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BGM-109G Gryphon, o
“Xeque-mate” da NATO
O BGM-109G Gryphon
(“Glick-em” para os amigos) teve uma carreira operacional curta mas provou ser
um eficaz adversário face ao SS-20 Saber
Soviético. Conforme o Coronel Doug
Livingston, antigo comandante de umas das baterias, “foi uma das armas chave
que nos ajudaram a ganhar a Guerra Fria”.
Deste “caldo” diplomático surgiram duas opções tecnológicas que aproveitaram ao máximo sistemas já disponíveis e de rápida implementação. Vamos abordar o primeiro, o GLCM (Ground Launched Cruise Missile) ou, para usar o nome oficial, o BGM-109G Gryphon. Mas ninguém usava estas designações. Quando muito era conhecido como “Tomahawk Terrestre” ou, simplesmente, “Glick-em”. Ao contrário de um míssil balístico, como o SS-20, um míssil de cruzeiro mantém um perfil de voo atmosférico suportado pela sua propulsão e sustentação aerodinâmica. Foi uma solução muito experimentada nos anos 50 e 60 para o transporte de armas nucleares mas revelou-se demasiado desajeitada e pouco precisa. Mas nos anos 70 novas tecnologias prometiam revolucionar as capacidades dos mísseis de cruzeiro; pequenas e eficientes turbinas, avanços na electrónica de navegação e miniaturização das ogivas. Outras vantagens eram o baixo custo (comparado com mísseis balísticos) e a flexibilidade de lançamento. Por outro lado, a baixa velocidade (850-900km/h) significava um voo de 3 horas para atingir alvos perto do alcance máximo de 2600-2800km, o que diminuía a capacidade de “first-strike”.
O “Glick-em” em modo de voo; asas, entrada de ar (no ventre) e estabilizadores estendidos. Dois dos “segredos” desta arma eram a turbina (turbofan) F107 produzida pela Williams e a ogiva W84, 150-200Kt, duas obras-primas de engenharia e miniaturização. Atrás vemos o “booster”, que lançava o míssil para fora do contentor e era descartado em menos de 5 segundos.
Mas a extrema precisão, qualquer coisa como 30-60 metros, tornava-o altamente valioso e perigoso. O BGM-109 Tomahawk original foi pensado e desenvolvido para a US Navy no inicio dos anos 70, com modularidade e mobilidade em mente, para facilitar o armazenamento e disparo de navios e submarinos. Aliás, uma das sugestões iniciais envolvia basear mísseis Tomahawk a bordo de submarinos de ataque (SSN) no Mar do norte e Mediterrâneo como resposta ao poderio nuclear Soviético. Mas havia um problema. Os submarinos não eram suficientemente “visíveis”. Este era (e continua a ser) um aspecto importante do equilíbrio nuclear; por um lado deseja-se que os sistemas de armas tenham capacidade de sobrevivência - difíceis de detectar e destruir - mas, ao mesmo tempo, é também crucial que o inimigo saiba da existência dessas armas e das suas capacidades (reais ou apenas bluff!). É um elemento da dissuasão e de credibilidade da ameaça. Não é por acaso que os Russos faziam questão de demonstrar certas armas nos seus famosos desfiles militares.
O terceiro “segredo” do sucesso desta arma era o sistema de controlo e navegação TERCOM (Terrain Contour Matching), que actualiza o perfil de voo do INS com leituras do radioaltímetro em zonas pré-programadas. Em cada leitura o míssil compara com o perfil na memória e corrige qualquer erro e repete o processo até chegar ao alvo. Isto significa que a rota tem de ser previamente construída com imagens recolhidas por satélite ou aeronaves de reconhecimento. Também significa que o “Glick-em” não perde precisão com o passar do tempo e distância – importante para um míssil com um tempo de voo de 3 horas.
Adaptar o BGM-109 Tomahawk para o lançamento em terra seria relativamente fácil – ou assim se pensava. Os engenheiros da General Dynamics descobriram rapidamente que não bastava colocar os mísseis em cima de um atrelado e dar um rádio portátil ao motorista. Desenvolver o veículo transportador-lançador (TEL – Transporter Erector Launcher) e toda a estrutura associada aos sistemas de controlo e comunicações seguras foi mais moroso do que o imaginado. Mas o resultado final compensou largamente a demora. O excelente camião MAN escolhido para a tarefa, a pesar cerca de 35 toneladas, carregava 4 “Glick-em” protegidos numa estrutura de alumínio, com as asas, entrada de ar e “barbatanas” perfeitamente recolhidas – uma herança do Tomahawk ser projectado para ser disparado de tubos de torpedo padrão de 21 polegadas (533mm). Os TEL e veículos de apoio ficariam protegidos em bunkers específicos e, em alturas de maior tensão ou em exercício, dispersados para áreas previamente escolhidas (e bem camufladas) num raio de 80-100km da base. Cada bateria era composta por 4 camiões TEL (16 “Glick-em”), 2 veículos de controlo e comando no mesmo chassis (LCC – Launch Control Center), embora só um fosse necessário para designar alvos para toda a bateria, o segundo era uma reserva para emergências ou em caso de falha mecânica. Com veículos de apoio e segurança, a bateria totalizava 22 veículos e 69 homens. Uma força minúscula tendo em conta o poder de fogo que lhes era confiado; 16 ogivas W-84 com 150Kt cada - um total de 2,4 megatoneladas, ou 160 vezes o poder destrutivo largado sobre Hiroshima…
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