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domingo, 19 de janeiro de 2014

MIRAGE III: PEDIU EM COR DE ROSA? (M1388 - 22PM/2014)



Há histórias que resistem ao tempo e esta é digna de figurar entre as que provam o que se pode chegar a fazer entre esquadras "rivais".

Numa festa em 1979 na Base Aérea 110 do Armée de L'Air em Creil, França, o pessoal de terra da Esquadra 1/10 "Valois", com o beneplácito do comandante, resolveram pregar uma partida aos seus camaradas da Esquadra 2/10 "Sena". Numa noite, todos os participantes pintariam o Mirage IIIC com número de cauda 55 10-RO de... cor de rosa!

Para conseguir a façanha foi necessária a colaboração de várias pessoas, incluindo o Oficial de Dia piloto da Esq 1/10, que distraiu o outro Oficial de Dia pertencente à Esq 2/10, as Forças Aéreas Estratégicas, que cederam as suas instalações na Base Aérea 110 e o comando da manutenção que retiraria do hangar a aeronave a receber a nova cor.

Na manhã seguinte, enquanto os pilotos chegavam para as missões de treino previstas, enorme pânico: faltava um avião! Toda a base se lança numa procura do avião perdido, o que não era tarefa fácil, já que esta se encontra submersa numa neblina matinal, pelo que a visibilidade não era a melhor. 9:00 horas... 10:00...  e só às 11:00 quando começou a levantar o nevoeiro é que o comandante da Base viu a aeronave, bem perto do seu gabinete!

O comandante das Esq. 2/10 teve que se resignar e realizar a sua missão no Mirage IIIC pintado de rosa "bom-bom", com um belo bigode a adornar mesmo por trás do radomo.


Poderia pensar-se que a história acabava aqui, mas não. Em janeiro de 1980 quando as duas esquadras "Sena" e "Valois" estavam destacadas na Base Aérea 126 em Solenzara para o treino de tiro, foi a vez da vingança e todo o material de escritório da Esq 1/10 foi mobilizado para o campo de futebol da unidade. Não querendo ficar-se com uma derrota, a Esq. 1/10 decidiu replicar de novo pelas festas de Stº. Eloi desse ano. Decidiram emparedar o gabinete do comandante da Esq.2/10, deixando algumas galinhas lá dentro...

Testemunhos do que a rivalidade entre esquadras é capaz de fazer, perpetuando as tradições e o espírito aeronáutico pelas gerações.

Fonte: The Fying Men
Tradução: Pássaro de Ferro

sábado, 4 de janeiro de 2014

MIGs, MIRAGEs E MIRAGENS (M1361 - 01PM/2014)

Quando os amigos que passaram pela Guiné se juntam à volta de uma mesa, logo as histórias e recordações brotam de imediato. A emboscada, a mina, os periquitos, as bajudas, as noites de confraternização, a G-3, a Kalash... e por aí fora. E volta não volta, vem à baila o tema dos MiGs.
Que tinham sido vistos aqui e acolá, certamente pilotados por cubanos, por pilotos da Guiné Conacri ou mesmo do PAIGC, treinados na Rússia, na Líbia ou em Paio Pires, blá, blá, blá...

Falou-se muito de hipotéticos voos sobre o nosso território e até houve quem os tivesse visto a sobrevoar Bissau. A nós, pilotos, o assunto não nos podia deixar indiferentes. Não podíamos ser apanhados de surpresa, tínhamos que estudar as características do inimigo, ver onde eventualmente poderíamos ser mais fortes e colmatar os pontos mais fracos. Lá concluímos que, a existirem, os aviões adversários deveriam ser uma das inúmeras variantes do MiG-17, de fabrico russo, de características semelhantes aos nossos F-86 e utilizados por praticamente todos os países sob influência da então URSS.

MiG-17 com cores do Vietname do Norte    Foto: Bubba73/Wikipedia
Na Base de Monte Real já tínhamos ensaiado combates ar-ar entre o F-86 (simulando o MiG) e o G-91, e rapidamente chegámos à conclusão que, a baixa altitude, um F-86 (de melhor manobrabilidade) facilmente abateria um G.91. A única maneira do G.91 sobreviver era furtar-se ao confronto. Verificámos igualmente que os MiGs-17 ainda estavam a ser utilizados no Vietname e que tinham obtido algumas vitórias sobre caças americanos F-105, aeronaves muito mais modernas e sofisticadas. 

F-86 (esq) e G.91 (dir): um duelo que perdurou mesmo depois do fim da guerra   Foto: Arquivo BA5

O assunto era de tal modo sério, que acabou por ser levado às instâncias superiores.

Como solução, a FAP propunha a compra imediata de novos aviões, que substituíssem os G.91, e a escolha recaía numa aeronave de fabrico francês, os Mirage III. Não por serem superiores aos aviões americanos da altura, mas porque a França era um dos poucos países que ainda nos vendia armamento (no caso dos AL-III até já não se comprava à unidade, era mais ao quilo). Cabe aqui um parêntesis para esclarecer que uma “compra imediata de aviões” levaria no mínimo uns dois a três anos a ser concretizada. Como estávamos em 1970, teríamos MIRAGEs lá para o início de 1973. No meio deste desconforto de nos podermos encontrar cara a cara com um MiG-17, o que nos tranquilizava era não haver qualquer confirmação fidedigna de que o país vizinho dispusesse de aviões daquele tipo.

Mirage IIIE      Foto: US Defense Images

Cá pela minha parte várias vezes fui incumbido de ir voar junto à fronteira, a ver se via algum. Nunca os enxerguei. E deixem-me dizer-vos “ainda bem”, porque tendo o péssimo hábito de fazer perguntas, uma vez calhei a perguntar aos meus superiores, o que deveria fazer caso os avistasse: abatê-los, assustá-los, pirar-me, assobiar para o lado, eventualmente cumprimentá-los ? Resposta do meu superior, “depois logo se vê”, como se tal fosse possível. Num minuto tudo estaria iniciado e concluído. Se, por um lado, nunca tinha encontrado nenhum MiG, nem por isso as minhas buscas tinham sido sempre em vão. Uma das vezes encontrei um avião grande à vertical de Bissorã, um DC-7, seguia de sul para norte. Lá fiz a fatídica pergunta aos meus superiores “que fazer?”. Quando a resposta chegou, já o tipo tinha deixado a Guiné e entrado pelo Senegal adentro.

Era assim a guerra da altura. Sem radar que nos indicasse os intrusos, qualquer avião, "avioneta", helicóptero ou similar podia atravessar o espaço aéreo da Guiné, sem que dele tivéssemos conhecimento. Só um olhar ocasional poderia dar algum alerta… 
E com a época seca então era um descanso, ninguém via nada, à excepção do pessoal de Aldeia Formosa. Esses estavam sempre a ver OVNIs. Ao princípio ainda os tivemos em conta, mas depois foi como a história do “Pedro e o Lobo”, fartos de lá ir e nada encontrar. 
Deixámos de os ouvir.

Em conclusão, 500 missões pelos céus da Guiné, para cima e para baixo, para a esquerda e para a direita e nunca vi nenhum MiG!!!

Passados todos estes anos e ao recordar o tema, penso que a história da ameaça dos MiGs foi demasiado empolada, erro iniciado aquando do caso do sobrevoo de Bissau, mal interpretado pelos analistas da altura. Senão vejamos:

Para situar o assunto, diz o Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso que o sobrevoo a Bissau dos MiG-17 se deu a 13 Fevereiro 1970, e que estes sobrevoaram igualmente a Base de Bissalanca. De acordo com os nossos estrategas, o significado da aparição deste avião era claro: “A FAP estava em inferioridade, pelo que foi decidido comprar em França uma bateria de mísseis Crotale e que um dos objectivos da missão Mar Verde fosse a destruição dos MiG-17”.

Dito e feito.

Interessante o raciocínio do Estado Maior de então: a FAP em inferioridade, em vez de se ir comprar o tal novo avião que a FAP já tinha pedido, que pudesse enfrentar os MiG, e/ou um radar que cobrisse o espaço aéreo da Guiné, resolverem antes comprar um brinquedo para o Exército. Até porque, sem o dito radar, a identificação dos alvos continuava a ter que ser feita “a olho”. A ameaça com que os pilotos se debatiam, em vez de diminuir, aumentava... Não só tínhamos que nos haver com as antiaéreas do inimigo, como ainda passávamos a estar sujeitos a uma Crotalada amiga. O nosso slogan de guerra estava cada vez mais certo: “Deus nos livre da antiaérea amiga, que da inimiga livramo-nos nós”!... 
O meu amigo Pereira da Costa, artilheiro convicto, que me perdoe a “boca”.

Os Crotale foram efectivamente comprados, mas só chegaram a Portugal já depois do fim da guerra.

Quanto aos MIRAGE, com um raio de acção capaz de facilmente atingir Conacri, ficámos a vê-los tipo miragem, lindos que eles eram! Já me estava a ver no meio das aventuras do “Michel Tanguy e do Laverdure”...

Os Mirage III na capa de um livro da BD "Tanguy e Laverdure"

No que respeita à busca e destruição dos MiGs, essas aeronaves necessitavam de uma pista com um comprimento relativamente grande (2,5 km), asfaltada, coisa que na vizinha Guiné apenas existia na capital, tudo o resto era curto e em terra batida. A existirem, eles teriam que estar estacionados em Conacri. No entanto, aquando da Operação Mar Verde, a busca pelo aeroporto acabou por se revelar um fracasso. Nem rasto deles. Constatava-se assim “in loco” que, ao contrário do que tinha sido assegurado, na Guiné Conacri não havia MiGs.

Como explicar então o facto de terem sido vistos em Bissau?

No meu entender o caso tinha sido mal analisado pelos estrategas de serviço. Antes de tirarem tão importantes conclusões, deviam ter ido mais fundo, fazer mais perguntas: Eram MiGs os aviões que sobrevoaram Bissau? Quem os identificou como MiGs? A Guiné do Sekou Touré dispunha de aviões MiG-17?
Para perguntas simples, respostas simples: não... não dispunham!

Então a quem pertenciam então aqueles dois belos e gordos MiGs que, vindos do nada, tinham sobrevoado Bissau e desaparecido igualmente no meio do nada?
A guerra entre a Nigéria e o Biafra terminara havia apenas alguns dias. A Nigéria vencedora, mais de 1 milhão de mortos (não, não me enganei, 1.000.000). Nas forças que apoiavam a Nigéria, existiam cerca de 24 MiGs-17, de dono indefinido, pilotados por mercenários de vários países: Alemanha de Leste, Rússia, Reino Unido...

Duas hipóteses eram possíveis:
Como primeira hipótese, a Nigéria poderia estar a querer oferecer os seus serviços. Pouco provável naquele momento, já que o próprio Sekou Touré não se sentia muito seguro com os seus vizinhos.
Como segunda hipótese, a guerra terminada e pagamentos recebidos, os mercenários tinham de regressar aos seus locais de origem, o sobrevoo da nossa Guiné ficava nas suas rotas e porque em África os GPSs ainda não tinham sido inventados, uma maneira fácil de navegar era ao longo da costa. Combustível a escassear, a vontade de aterrar em Bissalanca deve ter sido enorme, só que Portugal tinha apoiado o Biafra, se aterrassem ficavam com os aviões apreendidos, era preferível continuar até Dakar onde, por um punhado de dólares, podiam reabastecer e seguir viagem, eventualmente para Marrocos ou Argélia, países com aviões semelhantes.

Acham estranho? Eu não acho, ainda que me possam acusar de especulação. Durante a guerra, os aviões para a Nigéria passavam em Dakar, os que se destinavam ao Biafra aterravam em Bissau. Até tínhamos na Base uma prova deste intercâmbio de aviões, um Gloster Meteor, que um piloto a caminho do Biafra e por razões desconhecidas resolveu abandonar na BA12. E quantos T-6 tinham passado por Bissalanca? 5? 10? 50? Não foi Portugal um dos principais apoiantes do Biafra?

Gloster Meteor abandonado na BA12 em Bissalanca

Não posso terminar esta história, sem voltar a falar dos MIRAGE e dar o braço a torcer. Sempre a dizer mal dos nossos estrategas e afinal eles sempre acabaram por dizer que nós, os Aéreos, precisávamos dos tais aviões. Aconteceu quando a Guiné ficou infestada de STRELAs. Só que aqui as coisas passaram-se de um modo um pouco diferente.

Para os MiGs, que acabaram por não aparecer, andámo-nos a preparar ao longo de inúmeros meses, sabíamos como enfrentá-los!! Para os STRELAs... nem sabíamos o que aquilo era... ninguém nos avisou!!! E foi assim que, de surpresa em surpresa, em poucos dias perdemos cinco aeronaves e quatro pilotos!!! Passado o choque inicial e identificado finalmente o tipo de arma que nos atacava, o nosso pedido era simples, só queríamos que substituíssem as quatro obsoletas metralhadoras do G-91 por 2 canhões de tipo semelhante ao do AL-III, bastava mudar os painéis laterais do armamento. E até havia um modelo de G-91, o R/3 (o nosso era modelo R/4), que tinha os ditos painéis.

Que não senhor, MIRAGEs é que era!!!
Imaginem só, nós a pedirmos um pãozito e eles a quererem dar-nos lagosta e caviar.
No final, ficámos sem comer nada.

OK, sem nada também não é verdade. Lá estou eu a ser torcido. No final lá conseguimos receber os tais G-91 R/3 com os painéis e os canhões em vez das metralhadoras...
Só que entretanto, já estávamos em 1976!!!

Fiat G.91 R/3 o modelo com canhões de 30 mm em vez das metralhadoras de 12,7 mm  do R/4    Foto: Anónimo

Hoje em dia tudo é diferente. Na área operacional a tecnologia actual permite que um avião à vertical de Bissau possa facilmente abater um outro que esteja a mais de 60 milhas. Nem precisa de o ver, o radar faz todo o trabalho.

No que refere a ataques ao solo, lá dos seus 7000 metros de altitude, um piloto consegue ver o “mau da fita” a fazer pipi atrás de uma árvore. Uma bomba largada da aeronave, irá cair exactamente aos seus pés, ainda o apanha de calças na mão. E é por causa de toda esta tecnologia que nenhum piloto vai para o ar sem conhecer as suas RoEs (Rules of Engagement - Regras de Empenhamento), saber exactamente o que pode e não pode fazer.

Um abraço,
António Martins de Matos
Ten Pilav da BA12


NOTA: As memórias do Gen. Martins de Matos foram publicadas no livro "Voando sobre um ninho de Strelas" disponível através da loja do Pássaro de Ferro




terça-feira, 8 de outubro de 2013

ARGENTINA COMPRA MIRAGE F-1 ESPANHÓIS (M1201 - 77AL/2013)

 Mirage F-1 de Espanha

As autoridades argentinas anunciaram há dias, a compra de  16 caças Mirage F-1, recentemente desativados da Força Aérea Espanhola.
Estas aeronaves irão reequipar uma esquadra (Grupo 6 da VI Brigada Aérea) que operou os vetustos Mirage III que chegaram a combater na guerra das Falklands/Malvinas, no início da década de oitenta e cujo potencial de operação estava, obviamente nos limites.
Os Mirage F-1 irão controlar, sobretudo, o norte do país e muitos voos clandestinos que frequentemente se verificam naquelas regiões e que representam problemas para a nação alvi-celeste.
A compra do F-1 à Espanha, faz parte de um plano de reequipamento das Forças Armadas Argentinas, promovido pela presidente Kirchner, no valor de 2 mil milhões de Dólares - 1,45 mil milhões de Euros.
Esta compra acompanha assim uma tendência de vários estados sul americanos que estão a apostar na modernização das suas forças armadas.

Fonte: Várias
Edição: Pássaro de Ferro


sexta-feira, 12 de abril de 2013

PAQUISTÃO: FORÇA AÉREA EM ESTADO CRÍTICO (M949 - 101PM/2013)

Chengdu F-7 de fabrico chinês     Foto: PAF
Uma dúzia de aeronaves militares paquistanesas sofreram acidentes nos últimos dezoito meses aproximadamente. O nível de incidência dos acidentes, levanta sérias preocupações acerca da "saúde" das frotas de aviões usadas, bem como da proficiência dos mais de 3000 pilotos que os voam.
Um grande número de aviões voados pela Força Aérea Paquistanesa aproxima-se do cinquentenário, tendo sido colocados na linha da frente recentemente, para ajudar a combater uma insurgência interna de forças Talibãs. 
O Paquistão voltou-se para a China e EUA na tentativa de modernizar a sua Força Aérea, mas constrangimentos económicos têm encolhido o orçamento, que assim se tem revelado incapaz de manter as cerca de 900 aeronaves em níveis de segurança mínimos. Os problemas orçamentais têm também afetado o treino dos cerca de 3000 pilotos que os voam, com efeitos visíveis e traduzidos em números de acidentes.

Mirage V      Foto: PAF
Cerca de metade dos 13 aviões acidentados desde maio de 2011 eram Mirage com quase cinquenta anos, comprados a preço de saldo a forças aéreas que os haviam retirado de serviço. Segundo um antigo oficial da FA Paquistanesa, eram ainda plataformas bastante confiáveis mas "com a intensidade do ambiente operacional de combate os problemas tendem a aparecer". Os Mirage IIII e 5 constituem cerca de um quarto dos 520 caças em serviço.
Destroços de um F-7    Foto:Autor desconhecido
Outros modelos acidentados incluem os F-7 (Mig-21 chineses) e JF-17. A aquisição de material chinês e mesmo o desenvolvimento do JF-17 com a China, ocorreram devido às flutuações nas relações com os EUA, que levaram ao cancelamento por vários anos de material militar, nomeadamente vários lotes de F-16 mais modernos. Ainda assim, além dos F-16 adquiridos na década de 80, modelos mais recentes do F-16 acabariam por ser entregues, que adicionados aos primeiros totalizaram as 77 unidades, mas dificuldades com a aquisição de peças sobressalentes nos últimos dois anos (principalmente devido às tensões pós-operação bin Laden) voltaram a colocar esta frota em estado crítico.
Entretanto, o programa JF-17 com a produção dos aviões no Paquistão, destinados a substituir grande parte dos Mirage, ainda estão longe de o poder fazer.
Apesar do orçamento da Defesa levar 20% do Orçamento de Estado, os dias são sombrios, na sétima maior Força Aérea do mundo.


Fonte: National Post
Tradução e Adaptação: Pássaro de Ferro


sábado, 5 de janeiro de 2013

Os MiG na guerra da Guiné (M818 - 01JM/2013)


Acabei hoje um longo trabalho sobre os MiG na guerra da Guiné. Ao longo da guerra colonial na Guiné, os relatos de actividade aérea suspeita foram sempre uma constante, o que levou o Exército português a enviar alguns meios de defesa aérea para prevenir qualquer ataque vindo dos países vizinhos. A Força Aérea deslocou também um pequeno destacamento de caças F-86, que durante três anos (1961-1964) patrulhou os céus da Guiné. Após a retirada dos F-86, a pequena colónia africana ficou mais sujeita a incursões aéreas inimigas, que ocorreram por diversas vezes na fronteira com a Guiné-Conakry. 

Os MiG da Força Aérea Guineana (FAG) nunca chegaram a intervir no conflito, no entanto, aventuraram-se, várias vezes, para lá da fronteira. Sem caças e com um sistema de defesa aérea obsoleto, os portugueses viram-se obrigados a comprar mísseis terra-ar franceses Crotale e Redeye americanos para defender a Guiné, além de tentar adquirir caças franceses Mirage. Apesar dos receios portugueses, os MiG da FAG nunca tiveram qualquer papel relevante na guerra da Guiné. É a história que conto no artigo.
Uma história para ser publicada ainda antes do Verão. 

sábado, 31 de dezembro de 2011

O negócio secreto dos Mirage (M578 - 13JM/2011)

Termino o ano com a história em que estou a trabalhar neste momento. Durante grande parte da guerra ultramarina, os caças a jacto da Força Aérea foram decisivos em todas as frentes de combate e praticamente intocáveis até ao aparecimento do míssil Strela na Guiné, que limitou seriamente o uso do poder aéreo. Além do Strela, começou também a surgir a ameaça de uma possível intervenção de aviões MiG-17 da Guiné-Conacri, país vizinho da colónia, o que levou a Força Aérea e o governo português a procurar um novo avião de combate capaz de dar resposta a estas novas ameaças. A escolha recaiu no caça supersónico francês Mirage, capaz de executar tanto missões de combate aéreo como de ataque terrestre. No entanto, as negociações entre os dois países seriam difíceis com a França a levantar várias restrições quanto ao uso dos aviões em África. Já tinha contado uma parte desta história na revista Mais Alto nº 385, mas agora fiz uma pesquisa no arquivo francês do Ministério dos Negócios Estrangeiros e descobri os meandros da negociação até a designação da versão portuguesa: Mirage IIIEPL. É uma história para publicar em 2012.



domingo, 16 de outubro de 2011

Mirage III

Gosto do Mirage III. Vem agora em destaque no último fascículo da colecção aviões de combate a jacto. O texto do fascículo foi produzido em França ou na Espanha (?) e a versão portuguesa é simplesmente uma tradução da edição internacional. É um texto curto e não apresenta praticamente erro nenhum a não ser quando diz que o Mirage III foi construído sob licença na Austrália, Bélgica e na Suíça. Na Austrália e na Suíça a afirmação é verdadeira, mas no caso da Bélgica não foi o Mirage III, mas sim o Mirage 5. É um pequeno erro, mas que mostra que mesmo a edição internacional desta colecção não está isenta de erros pontuais que deviam ser corrigidos. O modelo que acompanha o fascículo é um Mirage IIIE da 2ª esquadra de caça EC 3/2 da Alsácia em 1965, equipado com o AIM-9 Sidewinder. E é curioso olharmos para este delta de outros tempos e vermos a forma futurista que tinha naquele tempo. Ou melhor dizendo aquele ar de alta perfomance que tanto fascinava.

domingo, 12 de dezembro de 2010

MEMÓRIAS DE MONTE REAL (M446-49AL/2010)

Uma vez mais, o Pássaro de Ferro publica algumas fotos que, pelo seu valor histórico e independentemente da sua qualidade nem sempre muito elevada, são autênticos tesouros para todos os aficionados pela causa dos aviões. São fotos obtidas na Base Aérea nº5, em  Monte Real, em diversos locais da base, Alfa 1, Bravo 1, etc.
Eram tempos necessariamente diferentes dos actuais, agora marcados pela globalização e por uma certa ideia de "formatação" que atinge, também a aviação militar.
São imagens do final da década de setenta, início da de oitenta, já com 30 ou mais anos, portanto e que atestam bem o quão diferentes eram as forças aéreas de então e quão diversas eram as visitas à BA5, bem diferentes das de hoje, quase todas sedimentadas na presença frequente de F-16 das EPAF.
São fotos cedidas por Carlos Costa ao Paulo Moreno que, uma vez mais, as cede ao Pássaro de Ferro.



 F-5 - Holanda



 F-104 - Holanda

 Fokker F-27 - Holanda

 Alpha Jet - Alemanha.


 C-160 Transall - Alemanha

F-104 - Bélgica

Mirage III - Bélgica

 Harrier T4 - Reino Unido

Hawker Siddley Gnat T1 - Reino Unido

 Jaguar- Reino Unido

Nota: Os nossos leitores que eventualmente consigam localizar com mais precisão estas fotos no tempo, podem fazê-lo na caixa de comentários, na página Facebook, ou enviando email para um dos endereços  na lateral direita do Pássaro de Ferro.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Kfir - O Mirage kitado



“O Mirage III foi desenhado com vista a ser vendido às forças aéreas que, não dispondo de abundantes meios económicos, estavam desejosas de apresentar uma imagem de modernidade”.

Era mais ou menos assim que começava o fascículo da mítica (quiçá já lendária) enciclopédia de aviação militar “Aviões de Guerra”.

E a verdade é que desse ponto de vista a Dassault acertou em cheio na mouche e os Mirage III venderam-se como pasteis de nata acabados de sair do forno.

No entanto, as linhas modernas do aparelho, não faziam contudo mais do que esconder uma aeronave medíocre em muitos aspectos.

Mas como muitas vezes a necessidade aguça o engenho, depois da Guerra dos seis dias, e do embargo decretado pela França à venda de material militar a Israel, este país viu-se obrigado a encontrar alternativas para um avião que apesar de vitorioso, tinha incontestáveis pontos fracos.

E foi assim que nasceu o Kfir, cujas semelhanças com o Mirage III não foram apenas mera coincidência. Os pontos fracos do avião francês foram corrigidos no seu irmão bastardo (nomeadamente com um novo motor, aviónicos modernizados e correcção aerodinâmica) sendo o resultado um caça-bombardeiro que continuaria a garantir vitórias às Forças Israelitas por quase duas décadas mais. As características conseguidas com esta aeronave refinada, despertaram até o interesse dos EUA, que a usaram nalguns dos seus “Aggressor Squadron” na década de 80.

Em finais dessa mesma década chegou até a falar-se na aquisição de Kfirs por parte de Portugal, numa altura em que os A-7P estavam já rodeados de polémica e se falava em possíveis substitutos.

Segundo constou na altura, pressões anti-semitas inviabilizaram o negócio, embora tudo não tenha passado de rumores, tanto a aquisição como as razões para a sua não concretização e ficando apenas como mais uma história, da qual poucas pessoas saberão realmente a verdade.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

MONTE REAL - JULHO DE 1988

Mirage III Belga - Foto: Alistair Bridges, via Airliners.net

A-7P (1)5506 - Foto: José Jorge, via Airliners.net

A história da minha "loucura" pelos aviões tem diversos capítulos.
Este passou-se algures em Julho de 1988 quando eu e o meu companheiro inseparável e "piloto" deste Pássaro de Ferro decidimos rumar a Monte Real, de Comboio, para poder ver os A-7P.
Ora, o dia estava quente. Bastante quente, diria! Coisa para uns 35 ou 36º C. Depois de uma manhã na Figueira da Foz, apanhámos a automotora para Monte Real, numa linha completamente a cair de podre e onde a composição abanava por todos os lados, numa vertigem máxima de 70 ou 80 Km/h nas melhores partes, envolvidos pelo cheiro típico do gasóleo.
Chegados à "estação" de Monte Real, com os tais 35 graus, rumámos a pé (as coisas que se faziam para ver os A-7P!...) para a base, passando pela vila de Monte Real. São uns valentes 6 ou 7 quilometros até à base.
A vontade era tanta que nem o calor nos demoveu. Chegados junto à base, instalámo-nos junto à vedação onde hoje é a Porta d'Armas, junto à então placa da 304.
A base estava mergulhada num silêncio atroz. Na placa apenas um Mirage III Belga e um glorioso A-7P, o 5506, ainda em branco nas superfícies inferiores.
O Paulo Mata tem registos fotográficos desse dia e logo que possível, apensarei uma foto do dia a esta história.
Pouco depois de ali estarmos, aterrou um C-130 belga que trazia um motor para o Mirage III, facto que testemunhámos bem de perto
Foi o único movimento que registámos...
Partimos com uma dor estranha. Não vimos nenhum A-7P a voar. Apenas o 5506 que permaneceu sempre quieto junto ao Mirage Belga.
Mais 6 ou 7 quilometros até à estação, debaixo de calor intenso e o Comboio de volta a Coimbra, na linha torta e com o cheiro a diesel.
Quase 20 anos depois, a memória não se apaga...
Sorri.

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