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Portugal comemora hoje o seu dia, com o cerimonial mais ou menos revisitado e requentado no tempo e no modo, a cada ano que passa.
Em bom rigor, a única renovação é consubstanciada apenas nos locais onde a “festa” acontece, na intenção da prática da unidade territorial.
Para lá dos habituais rituais do dia – discursos, condecorações e elogios à causa portuguesa – as Forças Armadas são sempre chamadas a participar e a mostrar-se, provavelmente porque são - ainda são - o cimento que contribui para que o país continue como tal, agregado e indivisível. São, quer se queira, quer não, a coluna vertebral do país e (também) representam por definição e ação, a assunção efetiva da estrutura e natureza do ser-se português.
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Contudo, as Forças Armadas emagrecem consecutivamente, por mais revistas às Forças em parada”, por mais elogios ao (seu) espírito de missão e por mais pontes que se façam entre isso e o português comum que vive “portuguesmente”, como sempre fez, por mais dinheiro que se atire ao éter do quotidiano e também sobre elas, sendo que, depois, tudo fica na mesma ou, como vem acontecendo, a sua prontidão e operacionalidade sejam postas em causa, de forma mais ou menos visível e mais ou menos pública.
Essa panegírica que sobre elas é lançada na ocasião, é sempre vinda da boca das instituições de poder e de decisão, que podem, sim, mas não tem decidido ou decidem nem sempre em critério coerente com a natureza das palavras que repetem, cerimónia após cerimónia, discurso após discurso, ano após ano.
As Forças Armadas operam com os recursos que tem, que lhes são atribuídos e não são, de resto, objeto de “salvação” e de aplicação em múltiplas camadas, de dinheiros públicos como outras instituições tidas como “representativas da portugalidade, agregadoras da diáspora, operadoras da continuidade territorial e identitária da nação”, etc.
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Nas comemorações do Dia de Portugal, quando se aplaudir a passagem de meios aéreos, o desfile de meios do exército ou os meios navais sobre as águas, vale a pena perguntarmo-nos em que circunstâncias ali estão, como ali continuam, ano após ano, mostrando-se ao país sorridentes e ativas no seu fácies, mas tristes e deprimidas no seu interior, por anos sucessivos de desinvestimento e desinteresse, vendo esvoaçar as palavras bonitas dos discursos que lhe são dirigidos, repetida e consecutivamente, sem que essas palavras já tão gastas de tanto utilizadas, por uma vez, pousem sobre si próprias e sobre o objeto a que se destinam e se tornem elemento diferenciador e ativo numa mudança que urge fazer.
A pergunta é legítima e surge inevitável: que Forças Armadas terá Portugal daqui a meia dúzia de anos?
Tomando, então, as Forças Armadas (também) como a coluna vertebral da nação, vale a pena recorrer ao “tradicional” Jorge Palma – tão usado na verborreia institucional e do poder – atirando com o certeiro e incontornável: “Não se pode andar direito quando se tem a espinha torta!”
Nota: Este texto de opinião vincula, apenas, o seu autor.