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sábado, 16 de abril de 2016

"OPERAÇÃO EL DORADO CANYON" - 30 anos depois - [M1837 - 17/2016]

Os F-111F em Lakenheath, descolaram rumo ao norte de África desferindo os ataques. Uma aeronave e os seus tripulantes foram abatidos.

Nos dias que presentemente percorremos, fecha-se um ciclo de três décadas sobre os ataques Norte-Americanos a alvos na Líbia, sobretudo na capital Tripoli e em Bengazi.
Em abril de 1986 e depois de mais uns quantos sarcasmos e rangeres de dentes de Kadafi e outras tantas ameaças terroristas, a administração republicana liderada por Ronald Reagan avança com ataques cirúrgicos em território Líbio. A gota de água que fez transbordar a paciência dos americanos foi o atentado a uma discoteca em Berlim, semanas antes, reivindicado por terroristas Líbios, alegadamente patrocinados pelo Coronel Kadafi. E como se estava ainda em Guerra Fria, estas movimentações faziam crescer nas sociedades uma parede de apreensões e medos face aos desequilíbrios que poderiam criar na confrontação latente entre os dois blocos.
A 15 de abril de 1986, aviões estacionados em porta-aviões no Mediterrâneo e partindo de bases em Inglaterra - nomeadamente os F-111F baseados em Lakenheath - desferiram um ataque que visou alvos estratégicos e militares, tendente a debilitar o alegado patrocínio do regime Líbio ao terrorismo.
Aliás, a Inglaterra e Margaret Thatcher eram os grandes aliados europeus dos EUA e alinharam, antes e depois destes acontecimentos, em diversas ações militares americanas, independentemente das diferentes administrações na Casa Branca - Reagan, Bush (pai), Clinton, Bush (filho) e agora Obama.
Volvidas estas três décadas, Kadafi não passa de uma recordação na história da Líbia - foi morto em 2011 pela "primavera" aí emergente e que deixou a Líbia naquilo que é hoje, uma manta de retalhos, mais ou menos sem "rei nem roque", situação agravada no presente por uma sangrenta guerra civil, um pouco à semelhança com o que acontece com a vizinhança, leia-se Tunísia e Egipto, todos brindados recentemente pela quase pomposamente designada "primavera árabe".

Os F-14 defenderam os céus e as aeronaves que efetuaram o ataque.

Entretanto, 30 anos depois, o terrorismo assentou praça nas nossas vidas e condiciona-a, dentro da própria Europa e dos EUA, em qualquer lado, a qualquer hora.
Se conjunturalmente os ataques a nações/regimes que patrocinam ou albergam o terrorismo e seus praticantes se justificam e são até caucionados pela sociedade - um pouco na onda do olho por olho, dente por dente - a prazo - que não é longo - revelam-se completamente inúteis uma vez que a senda terrorista sobrevive-lhe com total descaramento e acidez.

 Os A-6 Intruder participaram nos ataques.

Este patrocínio ocidental às primaveras árabes, recebido com hossanas e regozijos, não passou, na minha opinião, de uma fuga para a frente. Não resolveu nem resolverá coisa alguma, uma vez que a democracia que nos "governa" não é matéria do código genético de sociedades que vivem há muitos séculos sob a "espada" divina e seus preceitos, alguns deles absolutamente radicais e cuja mudança - mais ou menos patrocinada e com maior ou menor força - não mudará em meia dúzia de anos o que se enraizou há séculos.

Os A-7E Corsair II efetuaram também bombardeamentos em Tripoli e Bengazi.

Se as sociedades ocidentais quase "exigem" que se faça alguma coisa, pelo menos na sua maioria, no fundo também saberão que as ações armadas, com todo o sucesso que eventualmente tenham, não resolvem o problema fundamental e, em bom rigor, acabam por acicatar ainda mais o fundamentalismo e o ódio que fomentam o terror. A dúvida e a apreensão persistem por cima do fumo das explosões, tantos as terroristas, como as que se lhe seguem nos consabidos locais onde são cogitadas.
Concluindo, 30 anos volvidos sobre os ataques à Líbia - a operação "El Dorado Canyon" - o mundo continua esse lugar perigoso e, em alguns locais, absolutamente mal frequentado, levando-nos a uma espécie de corolário que ecoa nas nossas cabeças...
...A História nunca é suficientemente rápida para algumas das nossas necessidades.

Texto e edição: António Luís/Pássaro de Ferro


terça-feira, 12 de janeiro de 2016

A CORREIA DAS COREIAS (M1823 - 03/2016)

Os F-16C da Coreia do Sul são uma das pontas da lança da arma aérea daquele país.

O conflito latente
     ou dormente
entre as duas Coreias, a do Norte e a do Sul, já faz parte das dores 
     do ADN
do planeta. Já aprendemos a viver com ele e só estranhamos quando a "gritaria" por lá decide trepar a escala dos decibéis ou da tensão métrica.
A coisa já vem dos meados do século passado, quando uma guerra as separou e, de então para cá, não mais se juntaram.
Dos dois lados permanece uma espécie de "equilíbrio de terror" à escala local, devidamente vigiado pelas potencias interessadas no fiel da balança.
Há uma espécie de correia que liga ou desliga as Coreias, dependendo do ângulo tomado. Há muita coisa que as une
     a correia de ligação
há muita coisa que as separa
     a correia em riste como fator de medo comum.

Na imagem, observamos vetusto Mig-19 Norte Coreano devidamente guardado por dois soldados. 
O poder aéreo da Coreia do Norte peca por indefinido. Não se sabe se, quanto, o quê, como, qual... Ou sabe-se apenas o que interessa saber, ou o que se consegue saber. Certezas há poucas...

Pelo ar, sabemos dos poderes da do Sul, devidamente acompanhada do amigo americano. Já não sabemos tanto dos poderes da do Norte porque a cortina é demasiado opaca, a palavra ou as palavras são demasiado oficiais e 
     eventualmente
ilusórias para sobre elas se fazer mesa de avaliações de fé. Há apoios tácitos, mas que não se comprometem publicamente, sob pena da pressão global fazer das suas na contagem dos créditos.
O Pássaro de Ferro, aliás, já dedicou alguma atenção a este assunto, através desta edição que somou já vários milhares de visualizações e que, muito ou pouco discutível, muito ou pouco polémica, merece ser lida, sem complexos posicionais.
Aliás, a simples reação a este excelente trabalho do Francisco Duarte, só prova que a "correia das Coreias" é uma engrenagem, um ente de complexa compreensão, por mais claras que pareçam as coisas, quer de um lado, quer de outro.

Texto: ©AL/Pássaro de Ferro

domingo, 31 de março de 2013

QUANTO TEMPO DURARIA A FORÇA AÉREA NORTE-COREANA? - atualizado (M934 - 01FD/2013)


Recentemente as forças armadas dos Estados Unidos e da Coreia do Sul desenvolveram um exercício conjunto no território deste última país, a Operação Key Resolve, para gáudio do governo da Coreia do Norte. De um modo previsível, o agressivo executivo de Kim Jong-un, respondeu declarando que iria responder a qualquer provocação e que as acções dos seus inimigos seria justificações mais que suficientes para o recomeço do conflito terminado em 1953 e para o qual nunca houve uma declaração de paz formal. A passagem de bombardeiros pesados B-52 e B-2 pela região terá apenas espicaçado ainda mais os norte-coreanos.

Bombardeiro B-2       Foto: USAF
Os motivos por detrás das ameaças para com a Coreia do Sul e seus aliados são diversos. A Coreia do Norte é o regime mais fechado do mundo, possuidor do maior exército em comparação com o tamanho da população em existência. É também uma potência nuclear, embora a quantidade de ogivas atómicas disponíveis não seja elevado, tanto quanto se saiba. No entanto o modo como o país é governado e gerido cria uma situação incrivelmente delicada dentro do mesmo.
A fome é generalizada e as sanções colocadas sobre esta nação apenas acentuam a situação. Basicamente o regime de Pyongyang troca ameaças por comida e ajuda humanitária e já o faz há décadas. Há quem suspeite de lutas de poder amargas entre as chefias, com diversos generais a tentarem cair nas boas graças do líder ou a tentar sobrepujá-lo de todo. Em associação a tudo isso existe a noção de que o governo estaria, aos poucos a perder o controlo dracónico que tem sobre a população, à medida que a mesma começa a viver em condições cada vez mais desesperantes.
O líder norte-coreano Kim Jong-un       Foto: Agência Reuters
A somar a estes factores existe a República Popular da China (RPC). Este é único verdadeiro aliado que resta à Coreia do Norte, e tudo indica que usa Pyongyang como uma maneira de fazer pressão sobre os vizinhos e, através deles, os Estados Unidos. No entanto o modo cada vez mais errático como Pyongyang reage a provocações e gera as suas, inclusive a abdicação dos tratados existentes após a Key Resolve, parece começar a cansar os chineses. Se o comportamento norte-coreano é ou não parte de um plano maior da RPC para a região é algo que está para se ver. No entanto Kim Jong-un declarou que atacaria se se visse ameaçado e que “esmagaria” a oposição.
Façamos um pequeno exercício e imaginemos que perante todas estas situações a Coreia do Norte realmente entrava em guerra com a Coreia do Sul e seus aliados. Numa prespectiva puramente voltada para as forças aéreas, qual seria a performance esperada das tropas de Pyongyang?

Uma força aérea da Guerra Fria
Não vale a pena estar com ilusões, e por isso vou dar já uma resposta rápida: num confronto directo contra sul-coreanos, japoneses ou norte-americanos os pilotos norte-coreanos não teriam a menor hipótese. Façamos uma análise simples dos caças mais comuns entre a Força Aérea Popular da Coreia (FAPC) e seus adversários para confirmar isto.
A FAPC tem ao seus dispor aeronaves de combate que remontam aos tempos da Guerra Fira. E, em toda a honestidade, quase serve como um exemplo de como a indústria aeronáutica soviética evoluiu desde o fim da Guerra da Coreia. Os modelos mais comuns são o MiG-19 (na versão chinesa J-6) e o MiG-21, ambos aeronaves dos anos 50 com capacidades severamente limitadas quando comparadas com alguns dos modelos mais “regulamentares” existentes em diversas forças aéreas a nível mundial. 
MiG-21 norte-coreano       Foto: Agência Reuters
Os MiG-19 nem sequer possuem sistema de alerta radar pelo que seriam sumariamente eliminados sem sequer saberem que estavam a ser atacados. Os MiG-21 já são de modelo antigo, também. Apesar de se ponderar que existam mais de cem aeronaves de cada modelo em serviço, não se pode ter a certeza de quantas estarão em condições de combate. Tendo em conta as sanções e mesmo com o apoio chinês, as suas condições não serão extraordinárias.
Os aviões de combate mais sofisticados são o MiG-29B e o Su-25, pouco mais de 30 de cada modelo. Novamente, são aeronaves com capacidades limitadas, neste caso mesmo quando comparadas com outras dos mesmos modelos-base em serviço pelo mundo fora. Evidentemente que não deverão, nem poderão, ser subestimados, pois são operados pelas esquadras de elite da FAPC, mas a conclusão geral permanece válida.
Agora, comparemos estes caças com os mais comuns utilizados pelas forças aéreas que enfrentariam num conflito. Entre sul-coreanos e japoneses, os caças mais comuns são da família Boeing F-15 Eagle. Grandes bimotores capazes de elevadas velocidades e carga bélica, são também ágeis e possuem electrónica sofisticadíssima. Apesar de o projecto deste avião remontar aos anos 70, os que servem nestas nações asiáticas estão entre os mais avançados do mundo. Os F-15J japoneses estão ao nível dos F-15C americanos e foram actualizados recentemente. Os F-15K sul-coreanos, os Slam Eagle, são da categoria do avião de ataque F-15E americano e fenomenalmente capazes também. 
F-15K sul-coreanos       Foto: ROKAF
Se nos voltarmos para os americanos podemos ainda contar com os F/A-18 da Marinha, sobretudo dos modelos E e F Super Hornet. Das bases japonesas onde há presença americana podem ainda descolar os furtivos F-22 Raptor. Estes caças de quinta geração têm enfrentado problemas operacionais mas, mesmo assim, os seus sistemas de armas não teriam dificuldades em lidar com as ultrapassadas aeronaves norte-coreanas.
Dentro destes factos, como poderia a Coreia do Norte sequer conseguir ameaçar os seus adversários?

Táctica e estratégia
A melhor hipótese que os norte-coreanos teriam de contrariar a esmagadora superioridade inimiga, seria recorrerem a tácticas de emboscada. Isto significa atrair as aeronaves opositoras para áreas onde fogo antiaéreo e números superiores de caças poderiam sobrepujar as aeronaves mais avançadas e talvez abater umas quantas.
Novamente seria uma questão complicada, pois certamente que os sistemas avançados de comando e controlo dos americanos e seus aliados iriam contrariar estas tácticas. Mais ainda, o uso de armas stand-off também ajudaria a manter os caças mais sofisticados longe das zonas mais perigosas durante a maior parte do tempo. Mesmo que fossem forçados a aproximarem-se mais, não creio que as baixas fossem capazes de negar o seu uso.
Já a FAPC seria terrivelmente atingida nos primeiros dias de confronto e acredito que no final da primeira semana já não existiria como força de combate.
Resta, no entanto, uma possibilidade a Pyongyang: atrair a RPC para as acções.
A Força Aérea de Libertação Popular da China (FALPC) é muito maior e muito mais bem equipada do que a FAPC. Estando a sofrer neste momento uma reformulação generalizada para se colocar ao nível dos seus rivais ocidentais, a FALPC tem ao seu dispor modelos muito mais capazes, como o J-10 de desenvolvimento local e o J-11 (cópia local do Su-27 russo). Apesar de não estarem ao nível dos caças que iriam enfrentar, são no entanto ameaças muitos mais realistas do que as aeronaves norte-coreanas e disponíveis em números muito maiores.  
J-10 chinês       Foto: Flight Global
No entanto é duvidoso que a RPC quisesse entrar num confronto dessa magnitude neste momento. Se entrariam num confronto limitado com o Japão pelas ilhas de Seikaku é uma questão, mas entrarem num conflito total por Pyongyang não parece plausível.
Em conclusão, a Força Aérea norte-coreana representa bem as forças armadas desse país: numerosas mas desesperantemente desactualizadas. Apesar de certas situações poderem arrastar o executivo de Kim Jong-un para um conflito, a sua maior e mais ameaçadora arma é a bomba atómica.
Se a usar, no entanto, ficará totalmente isolado, e mesmo a China não poderá aceitar tal realidade, e afastar-se-ia, ou seria ela mesma arrastada para uma situação política inaceitável. Face a esta realidade as tropas norte-coreanas seriam arrasadas, em tempo.
Acima de tudo a política externa de Pyongyang sempre foi uma de suposta agressividade e muito ladrar para pouco morder. Nada indica que as recentes acções sejam diferentes. Se o forem, no entanto, e levarem ao confronto armado, então é pouco provável que o esforço militar norte-coreano dure muito tempo. 

Mapa: Cortesia Galcom

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