domingo, 30 de setembro de 2018

Era uma vez um piloto ... (M2001 - 61/2018)


Quem já me conhece sabe que sou um rapaz com fracos hábitos de leitura mas que, em abono da verdade, tenho vindo a fazer um esforço nos últimos anos por ler um pouco mais, e ler também, um pouco por fora da esfera da aeronáutica, quer porque ofereço a mim próprio livros e digo: ó murcônhe, lê lá isso! Ora também porque, aqui e ali, sou agraciado com presentes, como é o caso do livro que estou a ler: «Espíritos no céu», de Martin Caidin.
E sem vos contar a história toda, há que ler o livro, é um livro escrito por um piloto com muitas horas de voo em imensos tipos de avião, que reconta aqui histórias insólitas, todas elas incríveis, inexplicáveis, e sobretudo … histórias passadas numa espécie de TWILIGHT ZONE, no limiar de duas realidades, esta e “a outra”.
Partilho com vocês apenas uma delas, curta e, dentro do contexto, deliciosa.

«(…) Um dos jovens oficiais que trabalhava para mim nessa altura era o capitão Robert F. Tyler, que me contou a seguinte história:
-- Fui colocado nos F-100 no Reino Unido logo que obtive o brevet, e como todos os pilotos de caça, gostava de passar algum tempo nos bares ingleses. Uma noite, pouco antes do bar fechar, senti uma vontade irresistível de sair e de me dirigir a um cemitério local. Não compreendo porquê até hoje, porque não gosto de cemitérios, e especialmente porque nunca iria a algum à noite. Em todo o caso, tive que sair, e dei por mim a observar as lápides ao luar. De facto, havia sido arrastado para uma lápide em particular … que dizia … Tenente Robert F. Tyler, da RAF, abatido quando voava num Spitfire durante a Batalha de Inglaterra, em 15 de Setembro de 1940.
Nesta altura, Bob olhou para mim e disse: -- Meu general, não sei muito dessa coisa das “muitas vidas”, mas eu nasci em 15 de Setembro de 1940.»


Rui A-7 Ferreira
Entusiasta de aviação


Nota: Por opção própria, o autor não escreve sob o atual acordo ortográfico.


Post Scriptum - O livro tem algumas histórias de B-17’s e uma delas, com as necessárias diferenças, fez-me lembrar uma das Amazing Stories, contada pelo Stephen Spielberg,
The Mission https://vimeo.com/56670088

2 comentários:

  1. De imediato, lembrei-me de um conto de Frederick Forsyth (autor dos consagrados livros e filmes "O Dia do Chacal" e "Dossiê Odessa" e muitos outros) chamado "O Pastor". Que descreve a agonia e o desespero de um piloto da RAF, perdido no Mar do Norte quando em patrulha com caça "Vampire" num noite escura. Sem rádio e quase no fim do combustível, ele recebe a inesperada ajuda de um veterano avião da Segunda Guerra Mundial (a história passa-se 10 +- depois do fim da guerra),cujo piloto entendendo a pane de rádio dele gesticula-lhe sinais instando-o a acompanhá-lo!. O Veterano avião era um De Havilland Mosquito, caça bombardeiro bimotor de alto desempenho equipado como o lendário Spitfire com motores Merlin. Por fim, o bom samaritano o guiou através de um nevoeiro espesso, onde só era possível ver as luzes de navegação piscando do avião-guia à frente, até uma Base desativada da RAF onde pousou em segurança já com o motor apagado. Recepcionado pelo Guarda-campo, foi levado até o escritório da Base para telefonar a sua base de origem comunicando o fato. Logo depois inquiriu o guarda-campo a respeito do avião-guia, que disse não ter percebido a presença de outra aeronave além do jato, e que na região também desconhecia se haviam "Mosquitos" ainda operacionais a não ser numa remota base da Escócia, bem distante dali e que os usavam para sondagens meteorológicas. Sem dar importância maior ao fato, acompanhou o guarda-campo até a antiga sala de Briefing onde havia café, chá e biscoitos. Lá surpreendeu-se ao reconhecer num retrato de um Oficial em trajes de voo, típicos da segunda guerra, com aquele casquete de couro com óculos de proteção em cima, o piloto que o socorreu no "Mosquito". Então ele soube. O Guarda-campo veterano da segunda guerra, tinha servido com o oficial como parte da equipagem de apoio terrestre. Conhecia-o bem. Mas disse ao jovem piloto que era impossível ter sido ele. "Era conhecido como "O Pastor" Sir! Estava sempre disposto a voar a qualquer hora para buscar algum "desgarrado" perdido por aí que não conseguia encontrar a Base!" Voava de dia ou noite, tempo bom, tempo ruim! Para ele não tinha problema! Gostava do que fazia e salvou a vida de muitos! Mas, infelizmente foi assim que ele morreu! "Como?" Inquiriu o jovem piloto! "Saiu numa noite escura em direção ao Mar do Norte Sir" Foi tentar achar um piloto perdido e inexperiente! Foi em 1946, logo depois da guerra! Decolou como sempre e nunca mais voltou!

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  2. Caro Galvam, obrigado pelo comentário e pela partilha.
    Pois é, há imensas histórias deste género neste pequeno livro, e muitas haverá não só em outros livros como por contar...
    Calorosas Saudações Aeronáuticas
    Assinado: Rui Ferreira
    5513

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