aliados europeus dos EUA e alinharam, antes e depois destes acontecimentos, em diversas ações militares americanas, independentemente das diferentes administrações na Casa Branca - Reagan, Bush (pai), Clinton, Bush (filho) e agora Obama.
Volvidas estas três décadas, Kadafi não passa de uma recordação na história da Líbia - foi morto em 2011 pela "primavera" aí emergente e que deixou a Líbia naquilo que é hoje, uma manta de retalhos, mais ou menos sem "rei nem roque", situação agravada no presente por uma sangrenta guerra civil, um pouco à semelhança com o que acontece com a vizinhança, leia-se Tunísia e Egipto, todos brindados recentemente pela quase pomposamente designada "primavera árabe".

Os F-14 defenderam os céus e as aeronaves que efetuaram o ataque.

Entretanto, 30 anos depois, o terrorismo assentou praça nas nossas vidas e condiciona-a, dentro da própria Europa e dos EUA, em qualquer lado, a qualquer hora.
Se conjunturalmente os ataques a nações/regimes que patrocinam ou albergam o terrorismo e seus praticantes se justificam e são até caucionados pela sociedade - um pouco na onda do olho por olho, dente por dente - a prazo - que não é longo - revelam-se completamente inúteis uma vez que a senda terrorista sobrevive-lhe com total descaramento e acidez.

 Os A-6 Intruder participaram nos ataques.

Este patrocínio ocidental às primaveras árabes, recebido com hossanas e regozijos, não passou, na minha opinião, de uma fuga para a frente. Não resolveu nem resolverá coisa alguma, uma vez que a democracia que nos "governa" não é matéria do código genético de sociedades que vivem há muitos séculos sob a "espada" divina e seus preceitos, alguns deles absolutamente radicais e cuja mudança - mais ou menos patrocinada e com maior ou menor força - não mudará em meia dúzia de anos o que se enraizou há séculos.

Os A-7E Corsair II efetuaram também bombardeamentos em Tripoli e Bengazi.

Se as sociedades ocidentais quase "exigem" que se faça alguma coisa, pelo menos na sua maioria, no fundo também saberão que as ações armadas, com todo o sucesso que eventualmente tenham, não resolvem o problema fundamental e, em bom rigor, acabam por acicatar ainda mais o fundamentalismo e o ódio que fomentam o terror. A dúvida e a apreensão persistem por cima do fumo das explosões, tantos as terroristas, como as que se lhe seguem nos consabidos locais onde são cogitadas.
Concluindo, 30 anos volvidos sobre os ataques à Líbia - a operação "El Dorado Canyon" - o mundo continua esse lugar perigoso e, em alguns locais, absolutamente mal frequentado, levando-nos a uma espécie de corolário que ecoa nas nossas cabeças...
...A História nunca é suficientemente rápida para algumas das nossas necessidades.

Texto e edição: António Luís/Pássaro de Ferro


terça-feira, 12 de janeiro de 2016

A CORREIA DAS COREIAS (M1823 - 03/2016)

Os F-16C da Coreia do Sul são uma das pontas da lança da arma aérea daquele país.

O conflito latente
     ou dormente
entre as duas Coreias, a do Norte e a do Sul, já faz parte das dores 
     do ADN
do planeta. Já aprendemos a viver com ele e só estranhamos quando a "gritaria" por lá decide trepar a escala dos decibéis ou da tensão métrica.
A coisa já vem dos meados do século passado, quando uma guerra as separou e, de então para cá, não mais se juntaram.
Dos dois lados permanece uma espécie de "equilíbrio de terror" à escala local, devidamente vigiado pelas potencias interessadas no fiel da balança.
Há uma espécie de correia que liga ou desliga as Coreias, dependendo do ângulo tomado. Há muita coisa que as une
     a correia de ligação
há muita coisa que as separa
     a correia em riste como fator de medo comum.

Na imagem, observamos vetusto Mig-19 Norte Coreano devidamente guardado por dois soldados. 
O poder aéreo da Coreia do Norte peca por indefinido. Não se sabe se, quanto, o quê, como, qual... Ou sabe-se apenas o que interessa saber, ou o que se consegue saber. Certezas há poucas...

Pelo ar, sabemos dos poderes da do Sul, devidamente acompanhada do amigo americano. Já não sabemos tanto dos poderes da do Norte porque a cortina é demasiado opaca, a palavra ou as palavras são demasiado oficiais e 
     eventualmente
ilusórias para sobre elas se fazer mesa de avaliações de fé. Há apoios tácitos, mas que não se comprometem publicamente, sob pena da pressão global fazer das suas na contagem dos créditos.
O Pássaro de Ferro, aliás, já dedicou alguma atenção a este assunto, através desta edição que somou já vários milhares de visualizações e que, muito ou pouco discutível, muito ou pouco polémica, merece ser lida, sem complexos posicionais.
Aliás, a simples reação a este excelente trabalho do Francisco Duarte, só prova que a "correia das Coreias" é uma engrenagem, um ente de complexa compreensão, por mais claras que pareçam as coisas, quer de um lado, quer de outro.

Texto: ©AL/Pássaro de Ferro

quinta-feira, 2 de abril de 2015

A EUROPA NOS SEUS LABIRINTOS E DÚVIDAS (M1813 - 17AL/2015)

Caças F-15C norte-americanos chegando a Leeuwarden, há dias. Foto: USAF.

Vão chegando notícias preocupantes, que nos mostram movimentações da História a que não podemos nem devemos ficar indiferentes, escondendo a cabeça num buraco à mão ou assobiando para o lado.
A Rússia continua as suas manobras militares, continua a revelar a sua musculação, umas vezes de braço dado com as suas movimentações e taticismos diplomáticos, noutras para além delas, quase no limbo da provocação, no esticar de corda, no ver como e até onde...
A Europa "do lado de cá" está, em bom rigor, mais entretida com o ego grego, os fatos do Ministro Varoufakis, com as errâncias ideológicas do Syrisa, com as dimensões dos "discurso" alemão, com o orgulho britânico, com as debilidades e fortalezas do Euro, com o ser-se de direita, de esquerda, do centro ou da órbita estratosférica.

Um bombardeiro estratégico russo, TU-95 "Bear", escoltado por um Typhoon da RAF. Foto: RAF

Desinvestiu na defesa e tem-se como guardiã maior dos valores civilizacionais e culturais, limitando-se para tal, a anunciá-lo com pompas e circunstâncias várias, ao sabor dos seus confortos.
Fora dela há perigos, como dentro dela também. Reais. Mas todos parecem demasiado longe ou, de uma forma cinematográfica, tudo bons rapazes, mesmo que já por duas vezes, o vento quase tudo tenha levado...
Quando o rabo aperta, telefonemas para o lado de lá do Atlântico e o amigo Yanke trata das vitaminas em forma e modos para defender a nobreza do território, dos viventes, da arte, da cultura, da civilização entretida e pasmada, contemplando o umbigo e as jóias penduradas ao pescoço e nos dedos, e novamente a História, essa teimosa campaínha e reescrever-se a si mesma, as mãos ambas, em papel timbrado, fazendo-se tinir por entre reprimendas e medos.
A Europa espera sempre - por vezes quase de forma ingénua - que nenhum olhar seja invejoso, que nenhum gesto seja de cobiça.
Já por duas vezes e de forma dramática se enganou.
Será que (não) aprendeu?

Nota: Este texto é de opinião e a mesma apenas vincula o seu autor.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

EDITORIAL (1712 - 104AL/2014)

Imagem de ontem, alusiva à interceção de aviões Tu-95 russos por F-16 nacionais. Foto: Força Aérea Portuguesa.

Os acontecimentos de ontem no espaço aéreo  sob jurisdição nacional aqui reportados provam, sem mais delongas, a necessidade de termos umas forças armadas operacionais e adequadas aos tempos que se vivem, mesmo que, como é o caso, estejamos integrados numa organização mais ampla - a NATO - cujos vetores de atuação são conhecidos.
Se é certo que nós, Portugal, como outras nações, não temos capacidade de defesa absolutamente autónoma, devemos ter capacidade de defesa em conjunto (participando e contribuindo de forma ativa) e em coordenação com as nações aliadas.
O mundo vive desde 1945 sem uma guerra mundial "tradicional", digamos. Pode especular-se que está em curso um conflito mundial noutros moldes, mas o que é facto é que o conceito geral da guerra, feita com armas, morte e destruição, não desapareceu do léxico dos dias e, face às recentes convulsões em algumas zonas da Europa (antiga Jugoslávia e atualmente na Ucrânia), às tensões "adormecidas" e que qualquer clique inesperado pode despertar e, já agora, à proximidade e avanço de organizações como o "Estado Islâmico", quase que se impõe que estejamos preparados para a guerra, dando corpo, justamente, ao conceito "se queres a paz, prepara-te para aguerra!"
A guerra pode acontecer por "questões territoriais, de dinhero e de fé" (General Loureiro dos Santos). Vistas bem as coisas, este trio de premissas não é despiciendo no atual quadro politico e estratégico global.
Basta estar atento aos jornais e à televisão informativa, e leia-se: a crise financeira global, o controle dos recursos energéticos e outros (gás, petróleo), a água (pouco falada, mas já a pairar...) e o avanço do radicalismo islâmico, radicado nas interpretações fanáticas de alguns preceitos do Alcorão, são marcas e sinais que não se podem nem devem escamotear.
A Rússia pode ter razões para se sentir "acossada" pelas recentes alianças de ex-países de leste e do extinto Pacto de Varsóvia ao ocidente. Estrategicamente, isso é um facto. Basta olhar um mapa e perceber a evidência.

Mapa ilustrativo das movimentações militares russas e da NATO, ontem. 

Mas no meio da complexidade desta nova "equação", com múltiplas variáveis que nem sempre se controlam, a Rússia dispõe de enormes recursos energéticos que são de carácter vital na Europa ocidental (sobretudo o gás) e, portanto, estamos perante um jogo de tabuleiro em que as peças tenderão sempre a equilibrar a contenda, sendo que os jogadores vão testando as capacidades de defesa, acuidade, atenção e ação do adversário.
Não é também de desprezar o seu poderio nuclear e, com ele, a ressurreição do (famoso) "equilíbrio do terror", uma expressão densa mas que assegurou a paz no mundo durante décadas.
Mas convém - tal como diz a expressão brasileira - "não dormir no pedaço!"
A Europa, conquistada uma paz firme, como que adormeceu, desinvestiu na defesa - contando sempre com o peso aliado norte-americano, no caso de algo correr mais. Fez acompanhar essa atitude com uma diplomacia de gelatina, isto é, pouco dada à firmeza e mais dada a ajustes pouco convictos à realidade.
Ora a história é feita de ciclos e, como se vê, há que manter em alerta os sentidos e estabelecer novos equilibrios, sendo que a componente de defesa e armamento (pelo menos "mínimo") dos estados não deve ser abandonada, por muitas que sejam as vozes que clamem em sentido contrário, assentes ou não nos "novos paradigmas da estrutura humana" entretanto conquistados ou dados como conquistados... O mundo (ainda) está longe de ser um local perfeito ou até bem frequentado.
Qualquer dos caminhos que se trilhem, por mais longe que nos levem, tem sempre a meia volta possível, seja ela voluntária... ou não.

Nota: Este texto é uma opinião que apenas vincula o seu autor.


domingo, 6 de julho de 2014

O ESPETÁCULO DOS AVIÕES - OPINIÃO (M1643 - 78AL/2014)

Créditos na imagem.

«Não são os factos em si mesmos que impressionam, mas o modo como se apresentam. Estes factos devem produzir por condensação, digamos, uma imagem chocante e que preencha e preocupe o espírito. Conhecer a arte de impressionar a imaginação dos povos é conhecer a arte de os dominar e governar.» Gustave Le Bon
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Por razões de ordem profissional e geográfica, acompanhei o dia de hoje na "NOS Air Race, através da emissão em direto de um dos canais da TVI, no caso a "+TVI". Cumpre-me, antes de mais, referir que a transmissão em si foi um facto positivo, sobretudo porque permitiu que se pudesse assistir a um evento localizado e que, tal como sucedeu comigo que estou a 1000 km de distância, possibilitou que se visse algo de que (pessoalmente) gosto. Os aviões.
É um dado adquirido que vivemos em plena "civilização do espetáculo" (Mario Vargas Llosa) e é esta "regra" que preside a tudo o que se passa e, não poucas vezes, ao que não se passa.
Percebe-se que um evento destes tem tempos mortos, que é preciso "encher". A televisão não se compadece com espaços mortos e tudo vale para prender a audiência que é sinónimo de ganhos, se a tudo isto se juntar a publicidade.
O dinheiro move de facto tudo e portanto, as respostas aos apelos do vil metal são as mais variadas e muitas vezes não nutrem especial respeito pelos principios da ética ou da decência.
Contudo, a cobertura de um acontecimento específico - e então este da aviação é muito específico - não se deveria confundir com espetáculos paralelos de promoção de estrelas do operador televisivo, que cavalgam um evento "social" para se mostrarem, muitas vezes em diálogos e conversas "da treta", sem o menor conteúdo, completamente por fora do que está ali a suceder. Aliás, entendo que estas "tretas", acabam por diminuir os que as emitem, julgando estarem a promover-se.
Perante isto, fica-se com a ideia de que alguém munido com um microfone e um operador de câmara julga dispor de um poder total, livre de qualquer escrutínio porque, não sei, o poder não se questiona, aceita-se! 
Será que tem de ser mesmo assim?
Nesta civilização do espetáculo, tudo ou quase tudo é "permitido", até colocar no ar pessoas que - percebe-se pelo que dizem e pelo que não dizem - não pertencem e não sabem desta especificidade do mundo da aviação e surgem como "paraquedistas", apenas com o finto de "aparecerem porque sim".
Se a cobertura televisiva teve bons comentadores, sobretudo aqueles pertencentes à Força Aérea e à Marinha de Guerra, que entendem dos aviões e helicópteros que operam, também teve apontamentos "laterais" absolutamente deprimentes e que acabam por manchar todo um trabalho ao redor dos aviões e da sua causa.
Em conclusão, "aceito" que em nome deste "espetáculo civilizacional" se tente dourar uma pílula que não é administrável a todos, mas sempre ouvi dizer que há limites para o ridículo.

Nota: Esta opinião é pessoal e apenas vincula o seu autor.


segunda-feira, 10 de junho de 2013

DE PORTUGAL (1034 - 48AL/2013)



Nos tempos difíceis que correm, por vezes algo inconscientemente, procuramos algo que nos orgulhe e dê motivos para continuarmos dignos como indivíduos e como nação. Uma espécie de cimento que mantenha a construção de pé quando tudo à sua volta treme.
A época é de sobressalto e de certa maledicência que sempre foi regra no "ser-se Português". É uma condição desgraçada, de fado!
Tão depressa exaltamos o nosso orgulho na portugalidade, como maldizemos a nossa condição, os nossos pilares e nos "vendemos" por meio pataco aos vizinhos próximos, visíveis uns, invisíveis outros.
A soberania nacional é hoje um conceito vago, longínqua causa e cousa, aqui e ali a roçar o romântico, fora de moda, que os valores da individualidade e da sobrevivência dos nossos umbigos e respetivos quintais murados foram construindo, quase como estatuto, muitas vezes ao arrepio do desígnio, orgulho e dignidade coletivos.
Um dos pilares da nacionalidade e porque não dizer, sem medo, da pátria - esse vocábulo tão pesado em algumas bocas de preconceito - são as Forças Armadas. São elas o primeiro e o último reduto do ser-se português, são elas, tantas vezes, o saco de pancada das nossas frustações individuais e coletivas, o "brinquedo" com que os políticos se parecem divertir nas suas lutas de pechisbeque pelo apetite do poder. 
A política pouco dada a cartas de recomendação que, ao longo dos anos nos trouxe a este beco cuja saída se vislumbra complicada, levando-nos hoje a um país triste, deprimido, acabrunhado, de mão nos bolsos a contar tostões, de olhar distante num futuro que mal se vislumbra. Se foi para isto que foi feito o 25 de Abril, então todas as perguntas são legítimas, todas as dúvidas têm colo!
Nos tempos dificeis que correm, são as Forças Armadas que sustêm - nem que seja em último lugar - a dignidade de uma nação, o orgulho sem medos de se ser o que se é, de continuar uma história com tantos séculos, tanto sangue e também tanta glória.
Há que as respeitar e aos homens e mulheres que as fazem a todas as horas e em todos os dias, quando tudo á nossa volta parece arder...
No dia em que se perder o respeito pela instituição militar, então sim, estará Portugal à beira do último precipicio.
Uma simples brisa, então, pode empurrar-nos para a derradeira queda!

Nota: Este texto é de opinião e apenas vincula o seu autor.



domingo, 23 de setembro de 2012

A CALMA DA TROPA (M715 - 36AL72012)

EH-101
Na sequência das recentes manifestações contra o governo e "estado da nação", ouvi algures que uma das perguntas de manual que se fazem, quando o regime de certo modo "treme" em jeito de gelatina, é a seguinte:
"- E com a tropa, está tudo calmo?"
A questão pode ter múltiplas abordagens e, eventualmente, outras tantas respostas.
Mas ela evidencia, sem aspas, a importância da estrutura militar de uma nação. E na memória de muitas gerações, ainda está presente o modo como as Forças Armadas contribuiram de forma decisiva, para que em 25 de abril de 1974, as coisas tivessem acontecido como aconteceram.
Normalmente é nestas situações em que elas assumem o seu papel agregador ou, por força das circunstâncias e do seu grau de gravidade, digamos, de "força operacional e atuante".
Mas quase sempre, nas alturas em que o país está amaciado na sua bovinidade diária, sem os apertos e os cortes atuais, as forças armadas apanham sempre com os chavões da inutilidade, de sorvedouros de dinheiros públicos, de agremiação de parasitas, etc.

F-16AM
Recentemente, a Força Aérea foi chamada a cumprir mais uma missão de interesse internacional, nomeadamente a patrulha dos céus da Islândia, com a presença de caças F-16AM das Esquadras 201-Falcões e 301-Jaguares.. 
Sem saberem muito bem o porquê da ida para terras tão distantes e tão sem relação connosco, muitas vozes se levantaram contra a sua presença por aquelas terras frias, considerando-a inútil e, uma vez mais, despesista, ignorando que a missão foi custeada pela NATO. Sobretudo num tempo tão magro como o presente, é fácil ceder à crítica gratuita  "batendo" onde é quase sempre moda "bater".

C-295
Contudo e perdoe-se-me a expressão, "quando o rabo aperta", ou se clama pela sua presença e ação ou, vá, questiona-se se "estão calmas", não vão elas descer por aí abaixo para segurarem o que resta da nossa dignidade como nação independente.

Nota: Artigo de opinião, que apenas vincula o seu autor.


quarta-feira, 4 de julho de 2012

AS ARMAS E A "CRISE" (M683 - 29AL/2012)


Nos tempos cegos que vivemos, o léxico que desenha as palavras e frases dos dias estreita-se num funil cujo "bico" permite poucos vislumbres e derivado ao seu desenho e forma, tende a redundar a análise de algumas coisas num amontoado de muitas outras coisas que se tentam enfiar todas por junto no dito corredor estreito do funil.
Tal como os líquidos, a dada altura, tudo resvala para um remoinho que na voragem do rodopio leva tudo. O que deve e o que não deve...
Os tempos de aperto que se vivem, cujas causas estão mais ou menos dissecadas, permitem que algumas posições se coloquem em diâmetros opostos e que, por isso, sejam propícias a um certo extremismo de pensamento e cujos pontos de equilíbrio nem sempre se procuram.
Ouvi, recentemente, alguém 
     um "simples" cidadão
verberar violentamente contra as forças armadas e sobre o seu papel de sorvedouro inútil de dinheiros públicos que, nesta altura, serviriam muito mais e melhor a cousa pública se não "esbanjados por esses parasitas!"(sic).
Ora este tipo de pensamento é perigoso para além de lamentável. A boca de quem ouvi isto ter-se-á esquecido que foram os militares que num tempo igualmente muito difícil fizeram o 25 de Abril, a tal revolução que permite que coisas destas se ouçam e leiam, porque fazem parte do exercício da liberdade.
E no que respeita à Força Aérea, a coisa ainda é pior, dado esse personagem achar um escândalo que os F-16 andem "a queimar milhões e milhões ao estado e para quê, se não temos inimigos?" (sic) E a seguir nova questão "porque não põem os helicópteros e os aviões a apagar os fogos de verão e estão os militares à sombra dos quartéis?" (sic)
Para que se perceba, a mesma indignação quase ácida para com os militares, acaba por se diluir quando esta "boca" atribui missões aos militares, esquecendo a anterior inutilidade que lhes havia colocado em selo/rótulo. Ou seja, tudo demasiado afastado e próximo ao mesmo tempo.
Mas isto tudo leva a que se perceba algo bastante simples. Estes tempos de crise, em que o pessimismo é de certa forma "lei" e onde o horizonte do cidadão está afunilado, são propícios ao extremismo e à perda de confiança em instituições que são pilar de uma nação, instituições certamente encabeçadas pelas Forças Armadas.
Por isso mesmo, é urgente manter padrões mínimos de dignidade nas Forças Armadas e acreditar que elas são, de modo efetivo - um dos "pilares" da soberania nacional e algo que, sejam quais forem os tempos do tempo - de crise ou "abastança" - garantem aos cidadãos todas as conquistas e toda uma construção que levou séculos a edificar! São elas que garantem aos cidadãos, pela sua postura, ação e até pedagogia, que apesar da "crise" e do pessimismo feitos "lei" por outrem - a quem não raras vezes cabem as grandes decisões -  há Homens e Mulheres prontos e de forma digna, a garantir que não perdemos em dias ou semanas, o que levou tanto orgulho, sangue, suor e lágrimas a construir durante muitos séculos!
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Nota. Esta opinião apenas vincula o seu autor.

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